Verde, branco, dourado... e sem fronteiras. Montagem: Presseurop, Image Makers

A reunificação irlandesa é inevitável

Depois de um processo de paz que dura há 15 anos, a ideia de uma Irlanda unida já não parece tão fantasiosa como em tempos. E mesmo os unionistas deviam aderir a ela, diz o colunista Seumas Milne no The Guardian.

Publicado em 12 Março 2010 às 14:26
Verde, branco, dourado... e sem fronteiras. Montagem: Presseurop, Image Makers

Não é difícil perceber porque o Sinn Féin pretende fazer subir o tom sobre a unificação irlandesa. O recente acordo de descentralização da polícia e da justiça de Westminster para Belfast selou um processo de 15 anos que levou a liderança republicana ao coração da estrutura do poder na Irlanda do Norte. Estrutura essa que conseguiu reformas de grande envergadura, a retirada de tropas e avanços antes inconcebíveis sobre direitos civis e igualdade.

Mas para muitos apoiantes do Sinn Féin, o objectivo central do republicanismo irlandês – o fim da tutela britânica no norte e a reunificação de toda a Irlanda – continua tão distante como antes. Isso alimenta a campanha dos dissidentes republicanos armados, por mais marginalizados politicamente que possam permanecer. Como disse um dirigente do Sinn Féin na sobrelotada Conferência de Londres sobre a unificação irlandesa, ocorrida em Fevereiro, oAcordo de Sexta-feira Santa foi uma "conciliação, não um decreto" e "a causa subjacente ao conflito mantém-se”.

Economia, um argumento de peso

Entretanto, o colapso da outrora incensada economia do Tigre Celta do sul foi aproveitado pelos unionistas para afastar a perspectiva de qualquer movimentação em prol da unificação da Irlanda. Porque haviam os irlandeses do Norte querer agora ligar-se aos amputados do sul, ou porque haviam os do sul de assumir a responsabilidade dos subsídios públicos britânicos do norte desindustrializado? Mas como o antigo economista da City Michael Burke contrapôs, o argumento económico para a reunificação e a independência é, na verdade, mais forte do que nunca.

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A dependência e o controlo da Grã-Bretanha foram desastrosos para a economia da Irlanda do Norte, onde os padrões de vida eram comparáveis aos britânicos aquando da divisão, em 1921, e muito mais elevados do que no sul. Agora estão muito abaixo da média britânica e são muito mais baixos do que no sul. Mesmo depois da implosão do crescimento especulativo na República da Irlanda, o salário semanal médio ainda era de 593 euros no sul, no final do ano passado, comparado com os 398 euros no norte e os 442 euros na Grã-Bretanha. A Irlanda é suficientemente rica para financiar um serviço nacional de saúde, apontou Burke, bastando os seus políticos serem convencidos a fazer os amigos pagarem impostos.

Laranjas e Verdes, lado-a-lado

A disfuncionalidade da divisão para a economia e a tendência demográfica para uma maioria nacionalista no norte foram naturalmente temas recorrentes no encontro de Londres. Tal como a insistência do Sinn Féin na necessidade de "reconciliação entre os Orange [protestantes pró-britânicos] e os Green [nacionalistas republicanos]" e a necessidade de persuadir os unionistas de que a unificação irlandesa é do seu interesse económico e social. Mesmo depois de mais de uma década de vigência do processo de paz, é espantoso ouvir o Sinn Féin repetir que a Ordem de Orange, grupo sectário que se opõe há décadas aos católicos e nacionalistas republicanos do Norte, fazem "parte de nós como povo".

A unificação irlandesa terá, sem dúvida, um significado diferente numa economia global do século XXI do que tinha na altura do conflito armado de há uma geração atrás. Mas a convicção expressa na conferência de Londres de que a reunificação irlandesa é inevitável está indubitavelmente correcta. A questão crucial deste lado [britânico] do Mar da Irlanda é se a Grã-Bretanha irá colaborar nesse processo ou entravá-lo.

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