Ronda dos "Anjos da Cidade" no metro de Milão. Foto : www.cityangels.it

Direita italiana reforça patrulhas

Há cada vez mais italianos que se agrupam em patrulhas para fazer rondas nas suas cidades. Um fenómeno que tem origem nas divisões sociais e políticas e cujas consequências são ainda difíceis de medir.

Publicado em 17 Julho 2009 às 16:33
Ronda dos "Anjos da Cidade" no metro de Milão. Foto : www.cityangels.it

Milão - Nos passeios da via Padova, destacam-se as patrulhas mistas da polícia escoltadas por soldados com farda de combate mas, também, as dos Boinas Azuis, um grupo de voluntários [vigilantes] muito controverso devido às suas estreitas ligações com a extrema-direita; as dos "City Angels", que usam boinas vermelhas e são os mais antigos voluntários da cidade; e as dos Voluntários Verdes da Liga do Norte, com os seus cachecóis da Padânia e os seus duplos "V". Deverão todos estes "trabalhadores da segurança" ser considerados como um fenómeno passageiro ou como uma necessidade? O mapa dos grupos de vigilantes italianos pode revelar algumas surpresas.

Nos anos 90, o Norte descobriu que era vulnerável. Os assaltos a residências levaram os políticos a recorrer a xerifes improvisados. Os militantes da Liga foram os primeiros a envolver-se e, entre 1998 e 1999, criaram os Voluntários Verdes, com origem na Guarda Nacional da Padânia. Hoje, são dirigidos por Max Bastoni, um dos líderes da Liga que tem um nome apropriado à divisa que adoptou: "Paus contra os imigrantes" [Bastoni contro gli immigrati]. Contudo, os militantes da Liga são voluntários do género "faz o que eu digo mas não faças o que eu faço": lançam slogans racistas e, depois, consideram seu dever melhorar a eficácia das equipas municipais. "Aquilo que fazemos resume-se na verdade a passeios em grupo – no máximo, sabemos defender-nos. E somos voluntários autênticos, apesar de, hoje, se ouvir falar muito de financiamentos [para outros grupos]."

Medo dos imigrantes

A Guarda Nacional da Padânia, de uniformes castanhos repletos de emblemas repescados nos livros de histórias e cujo nome parece ter sido inspirado no da Guarda Nacional Italiana, é comandada pelo extremista de direita Gaetano Saya. Quem o ouve tem a impressão de estar perante uma imitação pouco inspirada dos "nazis do Illinois", do filme "The Blues Brothers". Saya parece estar isolado mas não é possível garantir que assim é, admitem os carabinieri, que se mostram preocupados com a atracção crescente dos jovens pelos grupos neonazis, em muitos casos ligados aos "tifosi" ultras, que gritam nos estádios o seu ódio pelos judeus, pelos negros e pela globalização.

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Por trás destes "comités de segurança", espreitam as mais variadas forças. Um primeiro levantamento permitiu a contagem de cerca de cem grupos organizados. A palma da fantasia cabe ao dono de um restaurante de Follonica, na Toscânia, que criou os "Voluntários para as Esposas dos Membros das Patrulhas", mas a grande maioria leva as vigias muito a sério. Estes comités põem em prática os conceitos de bio-política e pós-política da autoria do sociólogo Slavoj Zizek: "A pós-política tem a ver com o abandono das ideologias, para nos concentrarmos numa administração competente… enquanto a bio-política tem por objectivo regulamentar a segurança e o bem-estar." O único meio de forjar uma razão para levar as pessoas a abraçar esta política é através do medo: "medo dos imigrantes, da criminalidade, da depravação sexual, das catástrofes ecológicas, da falta de civismo".

Uma patrulha em cada área

Em Veneza, as divisões sociais, culturais e políticas são muito evidentes. Em Pádua, já se viu patrulhas da Liga seguir numa direcção e contra-patrulhas da esquerda seguir na outra. Não muito longe dali, foi criada a primeira linha telefónica de vigilância, a Primeira Ajuda Cívica. A comuna de Jesolo foi uma das primeiras a organizar vigilantes, principalmente contra as prostitutas, mas foi também neste mesmo sector que surgiram as primeiras rondas que incluem imigrantes nas suas fileiras.

Em Vittorio Veneto, os habitantes organizam-se contra os motociclistas que "dobram" [se inclinam] excessivamente nas curvas. Em suma, um pouco por todo o lado são formados comités, em função de problemas locais muito particularizados. Em Grugliasco, no Piemonte, há "rondas ecológicas" que tentam escorraçar aqueles que não fazem a triagem do lixo.

A região Friul-Venécia Júlia aprovou uma lei que torna obrigatória a elaboração de uma lista de voluntários para as rondas e a sua participação em acções de formação. Em Trieste, uma associação de pescadores criou um grupo de vigilância para a segurança alimentar.

Em contrapartida, no Sul, a ideia teve uma aceitação difícil. Na província de Nápoles, há grupos de vigilância para a defesa das estátuas do santo padroeiro local. Em Agropoli (na província de Salerno) combate-se o roubo de caixotes do lixo. Em Acireale, perto de Catânia, pretende-se impedir a afixação ilegal de cartazes; em Bari, grupos de reformados encarregam-se de vigiar as crianças, à saída das escolas. Contudo, na Calábria, as rondas estão fora de questão: no território da *‘*Ndrangheta, mais vale não correr o risco de mandar parar a pessoa errada no meio da rua. Isso poderia ser fatal.

PRECAUÇÕES

Governo quer regulamentar as rondas

Na sequência das críticas às suas novas leis sobre segurança, feitas não apenas pela oposição, o ministro do Interior, Roberto Maroni, tornou públicas as regras aplicáveis às recém-criadas "rondas", oficialmente designadas por "associações de voluntários para a segurança". Essas normas parecem limitar os aspectos mais notoriamente paramilitares inicialmente imaginados. Os grupos de patrulha integrarão o máximo de cinco pessoas e não estão autorizados a usar uniformes ou símbolos distintivos, excepto coletes amarelos fluorescentes com o logótipo do grupo. Os seus membros poderão ser vetados por um comité especial, que analisará os seus registos criminais e o seu perfil psicológico, além da sua aptidão física. Aqueles que pertençam a "movimenti organizzati" (movimentos organizados, ou seja, a qualquer partido, grupo ou associação de inspiração ideológica) serão desqualificados. O único dever dos vigilantes consiste em chamar a polícia, caso presenciem qualquer violação da lei. Acima de tudo, não poderão usar armas, sendo as lanternas de aço e os cães incluídos no conceito de arma. O Presidente Giorgio Napolitano, que escreveu uma carta ao Governo, manifestando a sua preocupação com as possíveis consequências do projecto de lei a que acabou de dar força de lei, disse que os aerossóis de pimenta também deveriam ser proibidos.

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