“Herman, pelo menos tens de dizer que à volta desta mesa nem toda a gente é dessa opinião!” Foi nestes termos, noticiados pelo Spiegel, que Angela Merkel explodiu na passada quarta-feira na cimeira informal em Bruxelas face ao presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy. Este último tinha acabado de dizer que não há mais “tabus” na estratégia económica da UE e que “irá analisar igualmente a questão das eurobonds” rejeitada pela Alemanha.
A chanceler, confrontada com uma resistência inédita à sua política de austeridade no seio da União Europeia, prepara a reação à “estratégia de crescimento” do seu principal opositor, o Presidente francês, François Hollande. O semanário alemão dá conta de um projeto de seis pontos que circula atualmente em Berlim e que se destina a ajudar a Europa tornando-a... mais germânica: inspirando-se, simultaneamente, nas reformas realizadas na ex-RDA depois da reunificação e no vasto programa de flexibilização de emprego, conhecido por “agenda 2010”, a chanceler quer salvar o euro com reformas estruturais:
Merkel quer programas que favoreçam a criação de pequenas e médias empresas como aconteceu na Alemanha. [...] Os Estados europeus atingidos por um significativo nível de desemprego devem reformar o seu mercado de trabalho segundo o modelo alemão. Deste modo, pode flexibilizar-se a proteção contra o despedimento e introduzir-se contratos de trabalho de remunerações baixas, mais leves em termos de encargos da entidade patronal, e reforçar a formação em alternância. [Nos países do Sul, onde há inúmeras empresas que beneficiam de proteção estatal], devem criar-se fundos para as privatizar, como aconteceu na ex-RDA. [...] Para além disso, os conselheiros de Angela Merkel preveem zonas económicas especiais, à semelhança da que foi criada pela ascensão da China. Enfim, os Estados da Europa do Sul devem investir nas energias renováveis, reduzir os obstáculos fiscais e favorecer a mobilidade dos trabalhadores.