A cruzada anticigana da Jobbik

Os extremistas de direita húngaros (na foto) obtiveram quase 15% dos votos e três lugares nas recentes eleições para o Parlamento Europeu. A Jobbik (Aliança dos Jovens de Direita - Movimento para uma Hungria melhor) tem assim apenas menos um lugar do que os socialistas, no poder em Budapeste. Ora, durante a campanha eleitoral, a Jobbik limitou-se a uma retórica anticigana agressiva e uma crítica contínua ao Governo

Publicado em 15 Junho 2009 às 17:02

À primeira vista, Krisztina Morvai, eurodeputada húngara recentemente eleita, é o modelo de uma política bem sucedida. Bonita, loura e culta, consegue conciliar vida familiar (tem três filhos) e carreira política. Mas as suas tomadas de posição não fazem dela a mulher perfeita. Outrora empenhada na defesa dos direitos das mulheres, foi alterando progressivamente o seu vocabulário e as suas opinião políticas, tendo-se apresentado-se nestas eleições europeias como cabeça de lista da Jobbik, um partido conhecido pela sua campanha agressiva contra os ciganos.

"A Hungria pertence aos húngaros. A Jobbik transforma as palavras em acções", afirmava imediatamente antes das eleições o chefe do partido, Gabor Vona. É à Guarda Húngara, uma milícia ligada à Jobbik, que cabe a execução das acções concretas. Os seus membros desfilam com uniformes que recordam os dos fascistas húngaros da década de 1940 e organizam manifestações contra os ciganos.

A Jobbik e a Guarda Húngara acusam os ciganos de serem responsáveis pela descida do nível de vida dos húngaros, isto numa altura em que a crise económica é particularmente severa. O sociólogo húngaro Zoltan Pogatsa descreve assim o programa anticiganos da Jobbik: “Dizem às pessoas: vejam, nós sofremos a crise e eles recebem ajudas sociais atribuídas pelo Estado. Ora, esse dinheiro podia ser gasto de uma maneira melhor”.

A polícia suspeita que membros da Guarda Húngara, recentemente declarada ilegal pelos tribunais, tenham cometido alguns dos numerosos assassínios de ciganos. As próprias forças da ordem são postas em causa devido à sua inacção. Em 23 de Fevereiro passado, na aldeia cigana de Tatarszentgyörgy, imediatamente depois meia-noite, um desconhecido lançou um cocktail-molotov sobre uma casa. No momento em que os habitantes tentaram fugir, o agressor disparou sobre eles, matando o chefe da família e um filho de quatro anos. Só desde Novembro passado, cinco ciganos foram assassinados desta forma. Todas as semanas há registo de novas agressões cometidas contra aldeias ciganas. A polícia admitiu que estes ataques são organizados pela Guarda Húngara. Quanto à nova eurodeputada do partido Jobbik, Krisztina Morvai, deixou entender, antes das eleições, que os ciganos se estão a matar uns aos outros, na Hungria.

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Três organizações independentes trabalharam no inquérito aos assassínios de Tatarszentgyörgy. Inicialmente, a polícia recusou-se a levantar o auto dessas ocorrências, afirmando que se tratara apenas de um acidente. O relatório sugere que a polícia teria mesmo prejudicado o inquérito. O racismo entre os polícias foi confirmado pela direcção da própria instituição. O chefe da polícia húngara, Jozsef Bencz, admitiu recentemente que os criminosos talvez pertençam à polícia ou ao exército, o que poderia explicar o carácter “profissional” deste tipo de assassínios.

Os ciganos nunca tiveram uma vida fácil na Hungria, onde representam cerca de 10% da população. Mas devido a uma taxa de natalidade elevada, podem ser 20% até 2050, de acordo com as previsões governamentais. O partido Jobbik explora abundantemente estes números. Os seus representantes abordam a possibilidade de deslocação dos ciganos para fora das fronteiras húngaras. Uma parte dos húngaros vê os ciganos como criminosos (calcula-se que perto de metade dos prisioneiros húngaros sejam de origem cigana). E mais de metade da população, apesar de considerar que a Jobbik é um partido perigoso, é favorável a uma solução da questão cigana.

O êxito da Jobbik levanta apreensões na vizinha Eslováquia, que os representantes da Jobbik consideram um apêndice da Hungria, que lhes pertenceria historicamente por direito. Para o primeiro-ministro húngaro Gordon Bajnai, o êxito dos extremistas nas eleições europeias constitui um grande problema, em especial internamente: o partido de oposição de direita, o Fidesz, foi o grande vencedor das europeias e a Jobbik começa agora a pedir insistentemente a realização de eleições legislativas antecipadas.

ITÁLIA

Milícias que recordam horas sombrias

Camisa castanha, águia imperial no capacete e braçadeira preta com o "sol negro" caro aos SS: eis o uniforme da Guarda Nacional Italiana (GNI), apesar de o seu fundador, Gaetano Saya, se dizer surpreendido com as acusações de apologia ao fascismo, formuladas pelo Ministério Público de Milão. De acordo com Saya, o GNI, que contaria 2.300 inscritos, não é uma organização paramilitar, mas um corpo de autodefesa popular, perfeitamente inserida no recente decreto do Governo que autoriza os cidadãos a organizarem " rondas" pelos seus bairros. "Somos nacionalistas", diz. "Não me sinto fascista. E de qualquer modo, o único juízo que temo, é o de Deus. Juízes de esquerda, estou-me nas tintas para eles", explica ao Corriere della Sera, citando o “Duce”.

Perante um risco de proliferação incontrolável de milícias, o ministro do Interior, Roberto Maroni, defende o seu decreto como muito positivo e afirma que o seu partido, a Liga do Norte, não vai renunciar a ele.

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