O líder ecologista Daniel Cohn-Bendit -figura carismática do Maio de 1968 - no Parlamento Europeu

Os Verdes podem dizer adeus à esquerda

Com 48 eurodeputados – ou seja, mais 14 do que em 2004 –os ecologistas vão tornar-se uma verdadeira força política? Vários comentaristas duvidam, enquanto outros observam que este partido, tradicionalmente orientado para a esquerda, está a encetar um desvio para a direita.

Publicado em 17 Junho 2009
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O líder ecologista Daniel Cohn-Bendit -figura carismática do Maio de 1968 - no Parlamento Europeu

Na Bélgica, o Ecolo de Valónia e Bruxelas acaba de formar uma coligação com o CDH (democratas-cristãos), anuncia o diário polaco Rzeczpospolita. Outro momento histórico decisivo está a ter lugar na Alemanha, onde os Verdes anunciaram pela primeira vez que estão dispostos a cooperar com os democratas-cristãos e os liberais, a nível federal.

A ideia de que os ecologistas se devem afastar da esquerda, sua aliada histórica, é cada vez mais equacionada. Em França, os Verdes tiveram uma melhor votação nas eleições europeias do que os socialistas, seus antigos parceiros de coligação. "Os Verdes devem começar a falar da mudança climática num contexto económico, a abandonar as suas relações com a extrema-esquerda e a negociar com os liberais e os democratas-cristãos", considera o Rzeczpospolita.

Noutro contexto, o belga Philippe Lamberts, porta-voz do Partido Verde Europeu, afirma que os Verdes partilham certos valores com a direita. "Os socialistas e os liberais pensam que a qualidade de vida se mede à luz da situação material. Como os democratas-cristãos, consideramos que uma vida bem sucedida não tem nada a ver com o dinheiro da nossa conta bancária", afirma. Os Verdes, observa o Rzeczpospolita, foram de resto sempre bastante propensos a criticar as ditaduras comunistas.

Em certos países, no entanto, os ecologistas têm pouco ou nenhum impacto. Em Espanha, por exemplo, que tem um litoral ecologicamente sensível a acidentes, são quase ignorados. Los Verdes-Grupo Verde Europeo não conseguiu senão 0,6% dos sufrágios nas eleições europeias. Há várias razões para isso, de acordo com o La Vanguardia. Enquadram-se entre os partidos de esquerda por um lado e os movimentos nacionalistas de esquerda por outro. "A sua fragmentação é excessiva", nota o diário barcelonês e "é isso que os enfraquece".

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No The Guardian, Leo Hickman revela inquietação ao ver os Verdes permanecerem uma "minoria simbólica". Os Verdes britânicos mantêm dois eurodeputados, enquanto os ecologistas irlandeses desapareceram a nível europeu, mas também local. Hickman interroga-se se as soluções necessárias para "se atacar a vastidão de problemas ambientais" virão um dia dos principais partidos políticos, os quais, escravos da "política pura e dura", são capazes de propor "políticas populistas de curto prazo, que apenas farão exacerbar os problemas ecológicos que nos afectam".

O problema dos Verdes, considera Hickman, é que parecem destinados a continuar a ser marginais, enquanto os eleitores os virem como uma força política monotemática (como o seu nome indica). E o jornalista pergunta-se se "a sua salvação não será apenas possível através de um grande salto tecnológico – apesar da política e não graças a ela". Porque o sistema político, conclui, "não está à altura, em matéria de ambiente".

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