A ponte entre Copenhaga e Malmo é muito bonita. Mas, para os milhares de dinamarqueses que são obrigados a habitar do lado sueco e a atravessá-la todos os dias para irem para o trabalho em Copenhaga, a ponte do Oeresund é um símbolo de exclusão. São obrigados a pagar, todos os dias, para entrarem no seu próprio país, onde não podem residir porque são casados com estrangeiros.
As leis dinamarquesas sobre imigração são especialmente rígidas. Muito duras para os requerentes de asilo, proíbem o casamento com um estrangeiro com menos de 24 anos e impõem elevadas exigências aos imigrantes. Para a obtenção de licença de residência, foi recentemente introduzido um sistema de pontos. Os imigrantes têm de ter, durante um mínimo de um ano, "participado activamente na sociedade dinamarquesa". E quando o cônjuge é estrangeiro, têm de provar que têm mais “afinidades” com a Dinamarca do que com o país do cônjuge.
Assim, Bolette Kornum, controladora financeira, não pôde regressar a Copenhaga com o marido, que é egípcio: o serviço de Imigração considerou que tinham mais laços com o Egipto. Ela fala árabe, ele não tem família na Dinamarca e viveram juntos vários anos no país do marido. Vão, pois, viver para o Egipto, foi a indicação das autoridades. "Toda a minha vida paguei impostos, mas deixei de ser bem-vinda no meu próprio país." Actualmente, 6.000 famílias habitam do outro lado da ponte. "Isto destruiu várias vidas", declara Bolette Kornum.
À margem do Governo
As severas leis dinamarquesas sobre imigração resultam de um consenso tácito entre praticamente todos os partidos políticos. Apenas alguns pequenos partidos de esquerda continuam a manifestar resistência. O promotor destas leis, o Partido do Povo Dinamarquês (DF), tornou-se um actor estável e influente da paisagem política e já deixou de ser considerado um partido de extrema-direita, rejeitado enquanto tal. Como conseguiu isso?
Recuemos até 2001. O DF ganhou 12% dos votos nas legislativas. Nessa época, era rejeitado por uns, insultado pela esquerda, atacado na sua retórica populista e nas suas posições anti-imigração. O Partido Conservador e o Partido Liberal queriam governar e imaginaram uma solução tipicamente dinamarquesa: uma coligação minoritária. Os dois partidos de centro-direita formaram Governo e o DF apoiou-os no Parlamento. Em troca, pediu medidas draconianas para combater a imigração.
A coligação achou que era um bom negócio: podia governar e tirar o tapete ao DF. Mas na verdade, é este que manipula a coligação: exerce a sua influência, porque os outros dois partidos dependem dele, e recusa-se a entrar para o Governo. Uma estratégia muito engenhosa: "Permanecendo afastado mas influente, o partido conseguiu desenvolver-se e tornou-se mais profissional, dotado dos melhores conselheiros em comunicação. É de longe a máquina política mais eficaz da Dinamarca", afirma o comentarista político Peter Mogensen, do diário Politiken.
Socialmente à esquerda, anti-islâmico e eurofóbico
E assim, o DF utiliza o seu direito de veto nas negociações orçamentais anuais para exigir alguns pequenos presentes tácticos e facilmente "apresentáveis" ao seu eleitorado. Como a construção de um hospital numa região que conta muitos eleitores potenciais. Ou um cheque único para os cidadãos com mais de 65 anos, distribuído com grande alarido. No domínio social, o DF é mais à esquerda e é favorável à manutenção do Estado-providência. É anti-islâmico e anti-imigração, e defensor dos idosos e deficientes; eurofóbico, é naturalmente contra a adesão da Turquia à UE, e é pró-israelita.
No partido, reina uma disciplina rigorosa: não há lutas internas e não há lugar para idiotas como os racistas e os neonazis, que são regularmente expulsos. A dirigente do partido, Pia Kjærsgaard, fez muitos esforços para melhorar. No início, mostrava-se frequentemente carrancuda, ou mesmo corrosiva, e procurava o conflito com os outros partidos. “Actualmente, procura evitar confrontos com os seus homólogos", declara Henrik Kaufholz, membro da comissão directiva da associação dinamarquesa de jornalistas de investigação.
Protegido pelo Governo minoritário, o DF transformou-se, nos últimos dez anos, num parceiro fiável e muito influente. No plano eleitoral, registou um crescimento – actualmente, dispõe de 14% dos votos – e muitas das suas ideias são hoje objecto de consenso entre as principais forças políticas.
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