Frank Stronach apresenta o seu partido Equipa Stonach perante a imprensa austríaca, em Viena, em setembro de 2012.

Frank Stronach, o grande simplificador

O multimilionário octogenário austríaco que vive no Canadá teve uma estreia bombástica na política, depois de ter fundado o seu próprio partido, há nove meses. Nas eleições regionais de 3 de março, este conservador eurocético conta colher os frutos da crise que atravessa os partidos tradicionais, enfraquecidos por escândalos de corrupção.

Publicado em 1 Março 2013 às 12:34
Frank Stronach apresenta o seu partido Equipa Stonach perante a imprensa austríaca, em Viena, em setembro de 2012.

O ancião parece isolado no meio de tanta gente. Centenas de pessoas estão reunidas no restaurante Bärenwirt de Salzburgo, um bardo com o nome artístico Otto Normalverbraucher [Otto Qualquer-um] canta no palco "Steirer men are very good" [Os homens da Estíria são mesmo bons], o público aplaude com entusiasmo. Quatro raparigas, bailarinas acompanhantes da estrela convidada da noite, de lenços às riscas vermelhas e brancas, as cores do novo partido, agitam também elas bandeirinhas vermelhas-brancas-vermelhas. São morenas, o que é surpreendente em Frank Stronach, de 80 anos, nascido na Estíria, que se costuma rodear sempre de loiras. Está sentado no palanque, com a sua equipa a uma distância respeitosa. De olhos postos no prato, batuca na mesa com uma bandeirinha, contagiado pelo ritmo da música – como se fosse convidado numa festa de que desconhecesse o objetivo.

Assim que subiu ao palco, um silêncio respeitoso invadiu o salão. A maioria do público nunca tinha visto o dirigente do partido Team Stronach para a Áustria, senão pela televisão, onde desconcerta habitualmente os jornalistas mais bem preparados, com longos discursos sem pés nem cabeça. É a estrela dos candidatos às eleições do próximo domingo, 3 de março, com vista à formação do novo parlamento regional da Baixa Áustria e Caríntia. Em compensação, não participa nos debates organizados. Porque, na sua opinião, são apenas uma gritaria sem jeito nenhum. A verdade é que Stronach não está habituado a debater ideias e ouvir opiniões diferentes das suas deixa-o profundamente irritado. Foi líder anos de mais para ser hoje apenas um membro de uma equipa, independentemente do nome do seu partido.

Campanha com petiscos e refrescos

Em apenas nove meses, Frank Stronach tem vindo a espalhar a confusão na política austríaca. Passa vários meses por ano no seu país, o Canadá, para onde emigrou na juventude e onde fundou a empresa de peças para automóveis Magna. Hoje multimilionário, quer "servir a Áustria", o seu país de nascimento.

A sua fortuna ajuda-o. Nos eventos de campanha, o seu público é presenteado com petiscos e refrescos. Stronach conta histórias sobre a sua vida, fala da fome, do seu primeiro regresso ao país num bom carro, de ser hoje tão importante que se pode dar ao luxo de recusar um convite da Rainha de Inglaterra. O seu alemão tem um forte sotaque inglês, mas percebe-se bem. Stronach espraia a sua história de “self-made man”, desde os tempos de operário na Estíria ao emprego de mergulhador no Canadá, para chegar à sua vida de milionário.

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Mas quando se propõe falar de política, o seu alemão torna-se hesitante, com muitos "coiso" e "ah" a cada passo. Não importa nada, o público não quer saber, já ouviu o que queria ouvir: valores, respeito, trabalho, sucesso, todos podem chegar lá, os principais partidos devem ser retirados do poder, o sistema enfraquece as pessoas humildes, não as protege. E, a terminar, mais uma canção: "Hand in Hand" [Mão na mão].

Nada de política

No final, de política não se falou nada. Durante duas horas, Frank Stronach recordou pelo menos quatro vezes os montantes que generosamente tem doado. Explicou como é um homem bom, especialmente para os seus operários. Ao contrário de "aqueles lá de cima". O seu panteão só precisa dele próprio.

Mesmo sem ter um programa claro, o partido de Stronach representa uma ameaça para os grandes grupos políticos austríacos de direita, o ÖVP e o FPÖ, porque atrai eleitores do mesmo quadrante. Desde que começou, em 2012, a reunir a sua audiência – tendo constituído em tempo recorde um grupo no Conselho Nacional –, a elite política não tem mãos a medir. As sondagens dão-lhe 10% dos votos. E o seu partido compromete o tradicional equilíbrio entre o ÖVP e o SPÖ [de centro-esquerda] a nível nacional e regional.

Eleitores cansados

O escrutínio de 3 de março na Baixa Áustria e na Caríntia abre um intenso ano eleitoral. Seguem-se outras eleições regionais e, no outono, as legislativas. Em Viena, o Governo de coligação está a trabalhar com correção. Os indicadores económicos são excelentes. No entanto, a sua imagem é bastante fraca. E os eleitores estão cansados do sistema vigente. Perante os inúmeros escândalos de corrupção dos últimos meses, os Verdes destacam-se como os mais íntegros, mas muitos eleitores conservadores não vão votar no seu programa. Já o partido populista de direita FPÖ não se consegue livrar do desagradável odor deixado pelo seu ex-grande líder Jörg Haider.

Frank Stronach é cidadão canadiano, colocou a sua fortuna na Suíça e tem de sair regularmente de solo austríaco por motivos fiscais. Mas quem se importa? A poucos dias de importantes eleições regionais, a seis meses das legislativas, continua sem um programa que vá além das suas três palavras favoritas: "verdade, transparência, equidade". E depois?

De certo modo, o programa é o próprio Frank Stronach: simplificar o sistema fiscal, refrear o nepotismo, reduzir a Função Pública, limitar a influência de Bruxelas e dar mais poder a quem, como ele, há muito provou saber como fazer crescer o dinheiro. Porque o que funciona em economia também funciona na política. Diz ele.

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