DESASTRE AÉREO NA UCRÂNIA

“É o 11 de setembro da Europa”

Publicado em 23 Julho 2014 às 08:08

Cover

“O drama do voo MH17 obriga-nos a tirar uma importante lição relativamente à nossa segurança neste turbulento século XXI”, escreve Jonathan Holslag no NRC Handelsblad. O politólogo da Universidade Livre de Bruxelas considera que uma forte política de vizinhança poderá ser a solução para a elevada insegurança que se sente na Europa.
“A geopolítica está de volta”, escreve Holslag:

Mas só agora começámos a perceber que a distância entre Kiev e Katwijk [uma cidade holandesa] […] não é assim tão grande. Todos os países europeus entre estas duas cidades […] dependem uns dos outros para garantir a sua segurança. […] Se achavam que ainda podíamos voltar ao tempo dos mini-Estados europeus em conflito entre eles, o ataque ao voo MH17 fez-nos encarar brutalmente a nova realidade.
Se for encontrada uma ligação entre a catástrofe no leste da Ucrânia e o Kremlin, Putin terá de pagar, acrescenta Holslag. “Mas isto não se trata apenas de Putin”, escreve:
[[Aparentemente, a crise na Ucrânia não foi suficientemente grave para que os Estados-membros europeus cooperassem mais no sector da energia.]] As consultas em Bruxelas para reduzir a dependência no gás proveniente da Rússia não deram em nada.
Holslag acusa os dirigentes europeus de “terem visão curta” e “de oportunismo”, e acrescenta que:
como é óbvio, há fortes probabilidades de se presenciar, depois de um período de oportunismo, uma onda de pânico a abalar os líderes europeus. Nessa altura, aliar-se-ão aos Estados Unidos e encurralarão a Rússia.
No entanto, o politólogo estima que não podemos esquecer-nos da nossa própria responsabilidade. A Europa criou um “vácuo de poder ao longo da sua fronteira externa” e não conseguiu “criar relações fortes com as superpotências regionais”.
Holslag acredita que a solução possa ser a criação de uma política de vizinhança forte e a implementação de uma nova esfera de influência que fornecerá mais segurança à Europa. Além disso, este também realça que a UE não só está a ser ameaçada pelo este da Ucrânia, como também pelos países da região do Sahel, onde “existem muitas armas pesadas”. Não são apenas os aviões que estão em perigo, com alguns “arranjos”, os mísseis podem ser utilizados contra os nossos navios mercantes no Mar Vermelho e no estreito de Gibraltar.
É por isso que Holslag considera que chegou a hora da Europa assumir a liderança na “batalha contra a proliferação incontrolada de mísseis. O mínimo que devemos às vítimas do voo MH17 é a realização de uma convenção sobre mísseis antiaéreos”. “Este deverá ser o 11 de setembro da Europa, um ponto de viragem na nossa reflexão estratégica”, onde a retaliação contra os nossos inimigos e a segurança de quinhentos milhões de europeus devem ser colocadas em primeiro lugar, conclui.

Geertje Teunissen

Newsletter em português
Tags

É uma organização jornalística, uma empresa, uma associação ou uma fundação? Consulte os nossos serviços editoriais e de tradução por medida.

Apoie o jornalismo europeu independente.

A democracia europeia precisa de meios de comunicação social independentes. O Voxeurop precisa de si. Junte-se à nossa comunidade!

Sobre o mesmo tópico