"Horst Schlämmer – o candidato ideal!", cartaz eleitoral . Foto : www.waehle-schlaemmer.de

Rir em democracia

Quando a Áustria se parte a rir com o repórter de moda de um canal gay de televisão austríaca, Bruno [criado pelo cómico inglês Sacha Baron Cohen], a Alemanha chora de riso com Horst Schlämmer. É um personagem humorístico, correspondente local de um jornal, animado pela pinga, que decidiu apresentar-se às eleições do Bundestag. Bem-vindo à Grolândia de Além-Reno.

Publicado em 11 Setembro 2009 às 15:05
"Horst Schlämmer – o candidato ideal!", cartaz eleitoral . Foto : www.waehle-schlaemmer.de

A entrada em cena do jornalista de província, anafado e seriamente alcoolizado, remonta há quatro anos. A celebridade do chefe de Redacção adjunto do diário Grevenbroicher, no entanto, só surgiu quando se imiscuiu na campanha eleitoral alemã. Enquanto a maior parte dos alemães se interroga ainda onde fica precisamente a cidade de Grevenbroich, Horst Schlämmer fundava ali o seu próprio partido e lançava uma campanha eleitoral mediática. Este orgulhoso detentor de uma carteira para homem pode agora ser admirado no ecrã: o seu filme "Isch kandidiere" ("Xou candidato"), que conta a ascensão do pequeno provinciano ao cargo de Chanceler federal alemão, chegou aos cinemas a 20 de Agosto na Alemanha.

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Por trás do falso político que anima os seus apoiantes com slogans como “Sonnenbank für alle!” (“Banco solar para todos!”) ou "Yes Weekend!" esconde-se o cómico mais popular de toda a Alemanha: Hape Kerkeling. Tornou-se conhecido pouco a pouco, nos últimos anos, imaginando personagens fictícios. Mas nenhum dos personagens precedentes o levou tão longe como Schlämmer, que, um dia, deixou de se contentar com a sua miserável existência de correspondente local. A partir de então, meteu-se a sério na vida política: "O meu nome é Horst Schlämmer. E serei o vosso próximo Chanceler federal", afirmou à nação. O espectador estremece e Kerkeling goza o pratinho por trás da barba.

( Filme -anúncio da capnha de Horst Schlämmer )

Mas quem é realmente Horst Schlämmer? Um verdadeiro jornalista da Vestefália? Um personagem de Hape Kerkeling? Ou talvez ambos? O próprio criador do personagem utiliza o conceito de hiper-realidade. Designa, na sua forma mais simples, um estado no qual a consciência humana perde a capacidade de distinguir entre a realidade e uma ilusão perfeita. O próprio Schlämmer duvida… mas não da sua existência real. Explica-o numa entrevista dada ao semanário Der Spiegel: "Não sou um personagem fictício, sou bem real. Por vezes sou também virtual, mas geralmente sou mais real." À pergunta "como se percebe a diferença?", responde taco-a-taco: "Quando me toca, eu sinto-o."

Hape Kerkeling não é o primeiro cómico a fazer sensação na "Politarena". O actor francês Christophe Salengro encarna, desde 1984, o personagem do presidente da Grolândia, numa emissão de televisão da cadeia francesa Canal+. Como todos os Estados realmente existentes, a Grolândia tem o seu próprio hino e bandeira; passaportes grolandeses podem até ser emitidos a pedido. Cada cidadão pode candidatar-se à eleição presidencial da Grolândia. Com um pequeno contra: só o presidente em funções possui direito de voto…

O polaco Ędward Ącki , cujo nome é impronunciável, reconverteu-se como Schlämmer, e mete-se agora nos assuntos políticos quotidianos. O personagem político fictício, criado pelo jornalista e animador de rádio Szymon Majewski, deseja sobretudo "desempoeirar" a política polaca. O nome do seu partido, ĘĄ - Szczerzy DO bólu ("Avançar decididamente até que faça mal") mostra já que Acki não dá parte de fraco. Quando apareceu em público defendendo a anticorrupção, e foi lavar a roupa suja do Estado simbolicamente diante do Palácio da Cultura polaco, um grande número de fãs compareceu a ouvi-lo. Só lhe falta dar um pequeno passo para ser escolhido para as próximas eleições presidenciais na Polónia. Uma boa razão para que Lech Kaczynski [actual Presidente da Polónia] se arme convenientemente em 2010, para enfrentar este fantoche e a sua boina basca vermelha.

Ficção Política

Será de temer uma invasão de personagens fictícios nos parlamentos nacionais? O personagem de aspecto desgraçado e repulsivo de Kerkeling, Horst, goza certamente com uma sociedade que cada vez se interessa mais pela sua "socialite" e cada vez menos com os seus políticos, mas isso não significa o fim da política séria. Schlämmer anunciou mediaticamente a sua candidatura, mas as formalidades que são necessárias para fundar um partido e inscrever-se nas eleições continuam a ser assunto sério.

E o presidente da República da Grolândia também pagou o preço da ilusão: aquele que se queria apresentar às eleições presidenciais de 2007 (contra Sarkozy) abandonou a brincadeira por falta das necessárias assinaturas. Schlämmer, se tivesse tido a coragem de levar a brincadeira às últimas consequências, teria tido provavelmente os mesmos problemas… No entanto, com o slogan "Liberal, conservador e de esquerda – dá para todos", podia ambicionar vastos apoios!

Lilian Maria Pithan

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