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As celebrações do Dia da Europa, no dia 9 de maio de 2014, em Chisinau.

“Não vamos ficar às portas da UE”

Na sua tomada de posse, o novo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, afirmou que não haverá novos alargamentos durante o seu mandato. Uma posição ditada pelos eventos na Ucrânia e destinada a mudar, estima um escritor moldavo.

Publicado em 28 Julho 2014 às 07:36
As celebrações do Dia da Europa, no dia 9 de maio de 2014, em Chisinau.

Nós, moldavos, vivemos submersos pelas nossas obsessões internas (a suspensão dos miniautocarros, os cismas dos comunistas do antigo presidente Vladimir Voronine, etc.), mas também pela guerra declarada pela Rússia na Ucrânia. É natural, porque não podemos ignorar o que se passa no nosso próprio país, nem podemos fingir que não compreendemos o que se passa nos países vizinhos.

Entretanto, a Europa elegeu um novo Parlamento e trava-se uma luta intensa para ocupar os cargos de comissário no executivo europeu. Esperamos vir a dispor, na nova legislatura de Bruxelas, de um número máximo de amigos e de defensores, como era o caso no Parlamento anterior, que estimulou e tornou possível a assinatura do Acordo de Associação.

Infelizmente, no seu discurso de tomada de posse, o novo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, proferiu uma frase infeliz, pelo menos para os moldavos. Juncker declarou que: “Não haverá um novo alargamento nos próximos cinco anos […]. A UE tem de interromper o seu processo de alargamento para consolidar o que foi realizado com os Vinte e Oito”.

Não estou a tentar julgar a sabedoria da fórmula utilizada pelo novo presidente da Comissão, nem a tentar saber se lhe passou pela cabeça que as suas palavras iriam sufocar as aspirações de milhões de pessoas na Europa de leste que vivem sob a ameaça direta da Rússia. E esta ameaça não se traduz apenas por ataques armados, como na Ucrânia, mas também por embargos económicos, por uma ofensiva de propaganda virulenta, fascistoide, por operações secretas de sabotagem, pela instigação de separatismos locais, etc. – o arsenal é considerável e parece inesgotável.

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Washington e Moscovo têm uma palavra a dizer na política da UE

[[A declaração do novo presidente da Comissão pode comprometer os esforços de reformas da República da Moldávia]], liderada por um Governo que pôs em risco a sua credibilidade em nome da ideia europeia, e motivar as forças pró-russas de cá.

No entanto, não quero dramatizar as declarações de Juncker. Estas foram obviamente proferidas num momento solene, de caráter protocolar, para lançar um apelo à conciliação aos populistas eurocéticos que conquistaram vários lugares em Bruxelas. Por mais estranho que pareça, a integração europeia da República da Moldávia depende em grande parte de nós. Porque somos os únicos a poder, com a votação prevista em novembro de 2014 [eleições legislativas], reforçar o Governo com forças capazes de construir uma nova coligação pró-europeia. Será este o nosso argumento face aos eurocéticos internos e externos.

Somos protegidos pela Ucrânia, onde está a ser verdadeiramente derramado sangue pela ideia europeia. Seremos ajudados pelo grupo dos países-membros da Europa central, com o seu núcleo duro – a Polónia, os países bálticos e a Roménia – que defenderão com determinação a causa da República da Moldávia. Sem esquecer o contributo fundamental dos Estados Unidos, que, à exceção dos escândalos de espionagem, a vigilância das “toupeiras” russas infiltradas nas chancelarias ocidentais, têm uma palavra a dizer quanto à política europeia.

A evolução dos acontecimentos na Ucrânia pode mudar a atitude derrotista de Bruxelas. As previsões de Juncker são inevitavelmente provisórias e conjunturais numa Europa cuja agenda é definida por uma Rússia totalmente fora de si.

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