Presidenciais francesas

O vento começa a mudar na Europa

Segundo a imprensa europeia, a primeira volta das eleições presidenciais em França tem uma vencedora, Marine Le Pen, e dois vencidos, Nicolas Sarkozy e… a Alemanha.

Publicado em 23 Abril 2012 às 14:14

Havia muito que a necessidade de uma segunda volta, que será disputada por François Hollande e Nicolas Sarkozy, era anunciada pelas sondagens, que, nos últimos dias, colocavam em primeiro lugar o candidato socialista. Em contrapartida, a votação obtida pela candidata da Frente Nacional não estava prevista. Com perto de 20% dos votos, Marine Le Pen vai ter peso na campanha do Presidente cessante.

Para o Financial Times Deutschland, o segundo lugar de Nicolas Sarkozy é uma "humilhação", que reflete a "rejeição brutal" de que este é alvo. Este diário alemão considera que a primeira volta não é apenas "um resultado, mas um veredicto contra um Presidente incapaz de realizar as reformas necessárias". Convencido de que os franceses querem desembaraçar-se de Sarkozy a qualquer custo, o FTD salienta que François Hollande poderá ter um sentido do pragmatismo, essencial para sair da crise:

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Os resultados desta primeira volta contêm em si uma grande oportunidade e, ao mesmo tempo, um risco ainda mais significativo. Paradoxalmente, essa oportunidade esconde-se por trás da aparência incolor de Hollande e da sua presença pouco dinâmica. Se não houver um milagre nas duas próximas semanas, a França irá ter um Presidente enfadonho, no lugar de alguém que faz constantemente a sua autopromoção. Mas, devido ao seu caráter discreto e à sua falta de determinação, Hollande poderá, melhor do que o seu antecessor, ser capaz de lançar uma política pragmática de reformas necessárias ao país, para sair da crise da dívida e da miséria económica.

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Em Varsóvia, o editorialista do diário Rzeczpospolita, Marek Magierowski, considera que "Nicolas Sarkozy vacila". Segundo Magierowski, o Presidente cessante

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terá dificuldade em conquistar os apoiantes de Marine Le Pen, muitos dos quais deverão ficar em casa daqui a duas semanas. Se quiser sonhar com a reeleição, Sarkozy deverá arriscar tudo e deslocar-se mais para a direita. Decididamente mais para a direita. Se quiser ganhar, terá que se tornar lepenista. Nem que seja só por algum tempo.

Por seu turno, o jornal El País considera que os efeitos da votação em França ultrapassam as fronteiras daquele país. Este diário de Madrid escreve:

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Toda a Europa, e não só, se sente afetada por estas eleições, em que se defrontam conceções diferentes da integração ao nível do continente. Apesar de, na última etapa, Sarkozy se ter aproximado das teses de Hollande, que defende que, na UE e, em especial, na zona euro, devem ser delineadas estratégias de crescimento, e não apenas medidas de austeridade asfixiantes, existem outros elementos, como o controlo da imigração na UE, que os separam. Seria paradoxal que o principal aliado de Rajoy [primeiro-ministro espanhol] na UE viesse a ser um socialista no Eliseu. Mas só aparentemente, porque Sarkozy foi isso mesmo para [o socialista José Luis] Zapatero.

Para o jornal grego To Vima, a votação em França constitui "uma lição para a Alemanha". "A derrota de Nicolas Sarkozy não é apenas a sua própria derrota, mas também a da política alemã", afirma este diário de Atenas. Uma política que Sarkozy "apoiou fielmente". O jornal salienta que, destas primeiras eleições importantes desde a assinatura do pacto orçamental, se destacam duas mensagens:

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Em primeiro lugar, que o papel de liderança da Alemanha e da França é a principal questão que divide o eleitorado francês. Em segundo, que, apesar de estar a ser menos atingido, o povo francês sente as consequências da política imposta pela Alemanha na Europa […]. Se a segunda volta confirmar a derrota de Sarkozy e a França mudar de Presidente, isso não significa que o novo chefe de Estado vá realmente reagir contra as imposições que a Alemanha faz à Europa. Em especial, porque os mercados ameaçariam rapidamente a França com taxas de juro elevadas, se esta não se adaptasse à política alemã. […] Portanto, a Europa muda contra a Alemanha. Porque é possível assustar os governos, mas não os povos. É por isso que, quer François Hollande seja ou não eleito, o início do fim da imposição das regras pela Alemanha já começou.

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