Uma política externa europeia que caminha no vazio

Publicado em 25 Março 2011 às 15:43

Com a oposição da Alemanha e as polémicas entre a Itália e a França, a intervenção na Líbia deu a enésima, alarmante prova de que “quando se trata de uma questão de segurança, os europeus não conseguem chegar a acordo”, como escreveu o Daily Telegraph. Mais uma vez, os países membros agiram mais com base na sua própria agenda política interna do que em virtude da necessidade de uma ação comum. Mas a crise líbia deixou à vista um outro aspeto em que a Europa também sofre de uma perigosa falta de coordenação: a política energética.

A intervenção na Líbia foi justificada pela necessidade humanitária de defender dos massacres de Kadhafi as populações civis. Mas a credibilidade desse argumento ficou minada pela indiferença de que a Europa deu provas perante países árabes onde as revoltas populares são reprimidas com violência, como o Iémen ou o Bahrein, onde o enviado da UE chegou a justificar o uso de balas reais pela polícia, contra os manifestantes, porque “em situações como estas, acontecem acidentes”.

A razão destes dois pesos e duas medidas é muito simples: a concomitância da crise líbia e do acidente nuclear de Fukushima — a que a Alemanha reagiu sem consultar os seus parceiros europeus, mergulhando-os em embaraço – já provocou a escalada do preço do petróleo. A capacidade residual de extração da Arábia Saudita é, presentemente, a última esperança contra um choque petrolífero. A estabilidade do regime repressivo de Riade e dos seus satélites tem, por isso, de ser preservada, mesmo que isso implique perder a face.

Como sublinha o Financial Times, é a Rússia quem está a ganhar com esta dupla crise. Viu aumentar o seu rendimento do petróleo e propôs aumentar as exportações de gás para o Japão e para a Europa, para compensar o encerramento das centrais nucleares. E enquanto o gasoduto europeu Nabucco está em apuros, o seu concorrente russo South Stream continua a progredir. No eterno braço de ferro para a Europa de Leste, tudo o que reforça Moscovo enfraquece Bruxelas.

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A UE gastou somas astronómicas para ter um Serviço para a Ação Externa e para financiar as parcerias a Leste e a Sul, mas os seus gastos energéticos impedem-na de exercer uma política estrangeira voluntária e coerente. Para sair do impasse, é preciso uma visão de conjunto. Mas, infelizmente, em Bruxelas as únicas pessoas que a têm são os lobistas da indústria petrolífera, para quem as coisas devem manter-se tal como estão.

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