A Roménia não é o único país onde os professores estão ameaçados de despedimento ou reduções salariais. Segundo um estudo realizado por Guntars Catlaks, do Sindicato Internacional da Educação, os sistemas de ensino de vários países europeus foram duramente afectados pela crise.
A Polónia limitou-se a adiar os investimentos em infra-estruturas, mas a Lituânia, a República Checa, a Hungria e a Letónia reduziram em 30% os salários dos docentes. A Letónia procedeu ao mais drástico corte de efectivos no ensino pré-universitário: seis mil professores despedidos, num total de 35 mil. Na Irlanda, depois da redução orçamental de 60% para no ano em curso, estão previstas reduções de efectivos no Ensino Superior e várias faculdades deverão fechar as portas.
"Até os países do Norte são afectados..."
A reforma também é difícil em Itália. Segundo a imprensa do país, o Governo Berlusconi tenciona pôr em prática, no próximo ano, uma reforma que prevê a supressão de 133 mil postos de trabalho (dos quais 87 500 de professores). O orçamento economizará, assim, cerca de oito mil milhões de euros.
Na Grã-Bretanha, onde as universidades enfrentam graves défices orçamentais, fala-se de falências: "Creio que vai haver instituições que vão falir", declarou Anna Fazackerley, do think-tank Policy Exchange, autora do estudo Sink or Swim? Facing up to failing universities [Ir ao fundo ou nadar? Enfrentar o fracasso das univesidades]. Londres anunciou uma redução orçamental de 450 milhões de libras (500 milhões de euros) para o ano em curso. Também a Áustria, a Itália, a Hungria e a Polónia, países que em tempos investiram fortemente nas suas universidades, reduzem os seus fundos de financiamento, informa o EUObserver.
Até os países do Norte foram atingidos pela crise. Na Holanda, no ano fiscal 2010-2011, haverá reduções de 20% em várias rubricas orçamentais, incluindo a do ensino superior, indica um estudo publicado em Fevereiro por John Aubrey Douglass, da Universidade de Berkeley, na Califórnia. As medidas incluirão a transformação das bolsas atribuídas aos estudantes num sistema de empréstimos bancários para jovens. A proposta suscitou protestos dos estudantes, em Fevereiro, tendo mais de mil alunos ocupado os anfiteatros das universidades de Amesterdão, Nimègue, Utrecht e Roterdão.
Medidas "tapa-buracos"
Os únicos países que constituem excepção, até agora, são a França e a Alemanha. As suas perspectivas, ainda assim, não são muito boas. A França tenciona abolir, este ano, 16 mil empregos no sistema educativo. O ministro francês da Educação, Luc Chatel, propôs a contratação de estudantes e reformados, para substituir os professores em falta. A promessa francesa de aumentar o financiamento das universidades está dependente da capacidade de contrair empréstimos nos próximos anos. Na Alemanha, as despesas elevadas foram canalizadas, sobretudo, para a concessão de bolsas a estudantes. A longo prazo, porém, há planos para aumentar o financiamento e fazer crescer em 275 mil o número de estudantes, até 2015. No entanto, isto significa um aumento das despesas de escolarização. É de recordar que o último desses aumentos provocou a saída à rua de 80 mil estudantes, em Novembro de 2009.
As disposições financeiras relativas ao Ensino Superior na Europa variam de país para país. Alguns cobram matrículas universitárias módicas ou nulas, outros oferecem empréstimos bancários aos estudantes. Há na Europa, todavia, um factor constante: a quase totalidade dos custos recai sobre os contribuintes. Até agora, as universidades reagiram à crise através de medidas "tapa-buracos", como o adiamento das despesas de investimento ou o congelamento das contratações.
"O financiamento poderá nunca mais voltar ao nível de investimento que temos tido até agora", declarou o reitor do University College de Londres, Malcolm Grant. Uma hipótese para sair do dilema seria aumentar o número de alunos vindos de fora da UE, cujas despesas de escolaridade não são pagas pelo Governo. Outra solução seria cortar a dependência do financiamento público, cobrando a todos os estudantes impostos correspondentes aos custos de escolaridade. Isto é difícil de pôr em prática, no entanto, em muitos países europeus, onde as instituições privadas são, de um modo geral, consideradas inferiores e onde as leis existentes teriam de ser alteradas. A crise poderá fazer sair as universidades europeias dos lugares cimeiros das tabelas de classificação mundiais, advertiu Dirk Van Damme, chefe do departamento de Educação da OCDE.