A Europa, dentro de vinte anos, segundo o líder populista holandês. Foto:Presseurop / Frans Lemmens

A inexistente Eurábia de Geert Wilders

Ao agitar o espectro da "ameaça do Islão", o líder populista Geert Wilders conquistou pontos nas eleições municipais de 3 de Março e deu um grande passo para a sua ascensão ao cargo de primeiro-ministro. Para a sociedade multicultural holandesa, o perigo não vem, contudo, dos muçulmanos, mas da forma como os seus concidadãos decidem conviver com eles, considera o diário checo Mladá Fronta Dnes.

Publicado em 4 Março 2010 às 15:26
A Europa, dentro de vinte anos, segundo o líder populista holandês. Foto:Presseurop / Frans Lemmens

Se Geert Wilders chegar a primeiro-ministro depois das legislativas de Junho, haverá pela primeira vez na União Europeia um chefe de Governo que acredita na existência da Eurábia. Esse continente mitológico do futuro coincide com a actual Europa; mas as suas crianças, da Noruega a Nápoles, aprendem a recitar o Corão na escola e as suas mulheres usam burca. "Passeiem pelas ruas e vão ver ao que chegámos. Já não parece que estamos no nosso país.

Em menos de nada, vamos ter mais mesquitas do que igrejas", afirmou o líder do Partido para a Liberdade (PVV) há dois anos, explicando assim porque seria bom darem dinheiro aos muçulmanos holandeses para se irem embora da Holanda. É sobretudo com esta retórica que Wilders ganha votos; porque milhões dos seus compatriotas partilham do mesmo sentimento de ameaça por parte de uma cultura estrangeira.

Tema de campanha escaldante

Wilders apresenta-se a si próprio como um ardente defensor da liberdade de expressão – e nisso não exagera. Desde o ano passado que tem um contencioso no Tribunal de Amesterdão por declarações de incentivo ao ódio racial e à discriminação, tendo comparado o Corão com o “A minha luta”, de Hitler. Quase 40% da população é favorável a esse processo. No entanto, a popularidade do PVV subiu ultimamente em flecha. Não importa a pobreza dos argumentos. O que conta, são os votos. De obscuro fantasma ideológico, a Eurábia tornou-se assim gradualmente num tema de campanha escaldante.

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Insistindo nos seus discursos sobre a explosão demográfica e a “jihad”, Wilders e os seus companheiros dão a sensação de se terem apercebido claramente do que vai ser o futuro do mundo. No entanto, as sondagens tendem a mostrar que os muçulmanos, como um todo, têm um sentimento de frustração, devido à marginalização social e à miséria em que vivem. A ideia de que representam uma força poderosa, procurando impor-se no continente europeu, causa-lhes espanto.

Pelo contrário, estão mesmo dispostos a deixar-se assimilar, a adoptar uma identidade estrangeira, não islâmica. Mas para tal, têm necessidade sobretudo de arranjar condições de trabalho dignas. E esse processo de integração dos muçulmanos na Europa leva muito tempo. Com efeito, a sociedade multicultural age actualmente como um sistema de isolamento em guetos. O perigo não vem, pois, dos muçulmanos propriamente ditos, mas da forma como a maioria branca da população se propõe viver com eles. É por isso que os processos por insultos ao Islão são importantes.

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