Arquitectura moderna em Rheinauhafen, zona portuária de Colónia (Robert Brands)

Colónia sente que tem futuro

Celebrizada graças à sua reconhecida água, Colónia oferece outras vantagens: património histórico, arquitectura, indústrias de ponta, dinamismo económico, etc. A ambição da cidade alemã justifica-se sublinhando ainda mais o factor Internacional, estima o Cafebabel.

Publicado em 23 Outubro 2009
Arquitectura moderna em Rheinauhafen, zona portuária de Colónia (Robert Brands)

O italiano Giovanni Maria Farina, inventor da primeira água-de-Colónia, já deve ter dado muitas voltas na campa. Criador de um perfume com o nome da cidade que escolheu para fazer fortuna em 1703, foi ultrapassado pela sua criação. Mil vezes adulterada, a famosa água-“de-Colónia” tornou-se um conceito genérico, designando um perfume ligeiro (com poucas essências) que costumamos associar às nossas avós.

“Hoje, as pessoas não estabelecem a relação entre a ‘água’ e a cidade”, considera o actual director-geral da Casa Farina, Johann Maria Farina. A confusão, causada por dezenas de plágios, venceu o original, apesar de décadas de processos legais. Colónia afogou-se nos seus frasquinhos. Hoje, a catedral, a dois passos da casa do perfumista, é a principal atracção da cidade alemã, aquela que os especialistas do turismo divulgam ao país e fora de fronteiras.

A Catedral atrai seis milhões de visitantes por ano

A localidade histórica mais frequentada da Alemanha atrai seis milhões de visitantes por ano (dos quais quase 65% de alemães). Imbatível. Para aumentar a sua oferta turística, Colónia adoptou uma estratégia transfronteiriça (nomeadamente em parceria com Amesterdão e Bruxelas, com as quais tem muito boas ligações por comboio), em vez de juntar forças com outras grandes cidades do país, nomeadamente Hamburgo ou Frankfurt, com que Colónia disputa regularmente o terceiro lugar na classificação nacional. “Para além da catedral, Colónia tem outros dois pontos fortes”, afirma Claudia Neumann, responsável de Relações Públicas da KölnTourismus. “O negócio em torno das 40 feiras organizadas todos os anos, que atrai 70% das pessoas com uma noite em hotel, e a sua reputação como cidade de espírito aberto, descontraída e multicultural.” Este “carácter” foi formado desde a Idade Média, quando a cidade era já uma encruzilhada comercial da Europa, com uma situação privilegiada à beira do Reno.

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No século XVIII, Colónia era independente do império, não estava subordinada a nenhum Estado, e, por conseguinte, tornava-se muito atraente para todos os empresários que faziam dela placa giratória comercial”, explica o herdeiro Farina. “É também por isso que Colónia não é uma cidade alemã clássica. Esteve sempre voltada para o mundo.”Resultado: 184 nacionalidades coabitam numa cidade jovem (a segunda maior universidade da Alemanha acolhe 60 000 estudantes) e 20% da população tem origens estrangeiras. Victor Vogt é responsável pelo sector internacional da Câmara de Comércio e de Indústria de Colónia. “As pessoas, aqui, são um pouco mais italianas do que alemãs”, diz num discurso bem ensaiado. E explica que, em Colónia, “as pessoas afastam-se ligeiramente do estereótipo dos alemães estritos e eficazes. São um bocado diferentes e os estrangeiros, que vêm cá durante o Carnaval, por exemplo, quando toda a cidade está em festa, perdem imediatamente as ideias preconcebidas. Do ponto de vista do comércio, isso não transmite sempre a melhor imagem…”

Capital alemã dos meios de comunicação

“Colónia sente muito os efeitos da recessão mundial, porque o seu PIB assenta nas exportações, em mais de 50%. Mas as empresas do sector dos serviços (seguros, comunicação social, entre outros) permitem manter o equilíbrio”. Focados nos Estados Unidos. Após ter criado elos com cidades germinadas na China e na Índia, “desenvolvemos uma nova estratégia para apresentar a cidade como um centro comercial, essencialmente na Europa e além-Atlântico”, prossegue Victor Vogt. “Claro que Colónia, só por si, não tem peso para concorrer com Londres ou Paris. Para ser competitivos, temos de unir forças com as vizinhas Dusseldórfia e Bona. Já se instalaram diversos actores mundiais na nossa região” – multinacionais como a Sony, Toys ‘R’ Us ou Barilla e Microsoft.

Seja o sector da indústria química – o maior empregador local –, seja a construção automóvel – que atravessa grandes dificuldades –, a engenharia mecânica ou electrónica, ou as rádios e televisões – que fazem de Colónia a capital alemã da Comunicação Social - a estratégia de Colónia não é vender-se “como um destino comercial barato”: “Procuramos atrair as sedes sociais. O que passa, nomeadamente, pela arquitectura.” Nas margens do Reno, vêem-se gruas ao lado de monstros de aço e de betão em construção. Em breve, estarão transformados em belos escritórios com vista sobre o rio. De primeira. É também essa a estratégia da Casa Farina para a sua sobrevivência: “O luxo é um nicho”, retoma Johann Maria Farina que emprega localmente 50 funcionários. “É verdade, o nosso perfume não é acessível a qualquer um… ”

Jane Mery

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