Uma central de carbono no Wisconsin, Estados Unidos (James Jordan)

Armazenamento de CO2 não é uma solução milagrosa

Várias empresas e organizações, entre as quais a Shell, declaram-se partidárias do armazenamento, no subsolo, do CO2 capturado nos fumos industriais. Uma

técnica à qual diversos cientistas, anteriormente cépticos, parecem estar a aderir. Mas os interesses económicos são tão poderosos que é difícil encontrar peritos independentes.

Publicado em 7 Dezembro 2009 às 13:10
Uma central de carbono no Wisconsin, Estados Unidos (James Jordan)

Numa carta aberta intitulada "O armazenamento de CO2 é indispensável na luta contra as alterações climáticas", publicada no início de Setembro pelo diário NRC Handelsblad e dirigida à Câmara de Deputados da Holanda, 32 personalidades, entre as quais o PDG da Shell, os directores dos fornecedores de electricidade Nuon e Gasunie e da DSM [minas e química] e da Siemens, o antigo primeiro-ministro Ruud Lubbers e uma série de investigadores e professores do TNO [Centro de Investigação Independente] e das universidades de Delft, Groningue, Utrecht e Wageningen, declaram o seu apoio a esta técnica.

Com tanto poder e saber juntos, tem-se a impressão de que deve tratar-se de facto de uma técnica que não devemos deixar escapar. No entanto, foi o que esteve para acontecer na Holanda, devido à resistência obstinada dos habitantes e das autoridades locais da cidade de Barendrecht ao projecto de armazenamento de CO2 por baixo das suas casas [uma experiência realizada pela Shell e à qual a província da Frísia tinha dado o seu aval].

Os interesses por trás do armazenamento de CO2 tornaram-se importantes e estão em jogo subsídios, tanto do Governo holandês como da União Europeia: A Shell abandonou a energia eólica e solar e aposta agora no armazenamento de CO2 e nos combustíveis alternativos próximos do petróleo; os produtores de electricidade poderão voltar-se para as novas centrais a carvão, comprometendo-se a capturar o CO2 emitido; as universidades e os institutos vêem na nova abordagem uma mina de temas de investigação; o grupo Gasunie [que é também proprietário de infra-estruturas no sector do gás] vê nela um meio possível para reconverter lençóis de gás esgotados e gasodutos inutilizados. Por último, os poderes públicos podem falar de sustentabilidade, sem transformarem em inimigos os grandes industriais, e tornarem-se pioneiros de uma nova técnica de luta contra o aquecimento climático.

Greenpeace considera perigoso armazenar CO2

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Como poderá então ser-se contra o armazenamento de CO2? Assim, embora sem entusiasmo, os deputados deram luz verde ao projecto de Barendrecht. Afinal, na luta contra o aquecimento do planeta, não se pode deixar nenhum meio por explorar. Até há alguns anos, a atitude reservada da Câmara era partilhada pelos peritos. Segundo eles, o armazenamento de CO2 no subsolo é caro, mais caro do que comprar o direito a uma tonelada de CO2, no mercado dos direitos de emissão. As técnicas de captação de gases nas diferentes fases do processo de produção estão ainda a dar os primeiros passos. Passar-se-ão 10 ou mesmo 20 anos até o CO2 poder ser armazenado em grande escala e de forma rentável no plano comercial. Portanto, demasiado tarde para se obterem resultados climáticos rápidos. E a principal objecção talvez seja que enterrar o CO2 é apenas uma solução provisória e que requer energia suplementar.

Por conseguinte, é lógico que os sectores do petróleo e do carvão estejam interessados – mas não se trata de um invenção milagrosa. Por isso, ao contrário da fundação Natur & Milieu, que é mais pragmática, a Greenpeace continua a opôr-se violentamente ao armazenamento de CO2. Mas, entre os peritos, o vento mudou, observa Krijn de Jong, professor de química orgânica na Universidade de Utreque. De Jong assiste com espanto à mudança de posição de muitos dos seus colegas, outrora críticos e que agora apoiam esta técnica. "Agora, proclamam que esse armazenamento é possível, sem riscos", declara De Jong. Ele próprio tem dúvidas. As dúvidas estendem-se à Shell, onde De Jong trabalhou no passado: "Quase nenhuma das pessoas com quem falei acha que seja realmente uma boa ideia", adianta. "Eles dizem que, se alguma vez a injecção de CO2 correr mal, toda a gente apontará o dedo à Shell." De Jong pensa que, mais tarde, se irá lamentar amplamente esta escolha: "Vai haver muitos debates parlamentares sobre este assunto".

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