Turistas no Parc Güell. Foto : whatbarcelona.com

Máfia e estudantes gostam de Barcelona

Os italianos são a maior comunidade estrangeira na capital da Catalunha. A "movida" da cidade e o seu dinamismo económico constituem um incentivo para os jovens que partem em busca de oportunidades e novidades. O problema é que a Máfia italiana também descobriu os encantos da região... como conta o La Repubblica.

Publicado em 23 Julho 2009 às 18:21
Turistas no Parc Güell. Foto : whatbarcelona.com

Não são apenas as Ramblas, os pináculos fantásticos da catedral da Sagrada Família ou o bacalhau com piri-piri do detective Pepe Carvalho que atraem todos os anos novos residentes italianos a Barcelona e que transformaram a cidade de Gaudí e Mirò no novo El Dourado para os nossos compatriotas. "É uma questão de estado de espírito e de atitude", explicava esta semana ao Le Monde, o chef do Frioul, que fez fortuna na capital catalã."Nesta cidade, as pessoas são optimistas e os estrangeiros são recebidos como em mais lado nenhum do mundo."Este ano, a comunidade italiana passou à frente de todas as outras que recentemente se instalaram na cidade: equatorianos, paquistaneses e bolivianos.

A última fornada veio seguramente no encalce de Zlatan Ibrahimovic, quando o jogador abandonou o Inter [de Milão] e se transferiu para o magnífico Barça, mas é um facto que 22 685 italianos se recensearam recentemente em Barcelona e que as chegadas continuam a fazer-se a um ritmo de 15 a 20% ao ano.Actualmente, vivem na Catalunha cerca de 50 mil italianos.Em 2000, eram apenas 15 mil. São os números oficiais, mas é bem possível que sejam o dobro.Ao contrário da tendência normal, com os reformados no topo das estatísticas, os recém-chegados à Catalunha são jovens, entre os 25 e os 40 anos, muitas vezes recém-licenciados, desiludidos com a conjuntura política e social italiana e com a falta de saídas profissionais.

As condições que encontram em Barcelona nem sempre são melhores.A maior parte trabalha na restauração, no comércio, ou nos call center.Trabalhos precários, mal pagos, mas numa cidade onde se "vive melhor".Há mais de uma década que Barcelona está na moda para os jovens italianos, que aí começam uma vida nova, mas também como destino turístico ou académico (um quarto dos estudantes Erasmus são italianos).Muito diferente de Madrid, a cidade costeira de Barcelona é encantadora, com as suas pequenas praças e fontes, banhada pelo sol, onde quase nunca chove, com uma diversidade cultural invejável, mas nunca intolerante nem fechada.

Esta nova "paixão italiana", como escreve Le Monde, não foi afectada pela crise.Aqui, a vida não é mais barata do que em Itália, e nestes últimos tempos as possibilidades de arranjar emprego são as mesmas e igualmente aleatórias.O Consulado estima que a conjuntura económica abrande o ritmo de chegadas, mas não o destino dos viajantes:a comunidade italiana em Barcelona dá sinais de continuar a crescer.

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É verdade que esta "invasão" foi estimulada pela "Lei Tremaglia" que permitiu a muitos jovens descendentes de emigrantes italianos na América Latina recuperar a nacionalidade de seus pais e avós:argentinos, uruguaios, brasileiros instalaram-se em Espanha mais por razões linguísticas do que de trabalho.

Mas Barcelona também é um nome que brilha, uma marca que atrai.Como referem as brochuras da Câmara, é a cidade mediterrânica por excelência, que o dinamismo económico destes últimos dez anos tornou muito atraente para milhares de estudantes europeus e italianos que nela encontraram o seu primeiro emprego, ou os seus primeiros instrumentos de trabalho.Os italianos que adoram Barcelona criaram um site na internet onde divulgam a todos aqueles com vontade de se instalar muitas informações, desde a procura de alojamento a cursos de Espanhol.Barcelona possui para além disso uma imagem de cidade liberal, burguesa mas socialista, de capital anti-fascista da Europa durante a guerra civil de Espanha, tal como a defendeu e descreveu George Orwell.Em suma, é uma outra Espanha, muito diferente da árida Castilla.

Claro que nem tudo o que brilha é ouro.A Catalunha e a Costa do Sol, até Marbella, também servem de refúgio a 70% dos chefes da Camorra napolitana.Um movimento migratório que começou nos idos dos anos 80 e que nunca abrandou.Os juízes italianos consideram que este pequeno paraíso é também uma plataforma de apoio para a Cosa Nostra e o clã ‘Ndrangheta, a partir da qual as suas organizações controlam o tráfico de droga destinado à Europa, como foi confirmado pela detenção de seis "padrinhos" em Marbella, a cidade à beira-mar que a polícia espanhola rebaptizou com o nome de "Cosa Nostra", devido à grande concentração de mafiosos italianos que nela residem.

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