Foi evitado o pior… por enquanto

Um dia após as eleições que marcam a vitória dos partidos “pró-memorando”, a imprensa europeia expressa o seu alívio: por agora, a hipótese de uma saída da Grécia da zona euro parece afastado. Mas a crise que atinge a moeda única está longe de acabar.

Publicado em 18 Junho 2012 às 16:16

Para o Jornal de Negócios, as eleições gregas contribuíram para o “desespero da Europa”, porque as posições dos principais partidos em confronto pareciam inconciliáveis, a tal ponto que “não está excluída a possibilidade de novas eleições”. “Assim, quanto mais tempo passa sem que se consiga resolver a crise em que a união monetária está mergulhada, mais são as hipóteses de nos confrontarmos com uma situação traumatizante”, escreve o diário económico português para quem:

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A realidade e a solução para a crise fica algures entre aquilo que os gregos e os alemães defendem. Mas essa solução para a crise, que respeitaria os valores europeus, já não parece possível. A Europa dividiu-se entre as sociedades dos valores "bons", que estão no Norte da Europa, e as sociedades dos valores "maus", que estão no Sul da Europa. E assim não há solução técnica que salve o projeto europeu.

Na Alemanha, o Frankfurter Rundschau lamenta que os gregos continuem sem poder decidir o seu futuro. Durante a campanha, nem os partidos políticos gregos nem a União Europeia ousaram apresentar aos cidadãos o preço a pagar pela sua escolha:

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O vencedor das eleições gregas, Antonis Samaras, não tem razões para festejar. Terá de, muito rapidamente, formar um governo que se dirige ao impossível. Já em junho, o Estado grego terá de conseguir milhares de milhões de euros para pagar salários e pensões. O mais tardar, em agosto, os credores internacionais vão querer ser reembolsados. É uma triste verdade: os gregos que ontem se levantavam num orgulho desesperado contra a austeridade imposta pela Europa, acordaram hoje como mendigos. […] A UE não lhes vai dar grande margem de manobra. E, assim, se perdeu uma grande oportunidade com estas novas eleições: a oportunidade de obter a legitimação política da direção que a Grécia tomará na crise da dívida.

“Grécia fica no euro; Espanha respira”, titula por seu lado o jornal La Vanguardia. No diário de Barcelona, o editorialista Enric Juliana afirma que

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se impôs a lógica profunda do sistema de poder europeu – um império fraco e estrangeiro com capital em Berlim. […] Numas eleições que põem em causa o conceito clássico de soberania nacional, a sociedade grega votou nos sacrifícios, sem se libertar da sua cólera. […] Os suspiros de alívio eram, ontem à noite, especialmente profundos em Espanha e em Itália, os dois países mais próximos do abismo da dívida pública. Esta semana anunciam-se dois fatores de estabilidade: o voto da Grécia a favor do euro e a publicação das auditorias externas aos bancos espanhóis que, com as decisões do BCE para fazer diminuir as dívidas espanhola e italiana, podem contribuir para uma redução substancial da incerteza.

“A mensagem que chega de Atenas, tal como a que foi enviada por Dublin [através do referendo de 31 de maio sobre o pacto orçamental], acende uma chama de esperança no grande debate sobre a oposição entre democracia e mercados que serve de pano de fundo às convulsões europeias”, escreve o diário italiano La Repubblica. Para o jornal de Roma, que titula “Grécia, continuamos no euro”,

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depois de ter assistido ao crescimento exponencial das pulsões populistas e nacionalistas alimentadas pela crise económica, a Europa pode começar a esperar que a democracia esteja à altura de dar as respostas necessárias tanto aos complexos e difíceis défices como às que são representadas pela dívida soberana. Perante as sirenes do populismo e da cólera, os gregos escolheram o caminho mais difícil, mas também o único que lhes dá a esperança num futuro diferente e melhor. Não era óbvio. Sobretudo porque grande parte dos mercados financeiros mundiais tinha apostado numa solução diferente e mais “fácil”, especulando sobre o possível contágio a Espanha e a Itália que uma saída da Grécia do euro provocaria. […] O único perigo verdadeiro que pode advir das eleições gregas é que Berlim se convence de que foi ultrapassada a enésima emergência e que ainda pode ganhar tempo. Mas o tempo acabou. Como o explicaram ontem os eleitores gregos. Hoje, são os líderes do G20, com os americanos à frente, que o vão fazer. Na cimeira de 28 de junho, será a vez do presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, do chefe do Governo italiano, Mario Monti, e do Presidente francês François Hollande fazerem com que a chanceler o entenda. Não vai ser fácil, mas não se podem dar ao luxo de falhar.

“Os resultados das eleições gregas põem mais uma vez a nu uma profunda divisão”, constata Koen Vidal, editor principal das páginas de internacional do Morgen. Vidal acrescenta que mal as eleições tinham terminado, os investidores começaram logo a especular sobre novas eleições:

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Talvez esteja aqui um dos maiores problemas da crise grega: desenrola-se num clima de confrontação e explosão. Assim, são muitos os que temem as tensões e a violência dos gregos uns contra os outros. […] Mas é também o antagonismo entre a Grécia e o resto da Europa que é doloroso. […] Este ambiente de oposição e de tensões tem como resultado um clima emocional em que os políticos, os investidores e os cidadãos são facilmente tentados por atos estúpidos. […] Para resolver esta crise, é preciso pôr fim a este ambiente de confrontação. Deixar arrefecer. Mesmo que não seja fácil.

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