O papel da Alemanha na Europa

Será verdadeiramente o quarto Reich?

Publicado em 2 Abril 2015 às 15:13

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Qual é a atual posição da Alemanha na Europa? Poderão os seus vizinhos do sul, humilhados pela crise, comparar a sua atual dominância aos dias negros do regime Nazi? Estas são as questões que um grupo de jornalistas tentou responder numa investigação especial do semanário alemão Der Spiegel. Baseando-se no passado problemático da Alemanha, defendem que a “líder relutante” da Europa se considera paradoxalmente demasiado grande e demasiado pequena para desempenhar o seu papel atual.

A zona euro é claramente governada pela Alemanha, embora o papel de Berlim seja por vezes contestado. No entanto, isto tem uma influência significativa no destino de milhões de pessoas de outros países. Tal poder cria uma importância considerável, mas o Governo [alemão] e outros responsáveis políticos agem no entanto várias vezes como se tivessem a dirigir um pequeno país.

A Alemanha ganhou de facto domínio político através do seu sucesso económico, mas não está preparada para assumir uma verdadeira liderança política comprometendo os seus interesses a curto-prazo, afirmam os jornalistas do Der Spiegel. A sua ousadia diplomática nasce de um desejo intransigente de ver todos os membros da zona euro a aderir aos princípios alemães de poupança e eficiência. Isto é música para os ouvidos dos oponentes da hegemonia alemã.

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Para quase todos os críticos da política alemã, uma única palavra tornou-se o centro das suas queixas: austeridade, algo que remete para as políticas de poupança, um conceito que tem uma conotação positiva na Alemanha. Mas nos países europeus mais afetados pela crise da dívida, representa uma política sombria de privação imposta externamente. A Alemanha já não está apenas a exportar os seus bens, está também a exportar as suas regras.

Após entrevistar figuras dissidentes da Grécia, Itália e França, a equipa do Der Spiegel revela que as comparações com o Terceiro Reich resultam dos esforços da Alemanha para salvaguardar os seus próprios interesses económicos. Embora o jornal faça pouco caso de tais comparações, afirmando que “ninguém poderia realmente associar Merkel ao nazismo”, acrescenta que “uma reflexão aprofundada sobre a palavra ‘Reich’ (império) pode não ser de todo descabida”. Não há dúvida de que a Alemanha exerce uma forte influência que vai muito além das suas fronteiras, através da imposição de uma política de austeridade aos parceiros económicos relutantes.

Os precedentes históricos fornecem lições inquietantes aos atuais líderes da Europa. O Segundo Reich da Alemanha, formado por Bismarck e prolongado até à derrota da Primeira Guerra Mundial, viu-se numa posição precária: tinha-se tornado a principal potência da Europa, no entanto, não era suficientemente forte para dominar por si só o continente. A Alemanha, afirmam os autores da investigação, encontra-se numa posição semelhante hoje em dia. O seu excedente comercial ascende a 217 mil milhões de euros, enquanto as exportações de capital realizadas através dos bancos alemães permitiram alargar os seus interesses económicos em toda a Europa. Mas embora a Alemanha domine os seus vizinhos, está especialmente vulnerável ao colapso económico do sul da Europa. Uma vez mais, é demasiado grande e demasiado pequena para liderar de forma eficiente.

Os credores querem exercer o seu poder sobre os devedores porque têm medo. Medo de não voltarem a ver o seu dinheiro. A Alemanha podia pagar as dívidas da Grécia, mas não pode pagar as da Itália e de Espanha.

Resta saber de que forma a Alemanha poderia desempenhar melhor o papel da nação mais poderosa da Europa. Os jornalistas do Der Spiegel concluem com a opinião de Hans Kundnami, um especialista em política externa alemã que vive em Londres. “Uma verdadeira hegemonia como os EUA”, escreve Kundnami, “não se limita a estabelecer normas. Também cria incentivos para encorajar os países que domina a permanecer na sua zona de influência”. Isto requer a criação de um sistema que beneficie todos os Estados-membros, requer o abandono de um curto-prazo por uma política económica mais generosa.

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