"Meninos, amanhã o que vai acontecer?"… Chibatadas nos mimados e nos mal comportados!

O ajudante mau do Pai Natal

Por toda a Europa, o Pai Natal tem um duplo em negativo. Seja vestido de negro, enfeitado com cornos, em trajes cómicos ou aparecendo acompanhado de uma bruxa velha tem uma única obsessão: aterrorizar os miúdos mal comportados.

Publicado em 4 Dezembro 2009 às 16:58
"Meninos, amanhã o que vai acontecer?"… Chibatadas nos mimados e nos mal comportados!

E tens a vara à tua beira?” “A vara também veio’, respondi. Mas é só para os meninos muito, muito maus, que vão levar com ela nos lombinhos.” É assim que o Menino Jesus do poema Knecht Ruprecht de Théodor Storm apresenta a figura maléfica do Natal. De acordo com uma tradição que data do final da Idade Média, São Nicolau – que muitos países paganizaram na figura do Pai Natal, e que recebeu o subido patrocínio da Coca-Cola no século passado – enche os sapatinhos das crianças durante a noite com presentes. Mas não é o único visitante do dia 6 de Dezembro. Traz consigo o seu alter ego negativo, que tem por missão inculcar boas maneiras aos mais pequenos – se necessário, com umas vergastadas à mistura. Tudo isso para não ficarem uns meninos malcriados ou uns monstrinhos estragados de mimo. A missão é a mesma para os ajudantes nos países vizinhos: Hans Trapp, na Alsácia, Zwart Piet (Pedro Preto), nos Países Baixos, e a versão “hardcore”, o Père Fouéttard (Pai Vergastada), no Nordeste da França. Nos quatro cantos do Norte e Centro da Europa, o ajudante mau aparece frequentemente pintado de preto, para ter um ar muito, muito assustador. Na Bélgica e Holanda, é um escravo negro vestido com um fato garrido. Talvez devido à sua silhueta sombria, é conhecido por Schmutzli, na Suíça, um personagem que distribui carvão e beterraba em vez de guloseimas.

Na Europa Central católica, como seja na Áustria, na Hungria ou na República Checa, a tradição pagã gerou o Krampus, um personagem de rosto diabólico, com chifres, que não hesita em dar palmadas no rabo das crianças mal comportadas. Cuidado que o Krampus aparece de preferência em grupo. Ainda hoje em muitas cidades, há desfiles tradicionais em que figuras assim mascaradas percorrem as ruas. Enquanto São Nicolau vai recuando pouco a pouco, nas regiões europeias protestantes, perante o Menino Jesus, o seu companheiro malévolo resiste com valentia. Só o Sul da Europa católica evitou a sua vara. Nestas regiões, reinam outros malfeitores. É o caso da Befana italiana, uma velha horrível que aterroriza a população com a sua vassoura. Mas, num golpe de teatro, a “befana fascita” tentou adoçar a sua imagem, transformando-se em bruxa boazinha, em nome da “romanização” da Itália, e enche as crianças de presentes. Contudo, para as crianças insolentes, o “carbone dolce” (carvão doce) continua a fazer parte do seu rol de prendas. De salientar que a Befana passa nas chaminés só um mês depois das outras figuras maléficas do Natal, aquando da chegada dos Reis Magos, a 6 de Janeiro.

Katharina Kloss

Europa do Sul

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Tradição exclusiva para o barbudo

Mais a sul, a tradição barrou completamente a entrada ao ajudante mau do Pai Natal. Era ele que carregava os sacos dos presentes, que o barbudo distribuía como queria: aqui, carrega-os o próprio e cara alegre! O desaparecimento das fronteiras inter-europeias é capaz de nos obrigar a levar com ele, no futuro. A acreditar nos “argumentos” nórdicos, podia-se até pensar que íamos ganhar alguma coisa com isso: é que, quando os sacos do Pedro Preto ficam vazios, ele volta atrás e enche-os com as crianças mal comportadas. Mas se houver um referendo, rapidamente o lado do “Não” desmontará o embuste: é tudo apenas um pretexto para valorizar a bondade do Pai Natal, que salva os monstrinhos e ainda os enche de doces. E cá continuaremos nós na mesma, a aturar os meninos malcriadinhos...

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