Devemos salvar a Grécia da falência?

Em Berlim e Bruxelas duvida-se cada vez mais da capacidade da Grécia para saldar a sua dívida sem ajuda externa. Se nada for feito, o país corre o risco de entrar em bancarrota – com consequências imprevisíveis para a moeda europeia.

Publicado em 15 Dezembro 2009 às 16:44

Uma onda de nervosismo atravessa as bolsas de valores, as capitais da União Europeia (UE), os ministérios das Finanças, a praça financeira de Frankfurt e até a sede doFundo Monetário Internacional (FMI), em Washington. Todos fazem a mesma pergunta: o que acontece se um país, mesmo que membro da União Monetária Europeia, for à falência? Será que a UE permite que isso aconteça?

Aconteça o que acontecer, a UE não pode expulsar a Grécia da zona euro e deixar o país entregue à sua sorte, embora a adesão de Atenas à moeda única não tenha sido honesta, ao assentar em dados orçamentais fraudulentos. As proporções alarmantes desta situação reflectem-se no facto de o próprio FMI ter tomado conta da situação. Relativamente à previsão do défice da Grécia para este ano, revisto de 6 para 12,7%, o FMI tem sérias dúvidas e não sabe se é uma previsão realista ou se, pelo contrário, o défice será muito superior.

De acordo com os padrões aplicados a pessoas singulares, a Grécia estaria hoje numa situação de insolvência, apesar de ter continuado a pagar as suas dívidas. Esta situação fica a dever-se à enorme dívida actual dos ministérios e agências governamentais ao sector privado, num montante que ultrapassa os dez mil milhões de euros. Se estes montantes forem tidos em conta, o défice grego irá ser ainda maior. Entretanto, a UE descobriu que são precisos, em média, 165 dias para que o Governo helénico salde as suas dívidas – cada vez maiores.

Verifica-se também uma falta de confiança da UE nas promessas de Atenas. Os gregos já garantiram muitas vezes que vão melhorar. Em Berlim e em Bruxelas, os políticos debatem-se cada vez mais com a questão de saber como prestar uma ajuda eficaz a Atenas.Não restam dúvidas de que a UE vai agir – apesar de tudo, esta questão afecta o futuro do euro e mesmo o futuro da Europa. Se a União Europeia deixar que um Estado-membro entre em bancarrota, pode dar-se uma reacção em cadeia.

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A Europa talvez consiga suportar a bancarrota de um dos seus Estados-membros, tal como os EUA conseguiram fazer face à situação de ruína da Califórnia. Mas, e se isso acontecer a vários Estados-membros? Uma situação dessas iria provocar aquilo que os eurocépticos andam a dizer desde o início: o colapso da moeda europeia. E os problemas não ficariam por aí. Assim que as obrigações do Tesouro, consideradas um investimento seguro, perdessem todo o seu valor, os bancos ficariam de novo numa situação difícil, com a agravante de não existir, nesse caso, um Governo suficientemente forte para os apoiar.

Angela Merkel não quer intromissões do FMI

Ainda assim, até um caso isolado como o da Grécia seria muito mau, quer económica quer politicamente. A Grécia vê-se perturbada com manifestações violentas e o descontentamento político seria incontrolável se o país mergulhasse num caos financeiro. O que se poderá fazer para evitar uma tragédia grega? Muitos chefes de Estado e de Governo, nomeadamente Angela Merkel, gostariam que o FMI não se envolvesse nas questões da zona euro. Em primeiro lugar, porque entendem que os europeus têm de resolver os problemas da moeda única sozinhos. A ajuda externa só serviria para minar a confiança na divisa europeia.

A chanceler alemã advoga, assim, a criação de um instrumento europeu semelhante ao que o FMI aplica. Por outras palavras, o dinheiro seria posto a circular mediante um vasto número de requisitos rígidos. Isto representaria uma forte limitação à soberania de um país.Talvez a Grécia tivesse de aceitar, por exemplo, a presença de um fiscal orçamental – ou ser forçada a aumentar os impostos para que um determinado montante em dinheiro pudesse entrar nos cofres do Estado através de receitas suplementares. Ninguém sabe, contudo, se estas medidas seriam suficientes, ou até mesmo ultrapassadas. Atenas está mergulhada em dívidas – não apenas para com os seus obrigacionistas, mas sobretudo para com empresas estrangeiras, principalmente no sector da Defesa.

Mas não é apenas neste sector que as empresas têm dificuldade em receber dos gregos os pagamentos em atraso. Na Saúde, as dívidas são gigantescas. Há umas semanas, o organismo de apoio europeu na área da indústria farmacêutica deu a conhecer aos seus membros o surpreendente montante de dívidas acumuladas pelas agências governamentais gregas. Este organismo refere que, nos finais de 2008, a Grécia tinha uma dívida de 2700 milhões de euros só em mediamentos e tratamentos. "Estamos completamente à mercê dos gregos", afirma o representante de um laboratório farmacêutico alemão, "porque as encomendas não podem ser pura e simplesmente anuladas. Há vidas em jogo. Não é o mesmo que seria com automóveis, em que poderíamos dizer: se não pagam, não entregamos."

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Uma avalancha de medidas

"Bruxelas quer medidas radicais, Georges Papandreou está de acordo", constata o diário To Vima. "Num discurso dirigido aos parceiros sociais, a 14 de Dezembro, o primeiro-ministro grego anunciou 80 medidas para sanar a economia nacional e afastar o risco de bancarrota. O seu objectivo é conseguir, até 2013, baixar o défice de 12,7 para 3% do PIB. Para isso, conta pôr em prática medidas radicais: congelamento de salários, restrição de contratos e constituição de uma unidade de polícia especial de combate à corrupção e à fraude fiscal, as duas principais pragas do país."

No entanto, "após a vaga de pânico que varreu os mercados internacionais, as pressões continuam", prevê o jornal ateniense. "No início da semana, chegaram a Atenas os fiscais do FMI e uma equipa da agência de notação Moody’s. A pressão mais importante irá ser feita pela oposição e pela opinião pública. Georges Papandreou reuniu hoje os principais partidos políticos apoiantes do Presidente da República, para falar de economia, mas os dissidentes já chegaram a acordo. A contestação irá sair à rua, numa greve geral marcada para dia 17 de Dezembro, com uma mobilização que se prevê significativa."

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