Os restos carbonizados da loja de móveis Reeves, em Croydon, sul de Londres, 9 de agosto.

Reino Unido em busca de bode expiatório

Os motins que se propagam pelo país estão a liderar todas as manchetes do Reino Unido, neste dia 10 de agosto.

Publicado em 10 Agosto 2011 às 14:45
Os restos carbonizados da loja de móveis Reeves, em Croydon, sul de Londres, 9 de agosto.

O primeiro-ministro anunciou que iria convocar uma sessão extraordinária do Parlamento. Entretanto, à medida que a pilhagem atinge Manchester e Birmingham, 16 mil agentes policiais foram enviados para a capital e autorizados a disparar balas de borracha. Porém, os colunistas não conseguem chegar a um consenso sobre os motivos dos distúrbios e quem devem culpar.

Os que condenam os acontecimentos, escreveu um colunista do diário liberal Guardian, deveriam ter em conta que no Reino Unido “os 10% mais ricos são neste momento 100 vezes mais ricos do que os mais pobres” e “a mobilidade social é pior do que em qualquer outro país desenvolvido”. É verdade, acrescentou outro, “é o que acontece quando as pessoas não possuem nada, quando lhes esfregam constantemente na cara coisas que pelas quais não podem pagar, nem agora nem nunca”.

Longe disso, escreveu Max Hastingsno diário conservador Daily Mail. Estes desordeiros “são sobretudo animais selvagens” que “apenas respondem a instintos animais”. Não são vítimas, são um “peso morto para a sociedade”, que considera a nossa “cultura sem juízos de valor e grotescamente indulgente” como estando na origem dos problemas. “Apenas a educação” pode “obrigar estes humanos indisciplinados a comportar-se”.

O ódio para com o governo está a aumentar, relata um colunistado diário conservador Telegraph, especialmente entre os proprietários de pequenos estabelecimentos de comércio. A pilhagem está a dividir Londres, na medida em que algumas comunidades multiculturais, que anteriormente ultrapassaram dificuldades individualmente, se estão agora a reunir em grupos para proteger os seus meios de subsistência. “O que precisamos neste momento, com urgência, é de controlar as nossas ruas” – ou o pior ainda estará para vir.

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O Reino Unido acaba de presenciar o seu “momento Katrina”, escreve o diário de centro-esquerda Independent. No entanto, este “não é um protesto político… nem uma resposta à austeridade do setor público”. Pelo contrário, é a ação de uma minoria, à qual “os departamentos de educação, bem-estar, saúde e alojamento do grande Estado” faltaram com o prometido, ao longo de gerações. Se houver algo de bom a retirar destes motins, “será o facto de podermos finalmente encarar a vergonha da nossa classe desfavorecida e marginalizada”.

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