Boicotar o Euro 2012 para castigar Kiev?

A cinco semanas do início do campeonato europeu de futebol, o Euro 2012, que será disputado na Polónia e na Ucrânia, a situação dos direitos humanos na antiga república soviética preocupa os responsáveis europeus. Vários ministros alemães falaram mesmo de um boicote ao campeonato, se Kiev não tornar mais toleráveis as condições de detenção da antiga primeira-ministra Iulia Timochenko.

Publicado em 30 Abril 2012 às 15:14

Condenada a sete anos de prisão por abuso de poder (os seus partidários dizem tratar-se de uma manobra do atual Presidente, Viktor Ianukovitch, para a afastar da cena política), a antiga líder da "Revolução Laranja" iniciou, em 24 de abril, uma greve de fome, em protesto contra a sua transferência e contra os maus-tratos de que terá sido vítima.

Na Alemanha, o Süddeutsche Zeitung salienta que a Ucrânia está sujeita a pressões cada vez maiores. O ministro do Ambiente alemão, Norbert Röttgen, foi o primeiro a pedir aos políticos que boicotassem o Euro 2012: "É absolutamente necessário evitar que o regime ucraniano utilize o campeonato para revalorizar a sua ditadura", afirmou. O jornal sublinha que a chanceler Angela Merkel também referiu a possibilidade de boicote ao campeonato europeu de futebol. Por seu turno, o título do jornal Tageszeitung, “Partido para a Liberdade de Timochenko”, critica a ausência de reação por parte da União das Federações Europeias de Futebol (UEFA) sobre a questão:

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Apoiar uma causa precisa fora da área do desporto continua a ser difícil para as autoridades desportivas. […] A UEFA não toma partido e mantém a posição de que não tem responsabilidades na política [de um país], ignorando que a mera existência de uma festa desportiva internacional, como o campeonato europeu de futebol, é um ato altamente político. As autoridades desportivas têm um único argumento para justificar a sua não tomada de posição: o facto de a simples libertação de Iulia Timochenko não fazer da Ucrânia uma democracia de primeira. […] Mas, neste caso, trata-se de um ato simbólico com fracas consequências práticas.

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Na Polónia, coorganizadora do Euro 2012, o Gazeta Wyborcza diz em título que "Os alemães apostam em Timochenko" e salienta que os políticos alemães, incluindo o líder da oposição social-democrata (SPD), Sigmar Gabriel, criticam ferozmente as autoridades ucranianas só para aumentarem a sua popularidade e com os olhos postos nas eleições legislativas do próximo ano:

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Os políticos alemães não se preocupam com tanto com a saúde de Timochenko e com a situação de democracia ucraniana como com marcar pontos antes da renovação do Bundestag. […] No caso do líder do SPD, pode falar-se de hipocrisia. Gabriel não protestou quando um dos seus antecessores e seu mentor político, Gerhard Schröder, qualificou [o Presidente russo] Vladimir Putin como "democrata transparente". E também não disse nada no caso do antigo oligarca Mikhail Khodorkovski, enviado para um gulag [campo de trabalhos forçados] por Putin. […] Um caso tão chocante como a detenção de Iulia Timochenko. [Os políticos alemães] temem a poderosa Rússia e não querem entrar em polémica com ela, mas a Ucrânia é um país periférico, um buraco negro no meio da Europa. O boicote do Euro 2012 não vai ajudar a democracia na Ucrânia, mas vai convencer a parte da sociedade que tende para o Ocidente de que a Europa os abandonou, que esta supõe que, sob Ianukovitch, o país caminhará para o autoritarismo e que as aspirações europeias da Ucrânia eram um sonho.

Na Dinamarca, também se coloca a questão de os governos deverem ou não boicotar o campeonato europeu de futebol, refere o Jyllands-Posten, depois da ameaça alemã de não participar no Euro 2012. Contudo, os responsáveis políticos estão divididos nesta matéria, salienta o jornal:

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O ministro da Cultura, Uffe Elbæck, irá esperar pela posição dos seus homólogos da UE, antes de decidir se se deslocará à Ucrânia para apoiar a equipa nacional dinamarquesa. No polo oposto, o porta-voz dos Conservadores para a política externa e antigo chefe da diplomacia e ministro da Cultura, Per Stig Møller, não tem hesitações: "[…] seria pactuar com o Governo [ucraniano], que cometeu atrocidades para com Iulia Timochenko", declarou.

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