A Terra vista da sonda espacial Apolo (Image : NASA)

A conquista do espaço também é verde

Dos EUA à China, as grandes potências estão à beira de uma nova etapa da exploração do sistema solar – e, desta vez, com o apoio dos ambientalistas.

Publicado em 21 Julho 2009
A Terra vista da sonda espacial Apolo (Image : NASA)

Quarenta anos depois da chegada do primeiro homem à Lua, nunca tantos seres humanos tinham entrado em órbita na mesma nave espacial como este fim-de-semana. Em 1969, três homens acotovelavam-se no pequeno módulo de comando da Apolo 11, uma nave pouco maior do que um Mini. Ontem, a Estação Espacial Internacional, actualmente com o aspecto de um edifício de quatro andares que se desloca a uma velocidade de 27.350 km/h, acolheu a bordo o vaivém espacial Endeavour. Esta nave gira à volta da Terra, 15 vezes por dia, a 350 km de altitude, com 12 homens – sete americanos, dois russos, dois canadianos, um japonês – e uma mulher – belga – a bordo.

O trabalho desta equipa multinacional, que prevê entrar em órbita cinco vezes, é mais um pequeno passo do Homem para entrar nos confins do planeta. Mas um passo ainda maior será dado para o mês que vem. O presidente Barack Obama irá ouvir um painel de especialistas sobre a possibilidade de os Estados Unidos se lançarem num programa espacial para o século XXI que os leve de novo à Lua, e mesmo aventurar-se mais além, nos asteróides próximos da órbita terrestre, e em Marte.

A decisão do Presidente norte-americano poderá relançar uma corrida espacial com a China mais feroz do que a rivalidade que, nos anos 60, opôs os Estados Unidos à então União Soviética. Embora sem grande peso na Estação Espacial, Pequim prepara-se para avançar sozinha, declarando a sua intenção de chegar à Lua até 2020. Em Setembro de 2008, a missão espacial chinesa Shenzhou 7 fez do país a terceira potência mundial a chegar ao espaço. A Rússia também está empenhada a fundo, pela primeira vez na era pós-soviética, no desenvolvimento da sua capacidade espacial. Engenheiros russos já passaram 105 dias de isolamento numa nave espacial prototipada a testar as tensões que poderão ocorrer durante a viagem de 275 milhões de quilómetros a Marte.

O astronauta veterano Buzz Aldrin, o segundo homem a pisar a Lua, disse ontem à Fox News que a América poderia apoiar os seus parceiros internacionais a explorar a Lua e, desse modo, aplicar mais recursos ao desenvolvimento dos seus próprios voos espaciais. Assim que houver uma base internacional na Lua e uma tecnologia de reabastecimento no espaço, disse, os Estados Unidos deviam começar a mandar astronautas para o espaço longínquo para poderem visitar o asteróide Apophis à sua passagem pela órbita da Terra, em 2021. Depois disso, existe a possibilidade de uma base temporária em Phobos, uma das luas de Marte. "Por essa altura, estaremos preparados para enviar astronautas a Marte, em viagens cada vez mais prolongadas", afirmou Buzz Aldrin.

Newsletter em português

Mas tudo indica que a China também lá irá estar – a Yinghuo 1, a primeira sonda chinesa a aterrar em Marte – entra na órbita deste planeta em 2010 para poder estudar as "alterações ambientais". E há também as ambições espaciais da Índia e do Japão, para além da concorrência entre empresas privadas pela exploração dos voos espaciais comerciais. A Virgin Galactic de Richard Branson e a XCOR Aerospace rivalizam entre si pelo lançamento dos primeiros voos sub-orbitais. Segundo Branson, as naves espaciais Virgin Galactic estarão prontas em Dezembro de 2009 e "quase não poluentes". Os primeiros passageiros a pagar irão viajar em 2011.

Mas no aniversário do pequeno mas histórico passo de Neil Armstrong, a questão que se coloca é se se justificam as aventuras à escala espacial perante os problemas que existem no planeta Terra. Será que o entusiasmo por estas explorações se compadece com os problemas do ambiente, da pobreza e das doenças?

James Lovelock, o cientista britânico que inventou a Teoria de Gaia, apoia incondicionalmente as viagens ao espaço. “A própria noção de Gaia resulta das viagens espaciais. Estou em crer que todos os ambientalistas que se opõem à aventura espacial não revelam o mínimo de imaginação. Aquela linda e inspiradora imagem do planeta que nos foi dada do espaço tem seguramente um valor inestimável para o movimento ecologista.”

Quanto mais conhecermos Marte”, refere, “mais ficaremos a saber sobre o nosso planeta. Porque as viagens de exploração coroadas de aventuras são profundamente inspiradoras para o ser humano. E sem as viagens espaciais nunca teríamos tido telemóveis, internet e os boletins meteorológicos que hoje temos”.

OPINIÃO

Presidente da Câmara de Londres "chora por Marte

Nunca iremos conquistar o Planeta Vermelho”, lamenta o presidente da Câmara de Londres, Boris Johnson, colaborador habitual do Daily Telegraph . “Com tanta tecnologia e dinheiro, o Homo Sapiens vai chumbar no próximo rande teste. 40 anos depois terem chegado à Lua”, argumenta, “os homens não têm coragem para correr riscos”.

Johnson fica maravilhado com as naves espaciais de 1969 pela sua “absurda fragilidade lunar”. O maior feito da humanidade - “pôr uma pessoa em pé na superfície de um corpo celestial outrora idolatrado” - foi possível pela feliz conjugação de três factores: cientistas espaciais da Alemanha nazi; desejo americano de mostrar à então União Soviética as conquistas de uma democracia capitalista; bravura dos astronautas. Com sextantes, réguas de cálculo e “pedacitos de papel para navegar no espaço”, a Eagle pousou na Lua segundos antes de ficar sem combustível, numa missão “tão arriscada que hoje teria sido proibida”, queixa-se Johnson. “Não haveria uma única seguradora que a quisesse.” Estranguladas pelas normas de higiene e segurança, as naves espaciais “nem teriam levantado voo”. A tragédia do nosso tempo, conclui, “é a civilização ocidental, mergulhada num mundo de leis, ter 100 vezes mais fobias e paranóias do que a geração que chegou à Lua”.

É uma organização jornalística, uma empresa, uma associação ou uma fundação? Consulte os nossos serviços editoriais e de tradução por medida.

Apoie o jornalismo europeu independente.

A democracia europeia precisa de meios de comunicação social independentes. O Voxeurop precisa de si. Junte-se à nossa comunidade!

Sobre o mesmo tópico