A crise pôs a Europa num estado incrível. Se houvesse uma palavra para descrever a União, hoje, seria “esquartejada”. Alguns países querem salvar os parceiros sobre-endividados, a qualquer preço, outros recusam-no categoricamente. Alguns querem manter o euro, outros querem regressar às moedas nacionais. Num ano, tudo se alterou.
Altos diplomatas polacos colocados em Bruxelas fazem jus à sua função, quando lhes perguntamos, diante de uma cerveja, se os seus compatriotas ainda querem a moeda única.
A maior parte solta um suspiro. “Pois, o euro”, está em crise, pois é. Não importa. Isso não muda a vontade de Varsóvia de trocar os seus zlotys pela moeda europeia. Mas quando? É uma questão que permanece em aberto. Segue-se uma piscadela de olho diplomática. Antes, é necessário ver se os planos de emergência são suficientes e se os países conseguem re-embolsar as suas colossais dívidas. Claro que, nas últimas semanas, foi um alívio não se ser membro da zona euro, mas é compreensível, não é?
As propostas franco-alemãs insípidas
Os polacos têm o mesmo sentimento em relação ao euro que muitos chefes de Governo europeus em relação às propostas alemãs para sair da crise: estão divididos. Entre a rejeição total e o apoio absoluto, a maior parte dos Estados-membros tergiversa, explica um alto diplomata de um pequeno país. Sim, os alemães têm frequentemente razão nessa matéria. Mas nem sempre se quer continuar colado às saias de Berlim. Nem de Paris. “Não temos qualquer apetência pelas propostas franco-alemãs”, confirma um alto diplomata de um grande país.
As hesitações dos chefes de Governo apenas fazem aumentar esta ambivalência. Nicolas Sarkozy queria convencer os parceiros a emprestar vários milhares de milhões de euros mais, antes do final do ano. Esse dinheiro devia criar um “choque de crescimento” e impulsionar a Europa para fora da crise. Pouco tempo e dois pacotes de emergência depois, o empreendedor francês parece não ser mais do que a sombra de Angela Merkel.
Entre os novos hesitantes figura, atualmente, o primeiro-ministro luxemburguês, Jean-Claude Juncker. Com grande insistência nas suas intervenções, tentou convencer os parceiros a financiar uma parte das dívidas de empréstimos comuns, sem grande sucesso. Após a recusa clara e nítida de Paris e Berlim, os empréstimos comuns não estão na ordem de trabalhos da cimeira europeia.
Com as suas declarações, o guardião designado do euro apenas aumenta a confusão em torno da moeda única. Além de irritar alguns dos seus camaradas, que deixam entender de onde viria a ideia dos empréstimos comuns. Dizem eles que, na fábrica de conceitos de Bruxelas e da Comissão Europeia, há funcionários e economistas contratados que procuram conduzir os países europeus a uma união cada vez mais estreita.
Qualquer coisa de bizarro no comportamento dos chefes de Estado
Grande parte deles é procedente dos países fundadores da Europa. Queriam agora definir normas económicas e sociais comuns. O recuo nacionalista que se observa em numerosos países veio, contudo, contrariar o seu projeto. É por isso que os comissários europeus evitam falar no tema oficialmente.
Para compreender que as hesitações dos políticos não ajudam em nada a resolver esta crise, basta ver a reação das Bolsas e dos decisores financeiros. Estes interessam-se muito moderadamente pela agitação de Bruxelas e continuam a apostar contra o euro. Mesmo em cima da cimeira europeia, as agências de notação ameaçaram reduzir a pontuação de outros países pesadamente endividados [a Espanha e a Bélgica].
E assim, os chefes de Estado e de Governo tentam fazer passar as suas reuniões por simples conferências de trabalho. Em Berlim, fala-se de “cimeira perfeitamente normal”. Há, no entanto, algo estranho no seu comportamento. Até o patrão do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, foi convocado, o que é pouco comum. Já esteve presente na cimeira extraordinária de maio passado, a propósito da crise grega. Dois dias depois, a União Europeia adotava um plano de estabilização de 750 mil milhões de euros.
Conselho Europeu
Euro-obrigações ou uma simples revisão de Lisboa?
O Conselho Europeu de 16 e 17 de dezembro “arrisca a ser a reunião da discórdia”, escreve o Libération, que afirma que as euro-obrigações dividem a UE em duas. “De um lado, com aqueles que disseram não ao projeto de euro-obrigações (Alemanha e França à cabeça da lista) e, de outro, o Luxemburgo, a Itália, a Bélgica, a Espanha, Portugal e Grécia.”
Com as euro-obrigações, explica o diário, “a União emitiria, em seu nome, títulos da dívida pública, como faz atualmente o Tesouro norte-americano. Um meio que permitiria, defendem os seus promotores, substituir-se a um Estado incapaz de financiar o seu orçamento nos mercados com taxas de juro aceitáveis, como aconteceu com a Grécia e com a Irlanda. A agência europeia da dívida, proposta por Juncker e pelo ministro italiano das Finanças (Giulio Tremonti), teria a ambição de poder emitir euro-obrigações num montante de 40% do PIB da UE (11 970 mil milhões de euros)”.
Mas, oficialmente, lembra Les Echos, o Conselho deve apenas abordar um assunto: “a revisão do Tratado de Lisboa, inicialmente reclamada pela Alemanha, que permitirá a criação de um mecanismo permanente de estabilidade financeira na zona euro”. O jornal escreve que “já nenhum Estado se opõe à revisão do Tratado, desde que seja mínima. Todos perceberam: trata-se de dar à chanceler alemã, Angela Merkel, uma base jurídica que lhe permita justificar a participação da Alemanha no apoio à zona euro perante o seu arrogante Tribunal Constitucional”.