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Josephine Bornebusch e Johan Rehborg, os heróis da série "Solsidan".

A novela sueca que diverte a classe média

A série televisiva Solsidan troça dos sonhos dourados da classe média. E o que diverte tanto os suecos é o facto de se identificarem com as personagens da série, escreve Le Monde, no terceiro episódio da sua série sobre o humor.

Publicado em 22 Agosto 2012 às 15:55
Josephine Bornebusch e Johan Rehborg, os heróis da série "Solsidan".

É óbvio que existem inúmeras piadas sobre os noruegueses ou o álcool, um tema há muito incontornável. O que é normal num país onde as bebidas alcoólicas são vendidas por funcionários em lojas estatais a suecos incapazes de se conterem.

No entanto, o que os suecos adoram ver são paródias inspiradas neles próprios: os sonhos dourados da classe média passaram a ser a nova receita do sucesso cómico. A série “Solsidan” (“Lado ensolarado”, um bairro verdadeiro) seduziu um em cada quatro suecos no canal privado TV4 desde 2010 e foi eleita a série cómica sueca mais popular de todos os tempos. Um feito inédito. A terceira temporada está a ser produzida, a quarta e quinta já foram encomendadas.

É a minha maior realização”, declarou Felix Herngren, autor, ator e realizador da série, no final da primeira temporada. Uma associação partidária da esquerda chegou a organizar este inverno um safári de autocarro nessas terras da alta burguesia do bairro rico de Estocolmo e foi bombardeada com ovos por jovens burgueses rebeldes. Tem o seu quê de engraçado, não tem?

Geração irónica

Uma das chaves do sucesso, além do orçamento elevado para uma série deste tipo, reside no facto de as pessoas se identificarem com as personagens. A angústia da prestação, a lei de Jante que estipula que nenhum cidadão se deve achar superior, nem deve passar por mais do que aquilo que realmente é (embora na prática seja o contrário), as réplicas rápidas, o sentido crítico, “Solsidan” descreve o dia-a-dia de algumas famílias. Alex (interpretado por Felix Herngren) é um dentista aterrorizado pelos conflitos que voltam a assombrar a sua cidade natal, onde reencontra o seu amigo de infância, um empresário de sucesso. A paródia é ousada e faz jus à realidade.

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Porém, não há referências políticas na série de Felix Herngren. Este assume, confessando ao Le Monde: “Pertenço à geração irónica. Os cómicos da velha geração criticaram imenso a minha – tem 45 anos – por não passar nenhuma mensagem política". Mas o público responde de forma positiva. "“Solsidan” fala das pessoas, dos nossos pequenos defeitos, da nossa geração, dos nossos problemas, da nossa relação com o consumismo, das normas da sociedade, dos vizinhos."

Temas sensíveis

O cómico, também realizador de anúncios publicitários, admite que continuam a existir tabus, mesmo num país tão pouco conservador. “As piadas sobre sexo não levantam qualquer problema num quadro íntimo, mas, enquanto cómico, seria acusado de optar pela facilidade e de não fazer o meu trabalho de autor. O feminismo é um assunto ainda mais sensível para se brincar.”

Sem pôr fim à “Solsidan”, Felix Herngren vai lançar-se num novo grande projeto juntamente com a empresa de produção Nice Drama: a adaptação para o cinema do romance de sucesso O centenário que fugiu pela janela e desapareceu de Jonas Jonasson. “Um livro hilariante”, diz Felix Herngren, que vê nele uma sátira da nossa época, onde tudo se resume ao estatuto e ao dinheiro, mas onde no entanto acabamos sós num lar de idosos. ”E é muito libertador ver este velho a fazer o que lhe apetece."

Episódios anteriores:

A sátira alemã ou a “higiene política”

De norte a sul, os italianos gozam com eles mesmos

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