A UE e a proteção ambiental

Mais vale abandonar uma União do que ceder aos lobbies

A pressão exercida pelos representantes da indústria agroalimentar e da construção para uma flexibilização da regulamentação europeia no que diz respeito à proteção da natureza coloca seriamente à prova os mais pró-europeus ecologistas britânicos, estima um dos mais influentes entre eles, George Monbiot.

Publicado em 17 Agosto 2015 às 19:53

Em vários países da UE, as normas europeias sobre a proteção da natureza – a diretiva sobre as aves selvagens e a relativa à preservação dos habitats naturais – são os únicos recursos legais possíveis em matéria de proteção ambiental, observa George Monbiot no The Guardian. No entanto, segundo o defensor ambiental britânico, as reformas propostas pela Comissão Europeia vão enfraquecer substancialmente o seu alcance. Estas colocam, na verdade, “moralmente em perigo” um “conjunto de proteções fiável, embora por vezes excêntrico,” ao ceder às pressões do lobby da indústria, que há muito realiza campanhas para flexibilizar a regulamentação sobre o ambiente.
Recentemente, a Comissão Europeia abandonou as suas propostas em matéria de proteção dos solos devido à pressão exercida pelo lobby dos agricultores e do Governo britânico. Caso ocorra uma capitulação similar com as diretivas da natureza, afirma Monbiot, o interesse para os ambientalistas “de uma continuação da adesão” à UE “não será evidente” e privará os adversários de uma “Brexit” de um argumento de peso.
Monbiot não defende a saída do Reino Unido da UE, mas convidou os seus leitores a contribuir para a consulta pública lançada pela Comissão sobre as diretivas das “aves” e dos “habitats” (agora terminada). A sua intervenção testemunha a dessatisfação crescente face à UE entre os meios de comunicação britânicos de esquerda, nomeadamente no que diz respeito às negociações sobre o TTIP e à crise grega.

As ameaças às diretivas sobre a natureza não provêm do setor económico enquanto conjunto, mas da pressão exercida por duas das indústrias mais destrutivas da UE, o lobby da agroindústria e o da construção. O facto de a Comissão ter decidido dar-lhes ouvidos e ignorar o ponto de vista de todos os outros mostra tudo o que está a correr mal. Desta forma, quando chegar a hora do referendo (sobre a permanência do Reino Unido na UE), enfrentarei um dilema que nunca imaginei enfrentar. Sou um internacionalista. Acredito que as questões que transcendem as fronteiras nacionais devem ser abordadas em conjunto e não individualmente. […] Não tenho nada em comum com os eurocéticos de direita, que parecem achar que a UE os impede de exercer o seu direito divino de explorar os outros e destruir o que os rodeia. Sinto que devo juntar-me à defesa desta instituição face às forças da reação, mas esta sucumbiu de forma tão catastrófica a estas forças que não resta muito que defender.

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