Aeroporto internacional de Gaza, encerrado desde 2001 após bombardeamentos israelitas.

O "Estado membro" mais dispendioso da União

O Estado judeu goza do estatuto de parceiro preferencial da UE, apesar de o exército israelita destruir, vezes sem conta, o que os impostos europeus financiam na Palestina.

Publicado em 18 Agosto 2010 às 11:20
Aeroporto internacional de Gaza, encerrado desde 2001 após bombardeamentos israelitas.

Nada mais do que alguns escombros é o que resta do orfanato Al Karameh, na cidade de Gaza. A casa, que acolhia 50 crianças palestinianas, foi destruída pela aviação israelita durante a operação Chumbo Fundido, em janeiro do ano passado. O centro custou um milhão, 198 mil e 718 euros e metade desse investimento foi pago pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional (AECID) e pela Fundação Internacional Olof Palme.

Este é apenas um dos 78 projetos financiados com dinheiro europeu que Israel destruiu nos, últimos dez anos, nos territórios palestinianos. Segundo um relatório da Comissão Europeia, o exército israelita dedicou-se a atacar, nos territórios palestinianos, infraestruturas e projetos humanitários financiados pelos países membros da UE num montante superior a 79,5 milhões de euros, segundo os cálculos mais conservadores. Destes, pelo menos oito instalações foram integralmente pagas com fundos espanhóis, num montante superior a 33 milhões de euros.

Parceria suculenta

Mas, ao mesmo tempo que destruía sistematicamente esses projetos europeus, Israel conseguia estabelecer com a União Europeia uma relação muito benéfica. “O Acordo de Associação traz muitas vantagens a Israel na sua relação com a União Europeia, tanto na esfera política como na económica”. É assim que o Ministro dos Negócios Estrangeiros israelita resume os benefícios do Acordo de Associação assinado com a UE, em 2000.

Newsletter em português

A Europa é o principal mercado de exportação para os produtos agrícolas israelitas e destinou 637 milhões de euros para Israel, através do Banco Europeu de Investimentos. Só no ano passado, foram concedidos 25 milhões de euros para um projeto de uma estação dessalinizadora em Hadera, no norte de Telavive, que já tinha sido financiada com 120 milhões em 2007.

Em contrapartida, desde que começou a segunda Intifada, em 2000, o Governo israelita levou a cabo uma campanha de destruição de instalações palestinianas. O aeroporto, as estradas, as pontes, as centrais elétricas, as estações de tratamento de resíduos, os hospitais, as estufas e as quintas sofreram o castigo coletivo fruto das operações militares israelitas.

Críticas à passividade

A UE ainda não ousou reclamar de Israel o pagamento de uma compensação pelos danos causados nas suas construções na Palestina. “Os projetos financiados pela UE pertencem, legalmente, à Autoridade Palestiniana e não temos conhecimento de nenhum pedido de indemnização apresentado por eles contra Israel”, disse, no ano passado, a então Comissária Europeia para as Relações Exteriores, Benita Ferrero-Waldner, em resposta às perguntas dos eurodeputados sobre os projetos europeus destruídos pelo exército israelita. “Seria justo pedir uma compensação a Israel pela perda de dinheiro europeu”, defende o eurodeputado austríaco Johannes Swoboda.

A passividade europeia foi criticada por várias ONG internacionais. “O problema é que a UE quer deixar de ser o pagador do processo de paz enquanto os Estados Unidos se prepara para ser o mediador”, explica Brigitte Herremans, especialista em Médio Oriente da ONG belga Broederlijk Denle. "E a UE não quer pressionar Israel e ficar sem qualquer tipo de influência."

O projeto mais caro foi o do aeroporto de Rafah, situada no sul da Faixa de Gaza. Os numerosos bombardeamentos israelitas e a ação dos seus bulldozers sobre a única pista destruíram-no completamente. Agora, restam apenas esqueletos do terminal e um ou outro edifício de apoio. Da torre de controlo não sobre absolutamente nada e a pista converteu-se numa pedreira onde os palestinianos vão recuperar o asfalto, aos bocados, para o usarem como material de construção.

Instituições europeias

Um lóbi poderoso em Bruxelas

"Nos últimos anos, a influência de Israel na Europa aumentou, graças aos grupos de pressão instalados em Bruxelas e nas restantes capitais europeias", afirma o Público. Essa atividade de lóbi tem por objetivo não só influenciar a política da UE para o Médio Oriente, "mas também as políticas individuais dos países europeus, sobretudo no que se refere ao conflito israelo-palestiniano e ao Irão", sublinha o jornal. Tal política foi iniciada pelo poderoso American Jewish Committee, que abriu um escritório em Bruxelas em 2004. Outras organizações, como o European Jewish Congress, B´nai B´rith, o "think tank" Transatlantic Institute ou o European Friends of Israel, uma "aliança formada por deputados europeus de várias tendências", atuam, no essencial, para "combater o antissemitismo", adianta o jornal. Essa aliança sugeriu, designadamente, a criação de uma "política policial comum" contra o antissemitismo.

Tags

É uma organização jornalística, uma empresa, uma associação ou uma fundação? Consulte os nossos serviços editoriais e de tradução por medida.

Apoie o jornalismo europeu independente.

A democracia europeia precisa de meios de comunicação social independentes. O Voxeurop precisa de si. Junte-se à nossa comunidade!

Sobre o mesmo tópico