Ahlbeck - Świnoujście,na fronteira germano-polaca: início da fronteira que separa os Estados mais antigos da UE dos novos membros. Foto : www.atelier-limo.eu.

Imagens de uma fronteira que já não existe

Uma secção de fronteira, um lugar, uma pessoa. O documentário "La Frontière Intérieure" [Fronteira interior], será exibido ao longo de todo o Verão, em 40 pontos do traçado da antiga Cortina de Ferro. Sete retratos para contar os obstáculos, sobretudo mentais, que impedem os europeus de se compreenderem entre si.

Publicado em 4 Setembro 2009 às 17:15
Ahlbeck - Świnoujście,na fronteira germano-polaca: início da fronteira que separa os Estados mais antigos da UE dos novos membros. Foto : www.atelier-limo.eu.

Chamaram ao seu espaço de trabalho Limo. Não de limonada, nem de limusina, tão-pouco de maré-baixa. Não, limo significa fronteira, em esperanto. Essa fronteira que fascina para lá das línguas que separa. Por trás deste Atelier Limo, acoitam-se dois jovens franceses, Simon Brunel e Nicolas Pannetier, que agora vivem em Berlim. Certamente não por acaso, a temática da fronteira continua presente na capital alemã. Os dois antigos estudantes de Arquitectura concluíram há pouco o seu documentário La frontière intérieure ".

Uma viagem ao longo da antiga Cortina de Ferro, do Báltico ao Adriático, em busca dos que foram marcados para sempre por essa fronteira agora desaparecida. Olaf, Zbigniew, Vaclav ou Vanda não se conhecem, mas têm todos uma história para contar que envolve a fronteira que reúne, isola, destrói e reconstrói. Durante o Verão, esta série de sete retratos será projectada em 40 lugares diferentes ao longo da dita fronteira. Para debater e se aprender uns com os outros, para lá de uma simples linha de demarcação.

Com a projecção de “La frontière intérieure” ao longo da antiga Cortina de Ferro, este Verão, o vosso filme regressa a donde veio. Como lhes surgiu a ideia deste projecto?

Estávamos em Graz, na Áustria, no momento em que os antigos países da Europa de Leste entraram para a União Europeia, e quisemos saber o que isso significava concretamente. Daí termos concluído o curso de arquitectos com o projecto de uma base de dados sobre essa fronteira. Andámos em trabalho de campo durante três meses, partindo do mar Báltico e seguindo a fronteira germano-polaca até ao mar Adriático, entre a Eslovénia e a Itália. O objectivo desta primeira etapa foi recolher sons, imagens, impressões, utilizando sempre o mesmo protocolo nos 238 pontos que visitámos ao longo dessa fronteira. Chegámos a atravessar a raia 4 ou 5 vezes num só dia.

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Como é que um projecto de fim de curso de Arquitectura se torna num filme?

O nosso projecto, ainda que um pouco original, foi muito bem acolhido. Encontrámos depois Barbara Keifenheim, cineasta e antropóloga, que nos incentivou a fazer o filme. Decidimos então avançar com este princípio: uma secção de fronteira - um lugar - uma pessoa. Seleccionámos sete pessoas com quem tínhamos entrado em contacto na primeira viagem e voltámos a procurá-las. As coisas sofreram uma ligeira aceleração em Novembro de 2007, quando soubemos que os postos de fronteira iam ser destruídos daí a um mês. Queríamos presenciar esse momento.

Apesar de composto por sete retratos, o personagem principal do filme é a própria fronteira. O que tem ela de tão fascinante?

A fronteira é algo simultaneamente visível e invisível. Cada um só consegue dar uma definição pessoal de fronteira e achamos que se trata do espaço do paradoxo. De separação e de encontro. É um espaço povoado de fantasmas, onde se enovelam as escalas: é uma linha que separa – duas cidades, dois países e, no caso da Cortina de Ferro, dois blocos ideológicos.

O vosso filme faz o espectador atravessar numerosos países, mas a língua principal é sempre o alemão. Como se processou a comunicação com os sete personagens?

A fim de preservarmos a autenticidade do testemunho, não quisemos intérpretes. Excepto uma vez, em que a filha do guarda do museu húngaro se pôs a traduzir o que dizia; mas isso proporcionou igualmente cenas muito bonitas. Por conseguinte, tivemos necessariamente de nos concentrarmos em pessoas com as quais podíamos comunicar. Só que isso também produz às vezes cenas insólitas, como o comerciante polaco que se exprime muito por gestos.

Vão agora mostrar este filme em 40 locais de projecção ao longo da fronteira. O que espera dessas sessões?

O filme tem, em si, vocação para voltar aos lugares onde foi rodado. Para tal, vamos retomar o percurso da primeira viagem, mas no sentido inverso, começando em Koper, na Eslovénia, em Julho, até à Polónia, em Outubro. O objectivo, mesmo à nossa ínfima escala, é fazer reflectir. Apesar da actual abertura das fronteiras, a Europa não é de todo um mar de rosas. Há ainda coisas escondidas e temas de que é necessário falar. Em certos aspectos, este filme é provocador, dá um grande pontapé no formigueiro e, portanto, esperamos reacções diferentes, sabendo que, por vezes, nos colocamos em perigo. Queremos é iniciar o diálogo e esperamos que este filme contribua para isso.

Sébastien Vannier

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