Aspecto do parque de estacionamento do supermercado Tesco em Mosonmagyaróvár, Hungria. Foto de Oto de Miso – DR

A guerra dos preços

Os eslovacos vão cada vez mais às compras nos países vizinhos. Isto porque aí econtram os produtos de consumo corrente bastante mais baratos. Que explicação para este novo turismo económico? A adesão ao euro não explica tudo, como destaca o jornal checo.

Publicado em 22 Maio 2009
Aspecto do parque de estacionamento do supermercado Tesco em Mosonmagyaróvár, Hungria. Foto de Oto de Miso – DR

HÁ muitos anos que a cidade termal húngara de Mosonmagyaróvár vive sobretudo dos turistas austríacos que lá se deslocam a partir de Viena, cidade que fica muito próxima, para aproveitarem as suas águas termais e os seus dentistas mais acessíveis. Mas nos últimos meses surgiu um outro ponto de interesse – o hipermercado Tesco, na periferia da cidade.

E uma nova clientela chegou. Estamos numa tarde de sexta-feira, o estacionamento em frente do Tesco está saturado de carros com matrícula de Bratislava, cidade situada a uns escassos 20 quilómetros. A língua eslovaca ouve-se um pouco por toda a parte. No interior da loja, as famílias passeiam vagarosamente entre as secções. Olham os preços, fazem febrilmente a conversão do forint para o euro e enchem os carrinhos de compras. Com efeito, quase todos os produtos, desde os televisores aos detergentes, passando pelo calçado, o café, a manteiga, o queijo ou mesmo o vinho engarrafado, custam em média menos 20% do que na Eslováquia. E os caixas húngaros dizem-lhes com um sorriso: "É claro que pode pagar em euros".

O mesmo se passa ao longo da fronteira eslovaca, no que respeita aos húngaros, aos polacos e por vezes aos checos. Para muitos, a situação é clara: enquanto que os eslovacos adoptaram o euro e os preços locais ficaram praticamente inalterados, os mesmos produtos nos países fronteiriços estão agora muito menos caros devido à depreciação do zloty polaco, do forint húngaro e da coroa checa. Mas a situação poderia ser totalmente diferente.

É verdade que a abertura das fronteiras e o facto da maioria dos eslovacos viverem precisamente nas regiões fronteiriças contribuem para esta imensa vaga de turismo comercial. Segundo diversas sondagens de opinião, a introdução do euro satisfaz cada vez mais os consumidores eslovacos, mas os comerciantes não estão contentes. No primeiro trimestre deste ano, viram os seus lucros baixar quase 7 por cento.

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A princípio, as grandes superfícies constataram sem reagir a fuga dos seus clientes para além fronteiras. Mas a situação tornou-se para elas economicamente insustentável e há dois meses decidiram lançar-se numa guerra de preços. Baixaram os preços drasticamente – em alguns casos até quase aos 10 por cento – principalmente os dos alimentos base. E fazem publicidade nos jornais, comparando os preços que praticam com os dos concorrentes estabelecidos nos países vizinhos.

Uma das soluções que poderia impedir o turismo comercial seria diminuir o IVA sobre os produtos alimentares (com algumas excepções, existe na Eslováquia uma taxa de IVA única de 19%), mas o primeiro-ministro recusa a descida do imposto, argumentando que com essa perda de receitas os cofres do Estado encolheriam ainda mais, num momento em que se fazem sentir os efeitos da crise económica (durante os quatro primeiros meses, as receitas do Estado diminuíram quase 12 por cento comparativamente ao mesmo período de 2008, e as receitas do IVA baixaram um terço).

Nos meios de informação, a questão de se saber se, na actual situação de crise económica, o país não estaria a pagar as consequências de uma sobrevalorização da coroa eslovaca (30,126 Sk por um euro) no momento da adopção do euro, tornou-se naturalmente tema de polémica. O vice-governador do banco nacional eslovaco, Martin Barto, salientou que tendo em conta que a maioria dos produtos que os eslovacos compram, por exemplo na Hungria, é igualmente importada, a diferença de preços se explica sobretudo pelas diferentes políticas que esses países têm em relação às grandes superfícies. Segundo ele, se os consumidores eslovacos «votam com os pés», é também porque lhes falta na Eslováquia as lojas de dimensão média, geralmente muito mais flexíveis em matéria de preços praticados. Para ele, seria de facto o conjunto da economia eslovaca, dependente quase inteiramente das muito grandes empresas de automóveis ou siderúrgicas, que sofreria de uma falta de empresas de média dimensão.

É realmente possível que a relação entre o facto dos produtos de consumo serem menos elevados no estrangeiro e o euro não seja tão estreita como parece à primeira vista. Os comerciantes adaptam o preço dos seus produtos, tomando em consideração não apenas a força da moeda mas também o poder de compra de cada país. Segundo uma sondagem da agência GfK, o poder de compra na Eslováquia aumentou 20% e ultrapassou significativamente o poder de compra dos húngaros e dos polacos (encontra-se logo atrás dos checos).

Dito isto, como explicar que na Áustria, onde o poder de compra é três vezes mais elevado do que na Eslováquia e onde a moeda é igualmente o euro, os preços sejam geralmente idênticos e mesmo por vezes mais baixos? O facto dos austríacos terem podido provocar, simplesmente pelo seu comportamento de consumidores, uma baixa dos preços é sem dúvida um elemento de resposta.

A verdade é que em Hainburg, pequena cidade austríaca situada a cerca de 15 quilómetros de Bratislava, se pode ver no exterior do hipermercado Billa um parque de estacionamento cheio de carros com matrícula de Bratislava, tal como é o caso de Mosonmagyaróvár.

No princípio de Maio, as grandes superfícies anunciaram orgulhosamente que a baixa de preços provocou o regresso dos clientes à Eslováquia. Se isso for verdade, então o euro não será certamente o principal culpado do turismo comercial.

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