Mario Monti: Mudar as políticas económicas, mas não por pressão dos nacionalismos

Publicado em 10 Maio 2013 às 14:19

Dois anos mudam muita coisa. Em 2011, entrevistámos Mario Monti, por ocasião da conferência State of the Union, organizada no quadro do Festival da Europa, em Florença (de que o Presseurop é parceiro). Na altura, o ex-comissário europeu e presidente da Universidade Bocconi respondeu-nos descontraidamente, durante uma pausa dos trabalhos. Este ano, foi um ex-primeiro-ministro de Itália, cercado por guarda-costas e com uma agenda controlada ao milímetro, que participou na edição de 2013 do State of the Union. Mas após uma curta conferência de imprensa para os muitos jornalistas italianos ávidos do seu prognóstico sobre o governo do seu sucessor, Enrico Letta, Mario Monti aceitou parar dois minutos para nos responder, em francês.
Há dois anos, o antigo comissário europeu e reitor da Universidade Boccotransmitiu-nos a sua opinião sobre a ameaça que a crise representava para o mercado único e o euro. O futuro destes dois pilares da União Europeia parece hoje assegurado, mas subsistem dúvidas sobre a forma como a UE e os Estados-membros combatem a crise. Considera Mario Monti que a atmosfera que se vive na Europa é hoje mais favorável à resolução da crise do que em 2011?

Acho que sim. Muitos progressos concretos têm sido feitos no sentido da resolução da crise. Também foram projetadas políticas europeias para futuro, traçando um plano, que está a ser finalizado, para uma verdadeira e profunda união económica e monetária, sob a égide do grupo presidido por Van Rompuy. E acho que, finalmente, os Chefes de Estado e de Governo estão a levar mais a sério aspetos políticos e psicológicos, tais como o nacionalismo ou os populismos. Isto não chega necessariamente para mudar as políticas económicas. De qualquer modo, considero que precisam de ser mudadas, mas não em resposta a fenómenos nacionalistas e populistas. Mas se quisermos levar a cabo certas políticas num clima muito exposto ao risco de rejeição por via nacionalista e populista, é preciso tomar cuidados adicionais.
Durante o seu mandato de Presidente do Conselho de Itália, em particular na primavera de 2012, Mario Monti tentou, com o francês François Hollande e o presidente do Governo espanhol, Mariano Rajoy, reequilibrar as relações entre Estados-membros e obter uma certa flexibilização das posições da Alemanha. Acha que as diferenças de pontos de vista entre a França e a Alemanha são um elemento sustentável ainda que incómodo no tratamento da crise e da continuidade do projeto europeu?
Continuo convencido de que uma boa cooperação franco-alemã é uma condição essencial para o avanço da Europa. Essencial, necessária, mas não suficiente. Portanto, é também muito importante que o eixo franco-alemão não seja feito de uma forma que dê a impressão de ser exclusivo e discriminatório. Foi um pouco o caso do acordo entre Merkel e Sarkozy, mas muito menos sensível no momento a que assisti, de Merkel e Hollande, além de vários outros.

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