Desunida e muda

Publicado em 23 Outubro 2009 às 09:31

Agora que o Presidente checo, Václav Klaus, parece ter-se resignado a assinar o Tratado de Lisboa, a União Europeia em peso parece ter soltado um suspiro de alívio. Os optimistas dirão que o projecto europeu poderá, finalmente, ser levado a bom termo, que a União Europeia poderá, finalmente, materializar as suas ambições e falar num tom forte.

Na mesma semana, salientarão os outros, a União Europeia mostrou mais uma vez que era incapaz de falar a uma só voz. Em 20 de Outubro, as negociações entre os ministros das Finanças europeus – sobre a ajuda financeira que a UE deverá conceder aos países em desenvolvimento, para que estes possam participar na luta contra o aquecimento climático – fracassaram. Nem mesmo um montante revisto em baixa, para metade, em relação aos cálculos dos especialistas (30 mil milhões de euros) conseguiu passar: há muitos Estados com medo de que as contribuições não sejam equitativas. A justo título, o ministro das Finanças neerlandês, Wouter Bos, classificou de "vergonhosa" esta falta de consenso, enquanto o seu homólogo sueco, Anders Borg, declarava estar "muito desiludido".

E, no dia seguinte, a história repetiu-se: os ministros do Ambiente não chegaram a acordo sobre a questão mais sensível, a dos direitos de emissão de CO2 não utilizados pelos Estados da Europa Central. As negociações mostraram igualmente que os "pequenos" Estados têm tendência a atirar as responsabilidades para as costas dos "grandes" Estados. O fracasso dos ministros das Finanças dever-se-á designadamente à contenção da Alemanha, que aguarda a formação do seu novo Governo. Não é possível deixar de se ter a sensação de que, como acontece com frequência, se trata de um pretexto para adiar a tomada de posição comum ou de falta de vontade política de alcançar um consenso. É sobretudo uma falta de consciência de que, se não for capaz de falar a uma só voz, a Europa não será ouvida.

J.S.

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