A cidade verde vai ter de esperar

Os habitantes de Talin não utilizam mais do que antes os transportes públicos, apesar de estes serem gratuitos desde 1 de janeiro. Esta experiência social e ecológica é prejudicada pela falta de antecipação das necessidades dos utentes.

Publicado em 12 Novembro 2013 às 12:24

A comparação do funcionamento dos transportes públicos em Talin e em Tartu [a segunda cidade da Estónia] permite tirar algumas conclusões sobre as mudanças de hábitos.

Em primeiro lugar, percebe-se que o preço não é o único critério de utilização dos transportes públicos. Em seguida, observa-se que a escolha do meio de transporte também depende dos hábitos anteriores de cada um. O preço tem um impacto mais significativo entre aqueles que, habitualmente, se deslocavam a pé. A qualidade dos transportes públicos é um fator decisivo entre aqueles que preferiam o automóvel.

Em Talin, as preferências das pessoas que andam de carro foram mal avaliadas. Um dos argumentos (se pusermos de lado o populismo) que mais pesou sobre a instauração de transportes públicos gratuitos foi o de fazer da capital uma cidade verde: menos automóveis significam menos poluição atmosférica e menos ruído. Não foi isso que aconteceu. Segundo o Centro de Investigação sobre os Transportes, do Instituto Real de Tecnologia da Suécia, a existência de transportes públicos gratuitos em Talin apenas veio aumentar o número de passageiros em 1,2%, não induzindo portanto qualquer aumento significativo.

Viaturas não diminuiram

Talin é tão diferente de outras cidades de outros países devido ao facto de, ali, os transportes públicos serem já mais baratos anteriormente, e também devido ao facto de ali haver já um número bastante mais elevado de utilizadores desse tipo de transportes. Os transportes gratuitos contribuíram apenas para travar a diminuição constante do número de passageiros.

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Talvez haja outras razões. No início deste ano, em declarações ao Postimees, o professor Dago Antov, da Universidade Tecnológica de Talin, referiu a existência de três fatores que influenciam a decisão dos utilizadores. O primeiro era o tempo que demora a fazer um determinado percurso. Os dois outros eram o custo e tudo o que a palavra “qualidade” pode abranger: ou seja, se o autocarro ou o elétrico transporta pessoas a mais, como são os outros passageiros, se o condutor é bem-educado, etc.

Resumindo: [[o custo só é fundamental para as pessoas de baixos rendimentos e o tempo e a qualidade são fatores determinantes para as pessoas com rendimentos mais elevados]]. Uma vez que os automobilistas se incluem sobretudo neste último grupo, compreende-se em parte o motivo pelo qual os transportes públicos gratuitos não fizeram diminuir o número de viaturas.

Lentos e de fraca qualidade

Outros fatores impediram a redução do número de automobilistas. O mais significativo é sem dúvida o facto de os transportes públicos só serem gratuitos para pessoas inscritas como residentes na cidade de Talin. Os habitantes dos municípios próximos da capital [que se deslocam até ali, para trabalhar], que constituem o grosso daqueles que utilizam o carro, não tinham qualquer motivação para mudar os seus hábitos. Ficou comprovado que as pessoas não se comportam segundo as expectativas da cidade, mas em conformidade com o que é melhor para elas.

No início de 2012, Hannes Luts, da Universidade Tecnológica de Munique, escrevia neste jornal que, enquanto os transportes públicos continuarem a ser um serviço lento e de fraca qualidade, as pessoas não os utilizarão, mesmo que sejam gratuitos. Foi, em grande parte, o que aconteceu em Talin.

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