Estado providencial

Publicado em 24 Setembro 2010 às 13:38

Os meteorologistas políticos não estavam enganados. O outono anunciava-se "quente" na Europa e os factos parecem dar-lhes razão. Em muitos países europeus, a severa cura de austeridade a que são sujeitos os orçamentos nacionais, para fazer face à crise económica e atingir o equilíbrio, traduz-se no congelamento – ou mesmo na descida – dos salários, na redução das prestações sociais e na privatização de alguns serviços públicos. E os cidadãos, que não querem renunciar aos seus direitos, descem à rua, inclusive nos países onde as reformas liberais que se seguiram ao fim do comunismo foram melhor acolhidas.

Foi o que se viu, no início do mês, em França – o que não espanta ninguém – e depois na Roménia, onde a agitação continua, na República Checa e novamente em França. Por último, os espanhóis foram convocados para participarem, em 29 de setembro, numa greve geral de protesto contra os cortes no Estado providência.

É precisamente este último que está no centro das preocupações dos europeus: porque é ele que é posto em causa devido à crise – e não o setor financeiro, que esteve na origem dessa crise. Trata-se, no entanto, de uma das maiores conquistas do pós-guerra: a saúde e a educação públicas e gratuitas, tal como os transportes e os restantes serviços públicos, representam o centro do modelo social europeu. Um modelo social a que os europeus se apegaram, mesmo quando – curioso paradoxo – se afastam dos partidos que supostamente o incarnam e o defendem, como se viu recentemente na Suécia.

Uma das razões desse afastamento tem a ver com a desintegração do sentimento de pertença a uma mesma comunidade e com o aparecimento – ou mesmo a exaltação – dos egoísmos (nacionais, locais, individuais). Porque a sociedade europeia está hoje mais fragmentada do que no passado e as desigualdades nela existentes são mais fortes. Ou, como recordou, pouco antes de morrer, o historiador britânico Tony Judt, são as desigualdades que geram as patologias e os conflitos sociais. Precisamente os conflitos que marcam este outono "quente". Gian Paolo Accardo

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