Sozinhos à mesa

Publicado em 19 Fevereiro 2013 às 15:39

“Diz-me o que comes e dir-te-ei quem és”: quantos europeus seriam capazes de responder hoje à pergunta que Jean Anthelme Brillat-Savarin fez no século XIX? Ou melhor, seriam capazes de compreender a resposta que lhes fosse dada pelo autor de Fisiologia do Gosto?

Nunca como agora tivemos tanta informação sobre os alimentos que comemos e, no entanto, nunca como agora tivemos tanto a impressão de não sabermos o que está realmente nos nossos pratos.

O escândalo da carne de cavalo nos pratos vendidos “por vaca” veio recordar-nos que nunca estamos livres de uma fraude alimentar e que um artigo mais barato acaba por se virar contra o consumidor.

Pressionado pela crise e pela diminuição do poder de compra que ela provoca, o consumidor é obrigado a fazer arbitragens orçamentais, nas quais a rubrica “alimentação” é geralmente a mais pesada. Não é que coma menos, mas come menos bem.

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E aquilo que não paga em dinheiro sonante e pesado, paga de outra forma, em termos de saúde. Obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes, cancro... uma série de fatores de risco para a saúde nos quais incide a alimentação.

Quanto à Europa, a sua atitude é ambivalente: por um lado, parece tomar partido pelos consumidores, ao introduzir rótulos, ao impor uma rotulagem cada vez mais específica nos alimentos e ao promover uma alimentação saudável; por outro, parece inclinar-se para a indústria agroalimentar, ao autorizar práticas e ao adotar medidas que mostram ir na direção contrária. Terá sido este o caso recente com o fim da interdição de farinhas animais na alimentação de peixes de piscicultura. Estas farinhas tinham sido proibidas em 1997 ao serem consideradas responsáveis pela crise das “vacas loucas”. Será agora mais difícil a Bruxelas resistir às pressões de outros criadores — nomeadamente criadores de suínos e de aves de capoeira — com o preço dos cereais no seu máximo.

Perante isto, o consumidor está perfeitamente sozinho. Contudo, há meios de uma pessoa comer bem sem se arruinar — e de uma forma sustentável. Como escreveu Carlo Petrini, fundador do movimento Slow Food, “não é verdade que comer bem seja caro. Nós é que já não sabemos como é que isso se faz”.

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