O verdadeiro desafio chinês

Publicado em 12 Outubro 2010 às 08:36

A cimeira UE-Ásia (ASEM), de 4 e 5 de outubro, deveria ter reforçado a cooperação face à crise económica mundial. Oficiosamente, toda a gente sabia que os dirigentes da UE iam tentar convencer a China a reavaliar o yuan.

Estes projetos falharam porque o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, começou logo por avisar os seus interlocutores europeus de que qualquer tentativa de pressão sobre Pequim estava condenada ao fracasso. Entretanto, há cada vez mais especialistas a chamarem a atenção para o desequilíbrio das relações bilaterais, materializado pelo défice comercial de 130 mil milhões de euros da UE relativamente à China.

"Durante vários anos, a União utilizou uma política de aliciamento em relação a Pequim, sem quaisquer condições. E agora sofre uma verdadeira derrota… os investidores chineses exultam na Europa, enquanto os investidores europeus são frequentemente expulsos da China", lamenta o especialista do European Council on Foreign Relations [Conselho Europeu para as Relações Externas], François Godement, no Gazeta Wyborcza.

Com efeito, nos últimos tempos, as empresas chinesas começaram a entrar na Europa pela porta das traseiras. Foram elas que lançaram à Grécia, endividada até ao pescoço, uma boia de salvação, acompanhada da promessa de Pequim de investimentos gigantescos em infraestruturas (designadamente na modernização dos caminhos de ferro gregos). Foi igualmente a China que comprou, por mais de 3 mil milhões de euros, o porto de mercadorias do Pireu. No que se refere à Sérvia, candidato potencial à UE, os chineses vão construir aí uma ponte sobre o Danúbio.

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Que fazer? A União Europeia pode seguir o exemplo dos Estados Unidos e aumentar os impostos já existentes sobre os produtos chineses ou aplicar novas taxas. E pode ainda continuar a incitar Pequim a reavaliar a moeda.

Trata-se, contudo, de uma luta inglória, disse à Time o politólogo americano Fareed Zakaria. Nem mesmo uma subida de 20% do yuan tornaria as empresas americanas e europeias mais competitivas e os produtos asiáticos baratos não iriam desaparecer das prateleiras das nossas lojas. No máximo, as T-shirts chinesas seriam substituídas por T-shirts fabricadas no Vietname ou no Bangladesh.

Por outro lado, Zakaria insiste noutro problema, muito mais grave: a competitividade da China nas áreas da educação e da economia baseada no conhecimento. Em dez anos, as suas despesas de educação triplicaram, o número de universidades duplicou e o número de alunos quintuplicou.

Se tivermos em conta o cálculo realizado pelo Prémio Nobel Robert Fogel, segundo o qual um empregado que tenha um diploma do ensino superior é três vezes mais produtivo do que aquele que frequentou apenas o ensino primário, é fácil imaginar que os atuais problemas económicos com a China são apenas o prelúdio da verdadeira batalha, que nos espera daqui a alguns anos.

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