
"Um berlinense de Leste, que aparece no posto de fronteira, no meio de uma multidão em júbilo. Pálido, tem vestido um blusão acolchoado e, da sua boca, eleva-se para o negro do céu uma fina coluna de vapor gelado. Tinha acabado de passar para o outro lado. Provavelmente, em toda a sua vida, nunca pusera os pés no Ocidente. Incrível. Unglaublich! Vê uma câmara de televisão, olha directamente para a objectiva e exclama: Freiheit! Depois, vai-se embora. Nesse instante, a palavra ‘liberdade’ – tão mal usada e despojada do seu sentido, recupera a força e a pureza originais." Para o historiador Timothy Garton Ash, é esta a imagem mais forte de 9 de Novembro de 1989. "A noite de 9 de Novembro não abriu apenas o caminho para a unificação da Alemanha mas também para a da Europa", acrescenta no The Guardian. "Alguns meses antes […], o Presidente George H. W. Bush tinha evocado uma ‘Europa inteira e livre’. Neste 9 de Novembro de 2009, estamos mais próximos desse objectivo do que a Europa alguma vez esteve, em toda a sua longa História."
E, como estamos na hora dos balanços, "o que é a Alemanha, vinte anos depois? Estará o país unificado?" interroga o Tagesspiegel. Sobretudo na aparência, responde o diário de Berlim: "as imagens de uma mulher de Leste (mas nascida em Hamburgo) que é Chanceler, de um homossexual que é ministro dos Negócios Estrangeiros, de um Governo que inclui um deficiente e um imigrante escondem os factos de não haver nenhum chefe de Gabinete originário do Leste, de não se encontrar uma ‘Universidade de excelência’ nos novos Länder (afinal, não tão novos como isso) e de nenhum clube de futebol do Leste pertencer à primeira liga. A Alemanha é sem dúvida mais livre mas também mais controlada do que nunca", considera o Tagesspiegel. "Tem mais confiança em si mas, por vezes, mostra-se histérica. Resumindo, perdeu a sua virtude mais apreciada no estrangeiro: o zelo."


A prova é a ausência notada de Barack Obama nas comemorações. "A ausência do Presidente americano é um dos seus maiores erros, ultrapassando de longe a total falta de inspiração e de tacto que levou ao anúncio da suspensão do escudo anti-míssil, em 17 de Setembro, a coincidir com o 70º aniversário da invasão da Polónia pelos soviéticos", salienta o historiador Adrian Cioroianu, no Adevărul.

Tal como Barack Obama, "muitos alemães vão ficar em casa esta noite, alguns porque consideram que a noite de 9 de Novembro de 1989 deve ser tema de reflexão privada, outros porque, antes da queda do Muro, consideravam que o 9 de Novembro era um dia de luto e de contrição. Com efeito, em 9 de Novembro de 1938, os nazis realizaram o massacre conhecido como a Noite de Cristal, durante o qual 1 400 sinagogas e locais de oração foram incendiados e centenas de judeus assassinados". Esse "dia do destino alemão", como lhe chama o Times, coincide também coma instauração da República de Weimar (1918) e com o golpe fracassado de Hitler (1923), salienta o Hospodářské Noviny. É por isso que, explica este diário checo, "no clima de euforia que se seguiu à queda do Muro de Berlim, o dia 9 de Novembro foi proclamado feriado nacional. Mas, afinal, foi a data formal da unificação, 3 de Outubro de 1990, que foi escolhido como ‘Dia da Unidade Alemã’".








