
A pressão constante dos mercados contra as dívidas espanhola e italiana aponta contra a sobrevivência da zona euro, que está praticamente à deriva, por ainda não dispor dos recursos políticos necessários para conjurar a especulação contra as dívidas nacionais

O mês de agosto vai ser uma dura prova para Espanha e para Itália. Os investidores não valorizaram a antecipação das eleições porque é um elemento marginal comparado com os fatores económicos mencionados, como a raquítica capacidade de crescimento (com sorte, este ano o PIB espanhol conseguirá aumentar 0,7%), a estagnação da economia mundial (evidente no caso dos Estados Unidos) e a péssima gestão política da crise na Europa.
Peste ou cólera

A margem de manobra do governo espanhol oscila entre o mau e o pior. Se o prémio de risco não baixar, o custo crescente do serviço da dívida devorará qualquer margem de manobra de política pública. A recuperação já é difícil com um diferencial da dívida superior aos 100 pontos base; com 400, é impossível sair da estagnação, criar emprego e baixar o desemprego de maneira significativa.

Os dados estão lançados. E, perante o fracasso das fórmulas mais ortodoxas, é necessário procurar novos caminhos, como uma atuação decidida e imediata do BCE (compra maciça de dívida espanhola e italiana) e a aceitação de uma dívida europeia que substitua as dívidas nacionais.
Zona Euro
Não haverá remédio tão cedo
Perante a possibilidade de a crise na zona euro se espalhar a Espanha, Itália e Chipre, “os governos da zona euro aceleraram os esforços de constituição de um fundo de resgate de 440 mil milhões de euros”,escreve o Financial Times. A 21 de julho, “concordaram em dotar o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira da capacidade de readquirir, nos mercados abertos, os títulos dos governos atingidos, concedendo-lhes linhas de crédito a curto prazo e liquidez para ajudar a recapitalizar os bancos em dificuldades”. Com os prémios de risco de Espanha e Itália a subirem, “a possibilidade de recomprar títulos espanhóis e italianos a preços vantajosos seria uma maneira de ajudar a estabilizar os mercados”.
“No entanto, os diplomatas e funcionários europeus sabem que levará semanas – meses, muito provavelmente – até que os novos poderes do FEEF possam ser postos em prática”, escreve o FT, acrescentando que há funcionários da zona euro a acelerarem o seu trabalho para produzirem um documento preliminar. O texto final terá, depois, de ser “assinado pelos 17 governos da zona euro, e ser submetido a um processo de ratificação que inclui, na maioria desses países, uma aprovação parlamentar”.