Tornar-se adulto

Como se vive a entrada no mercado de trabalho na Europa? A socióloga Cécile Van de Velde estudou e comparou esta passagem da faculdade para o emprego, em Espanha, França, Reino Unido e Dinamarca. Revela agora as suas principais conclusões. Entrevista.

Publicado em 30 Outubro 2009 às 15:21
Passar à idade adulta significa encontrar emprego, deixar a casa dos pais, ganhar a vida? Foi a questão que colocou Cécile Van de Velde, Mestre de Conferências da Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais (EHESS) de Paris, numa obra intitulada “ Devenir adulte - Sociologie comparée de la jeunesse en Europe (PUF, 2008) [Tornar-se adulto –Sociologia comparada da juventude na Europa]. Porque os itinerários, do sul de Espanha à Dinamarca, são diversos e a definição do termo “adulto” varia de um país para o outro. Ao longo da sua pesquisa, detectou semelhanças na forma como os jovens europeus enfrentam a entrada na vida adulta?

Sim, existem traços comuns entre os jovens europeus. São sobretudo aspirações comuns e valores partilhados: a aspiração a uma vida independente e autónoma, o desejo de ter tempo para construir a sua personalidade e o anseio de liberdade para orientar a sua vida. Mas se as aspirações são comuns, em contrapartida os destinos dos jovens europeus diferem bastante em função do país de origem, devido principalmente às ajudas estatais, ao mercado de trabalho e à estruturação do ensino superior. Terminado o meu inquérito, penso poder dizer que, a nível dos percursos de juventude, o conjunto dos europeus gostaria de ser dinamarquês ou escandinavo…

A universidade parece ser hoje a pedra angular, ao contrário de há 50 ou 60 anos. Nessa altura, poucas pessoas iam para a universidade para conseguir trabalho e entrar na vida adulta…

Em relação às gerações anteriores, a relação com os estudos alterou-se manifestamente. Em poucas palavras: estuda-se mais para ganhar menos… É verdade que o ensino superior se democratizou em todos os países europeus, nos últimos 50 anos. Contudo, se, para as gerações anteriores, uma formação universitária era um garante de ascensão social e sucesso profissional, hoje a obtenção de um diploma não é uma garantia absoluta em termos de emprego, nem de inserção. Pode-se mesmo falar de uma promessa de integração não cumprida em relação às gerações recentemente entradas no mercado de trabalho, após um pesado investimento em estudos. A esse respeito, a mobilização dos “1000 euristas” em Espanha, por exemplo, um movimento de jovens diplomados que não excedem os 1000 euros de rendimentos, é muito reveladora da tomada de consciência de uma desqualificação.

Quais as grandes diferenças que encontrou nas trajectórias dos jovens europeus?

Esta pergunta requeria a apreciação de múltiplas dimensões, como as relações com a família, os estudos e o emprego, o futuro, a idade adulta… No entanto, algumas expressões permitem ter uma intuição sobre os diferentes modelos europeus estudados. Na Dinamarca, e mais genericamente nos países escandinavos, tornar-se adulto significa primeiramente “encontrar-se”, em trajectórias de juventude, longas e exploratórias, independentes em relação aos pais.

Nos países mais liberais, como o Reino Unido, trata-se sobretudo de “assumir-se”, ou seja de aceder, rapidamente e pelos seus próprios meios, ao estatuto de adulto. Em França, como nas outras sociedades corporativistas, a juventude é pensada como um tempo de investimento nos estudos, a fim de “posicionar-se” num estatuto sócio-profissional protector. Nos países mediterrânicos, tornar-se adulto é visto como um longo percurso para a realização de três pré-requisitos necessários para “instalar-se”: emprego, casa e cônjuge.

Na sua opinião, qual destes modelos favorece mais o desenvolvimento dos jovens?

Infelizmente, a crise económica actual não facilita a transição dos modelos de juventude para o modelo escandinavo, baseado numa taxa de emprego significativa e em ajudas estatais intensivas para financiamento dos estudos. Por outro lado, é possível que os modelos resumidamente apresentados acima venham a ser realmente todos postos em causa, e ganhem muito uma dimensão mais mediterrânica, acentuando o tempo de espera e a incerteza dos percursos de juventude, em diversos graus, naturalmente.

Matias Garrido

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