Manifestants exigindo "um acordo forte sobre o clima", em Copenhaga, a 12 de Dezembro (AFP)

O clima aquece em Copenhaga

Milhares de defensores do ambiente estão em Copenhaga, para influir nas negociações entre Estados sobre o aquecimento climático. Cada vez mais profissionais, têm, contudo, dificuldade em pôr-se por vezes de acordo sobre a estratégia a seguir.
Publicado em 14 Dezembro 2009 às 14:32
Manifestants exigindo "um acordo forte sobre o clima", em Copenhaga, a 12 de Dezembro (AFP)

É de comboio, naturalmente, que Ole Seidenberg se desloca à conferência das Nações Unidas sobre o Clima. Em Copenhaga, este jovem de 26 anos resolveu não perder de vista por um minuto a chefe da delegação alemã, como já fizera durante as reuniões de preparação, em Banguecoque e Barcelona. Outros “negociator trackers” como ele “seguirão” os representantes indianos ou espanhóis, a fim de traduzirem nos seus blogues “a forma como somos representados”. Também enviam mensagens para os telemóveis de todos os militantes, “por exemplo, quando a delegação europeia abranda. Em poucos minutos, os manifestantes apresentam-se diante da chancelaria [em Berlim]”, explica Seidenberg.

Ole Seidenberg representa apenas um nó da vasta rede formada pela sociedade civil globalizada. De todos os cantos do mundo, cidadãos e organizações não-governamentais (ONG) lançam a mesma mensagem: é hora de passar aos assuntos sérios.

Apesar de parecerem muito unidos, estes activistas entregam-se a duras quezílias de bastidores. Numa altura em que a urgência da situação pareceria incitar a fazer tudo para que estas negociações tivessem êxito, algumas vozes fazem-se ouvir no sentido de criticar o próprio processo: é necessário reformar o sistema ou alterá-lo? Participar nas negociações ou perturbá-las?

A maior parte das grandes ONG insiste em pressionar os governos no sentido de obter um reforço dos actuais regulamentos. Mas outras redes, implantadas nos países em desenvolvimento, consideram que os objectivos de justiça e defesa do ambiente no mundo passam por uma mudança radical de modelo económico. A palavra de ordem seria “alterar o sistema, não o clima”.

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Antigos activistas tornados diplomatas

Os camponeses asiáticos, os sindicalistas e os representantes dos povos indígenas foram os primeiros a manifestar-se diante do edifício da ONU, há dois anos, durante a conferência de Bali – contra os governos, mas também contra os defensores do ambiente dos países industrializados. A sua cólera era dirigida, nomeadamente, aos instrumentos de mercado utilizados para lutar contra o aquecimento climático, como seja o projecto de um mercado de carbono e o CDM (sigla inglesa de mecanismo para um desenvolvimento limpo).

Estas duas iniciativas permitem que os grandes poluidores comprem direitos para poluir em qualquer lugar que pretendam. Servem, pois, os bancos e os fundos de investimento, em detrimento da protecção do ambiente. Foi por isso que o grupo Climate Justice Action (CJA) decidiu atacar as negociações sobre o clima em Copenhaga. A operação está prevista para o dia 16 de Dezembro, coincidindo com a chegada à capital dinamarquesa dos ministros do Ambiente e dos Chefes de Estado e de Governo.

Manifestar-se contra as Nações Unidas, a comunidade onde todos os Estados são iguais em direitos? Parece desconcertante, sobretudo porque a sociedade civil exerce uma forte influência sobre estas negociações internacionais. Cerca de mil ONG receberam acreditações para a anterior cimeira. O núcleo duro destas organizações deu origem à rede [Climate Action Network](http:// http://www.climatenetwork.org/) (CAN), que reúne 450 organizações, incluindo a Oxfam, o Greenpeace ou o WWF. Perto de uma centena de especialistas seus participam em grupos de trabalho.

As informações que aí recebem permitem apresentar propostas dentro dos grupos de trabalho ou fazer conferências de imprensa orientadas. O “Fóssil do dia”, atribuído aos países mais reticentes à mudança, tornou-se uma tradição. Com os seus conhecimentos, os membros da CAN podem evitar muitas derrapagens.

As formulações usadas nas conferências talvez não sejam tão inúteis como se possa julgar. Por exemplo, duas expressões quase sinónimas – “gestão responsável das florestas” e “exploração sustentável das florestas” – escondem realidades muito diferentes: uma defende a protecção das florestas e a outra a sua exploração comercial. Muitos negociadores, nomeadamente do Sul, recorrem à avaliação das ONG e dirigem-lhes mesmo palavras de incentivo: “Devem exercer mais pressão sobre nós!” Em 15 anos, os responsáveis políticos e os militantes aprenderam a conhecer-se. Tão bem que alguns Robin dos Bosques do ambiente se tornaram mesmo diplomatas.

Visto de Copenhaga

Excesso de zelo da polícia dinamarquesa

Durante a imponente manifestação ecologista de sábado, 12 de Dezembro, em Copenhaga, a polícia dinamarquesa utilizou a "reforma do vandalismo", alcunha para os novos direitos que lhe foram outorgados para garantir a manutenção da ordem durante a conferência sobre o aquecimento global. Um desses direitos é a possibilidade de prender pessoas presentes no local dos confrontos, mesmo que não participem nos mesmos.

Embora aceite esta medida, o Berlingske Tidende comenta que "a reforma do vandalismo põe em risco os direitos jurídicos dos cidadãos. A polícia deve, pois, avaliar a relação entre o número de pessoas detidas, quase 1000, e o pequeno número de arguidos". O diário conservador assinala que é preciso garantir um tratamento decente para os detidos, o que "não foi claramente o que ocorreu no sábado". O jornal conclui que "é agora – ao ser confrontada com a realidade – que a reforma vai demonstrar o seu valor".

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