Um plano de salvação não ajuda ninguém

Sob pressão dos mercados e impelido por alguns países para aceitar uma ajuda financeira, o governo de José Sócrates deve permanecer firme e reestabelecer a confiança, defende uma jornalista portuguesa, uma vez que os planos de ajuda não fazem mais do que agravar a crise.

Publicado em 11 Janeiro 2011 às 16:27

As experiências grega e irlandesa mostraram que as intervenções criam mais, novos e mais graves problemas, ameaçando a própria vida da moeda única. Mas está nas mãos do governo português evitar o pior. O governo português tem de dar aos credores e à Zona Euro a garantia absoluta de que o país vai cumprir a meta orçamental deste ano. Para poder também assim exigir aos líderes europeus, com especial revelo para Angela Merkel e Nicolas Sarkozy, o respeito pelos compromissos assumidos e pelas estratégias assumidas no quadro das instituições do Euro.

O ano de 2010 terminou com os líderes da Zona Euro mais conscientes dos riscos, para a moeda única, da solução escolhida para resolver o problema da dívida de alguns países europeus. É neste quadro que se compreendem as sucessivas e variadas declarações de apoio às medidas adoptadas por Portugal para combater o défice público.

Um modelo que alimenta o efeito dominó

As intervenções primeiro na Grécia e depois na Irlanda têm mostrado que o modelo seguido para enfrentar a crise da dívida estava a alimentar um efeito dominó com o espectro final de colapso da Zona Euro.

Ainda Dublin não tinha aceitado a ajuda e já os analistas e economistas iam fazendo a sua lista: a seguir será Lisboa, depois Madrid, tomaremos então Roma ou Bruxelas. E nesta antecipação de derrocada após derrocada, os analistas chegavam rapidamente à óbvia conclusão de estarmos perante a possibilidade de colapso ou de fragmentação da Zona Euro. Com a queda da moeda única a abrir uma profunda brecha em toda a construção europeia.

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Foi com a consciência das ameaças que se estavam a colocar a um projecto que garantiu a paz e prosperidade na Europa durante já mais de meio século, que quer os líderes europeus como alguma tecnocracia repensou toda a estratégia que estava a ser seguida para ultrapassar os problemas de financiamento de alguns países do euro, entre os quais está Portugal. Mais até mais do que os sucessos do passado, é a ausência de qualquer possibilidade de antecipação do que poderia acontecer num quadro de colapso do euro que recomenda outras abordagens para enfrentar a crise da dívida.

Em face da nova estratégia assumida implicitamente pela Zona Euro com o imprescindível apoio de Berlim, a notícia da revista alemã Der Spiegel é uma autêntica surpresa. A que se acrescenta o facto de estas informações partirem aparentemente de um encontro entre os ministros das Finanças alemão e francês para discutirem o euro, num total, absoluto e público desrespeito pelas instituições europeias, como referiu o Presidente da República.

Lisboa não pode grande coisa contra as Cassandras

Diz a revista alemã, citada pelas agências noticiosa e depois desmentida oficialmente pelo Governo alemão, que Berlim e Paris querem que Portugal peça ajuda financeira para se evitar um contágio a Espanha. Não é obviamente fácil racionalizar o argumento quando o que se tem verificado é exactamente o contrário, as intervenções não evitam outras intervenções.

Terá a Zona Euro mudado de ideias? Nada o indica. O que parece é haver, ainda, pouca convicção na estratégia de evitar novas intervenções com fundos europeus e do FMI, para evitar exactamente o contágio a Espanha e a outros países.

A nova tempestade financeira que se abateu sobre Portugal, todos o sabem, é determinada pelo anúncio de duas emissões obrigacionistas na quarta-feira. O que as instituições financeiras estão a fazer é a explorar a possibilidade de ganhos adicionais na compra de novos títulos a taxas mais altas. Os líderes políticos não podem nem devem alimentar esses ganhos com declarações políticas que criam dificuldades adicionais quer a Portugal como ao euro.

O governo em Lisboa pouco pode fazer para evitar as notícias sobre o colapso de Portugal. Mas José Sócrates pode fazer muito, colocando a sua firmeza e persistência ao serviço do combate ao défice público. O governo tem de usar todos os meios para, o mais tardar em Fevereiro, termos a certeza que o défice público deste ano vai ser cumprido. Só assim terá a solidariedade e uma solução europeia, sem o FMI.

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