Imagem: ChrisM70

Viagens e amigos a preço de saldo

Paris-Praga por 40 euros, Berlim-Roma por 60 euros... Há cada vez mais sites que propõe a partilha de automóveis para viajar pela Europa. Económico, ecológico e com espírito de boa camaradagem, este modo de transporte é apreciado, sobretudo, pelos jovens.

Publicado em 7 Agosto 2009 às 12:02
Imagem: ChrisM70

Como a Europa parece grande e bonita desde que acabaram as fronteiras entre os Estados que a compõem! Nasce assim o desejo de a explorar livremente, sem que o orçamento para lazer leve um rombo, com sequelas quase irreversíveis. Se não conseguirmos fazer uma viagem estival pela Europa, do Cabo Norte, na Noruega, até Chipre, por falta de meios, o Espaço Schengen passa a ter pouco interesse! Como agir quando se impõe esta constatação: para viajar, é necessário dinheiro! Quando os euros faltam, é difícil pretender aventurar-se para longe.

É um problema que toca a maior parte dos jovens europeus, desejosos de percorrerem outras latitudes. Mas os estudantes não são os únicos a ter falta de meios para partir de férias. Os jovens trabalhadores também gostariam de passear sem serem obrigados a sobreviver por um longo período de vacas magras, no regresso da viagem! E assim, numa situação de parcimónia justificada, a partilha de viaturas representa a solução mais adaptada ao legítimo desejo de evasão.

Evidentemente, o “automóvel partilhado”, - O meu carro é o teu carro | (seven resist/flickr) - mais conhecido em inglês por “car-sharing”, está longe de ser uma ideia nova. Há já vários anos que a Central Alemã de Partilha de Automóveis propõe os seus serviços aos utentes que pretendem atravessar o continente europeu de uma ponta à outra. Bastar olhar para estes sites - um alemão, outro francês - com propostas para o todo o continente: http://www.mitfahrzentrale.de/ e http://www.covoiturage24.com/.

O mesmo é falar da ICS (Empresa de Car-sharing em Itália) ou do FEDUCO na França (Federação Francesa de Partilha de Automóveis), cujos bancos de dados, embora mais recentes, se anunciam igualmente promissores.

Newsletter em português

Actualmente, é difícil fazer uma lista dos múltiplos sites “selvagens” de partilha de automóveis presentes na Internet, que rivalizam com outros mais comerciais (com direitos de admissão e regulamentos). Em Paris, por exemplo, existem mais de 80, que permitem aceder a pequenos anúncios gratuitos, apresentando propostas muito económicas. Entre os mais conhecidos e utilizados na Europa, podemos citar: www.mitfahrgelegenheit.de, na Alemanha, www.trasportiamoci.it, em Itália, www.covoiturage.fr, em França, e www.autospolujizda.cz/ , na República Checa. Estes principais pontos de contacto desempenham também um papel activo na aceleração deste fenómeno social que permite aos internautas europeus a escolha de rotas mais ou menos longas dentro da União.

Férias ecológicas

Animada por uma intenção ecológica evidente, a filosofia transparente destes sites de Internet é quase um manifesto. Para além da redução dos custos de transporte que provoca, tanto para o motorista como para os passageiros, grande número de utilizadores considera necessário e desejável reduzir o número de veículos em circulação pelas estradas e auto-estradas da Europa, face à degradação do ambiente. Não é, pois, excessivo falar do nascimento de um comportamento social “biocompatível”.

Assim, alimentando uma preocupação ética e de curiosidade, depois de ter deixado de lado o transporte ferroviário como medida de economia, pode-se agora optar por levar no carro uma ou mais pessoas, que podem ser outros tantos co-pilotos. Em função do número de passageiros, o custo de uma viagem Paris-Praga em carro partilhado fica entre 40 e 60 euros por pessoa. A título de comparação, de acordo com as tarifas apresentadas pelas companhias ferroviárias, Paris-Frankfurt em comboio com reserva (ou seja, apenas metade do trajecto entre a França e a República Checa), custa cerca de 106 euros por pessoa. E mesmo que se queira objectar que há também as companhias aéreas low-cost, o custo dos trajectos de aeroporto a aeroporto não é negligenciável. Com a partilha de viaturas, o problema não se põe, dado que se pode fazer a recolha dos passageiros à própria porta. É muito mais cómodo e só serve para reforçar o orçamento.

Amigos para a viagem

Tomar contacto com companheiros simpáticos, dispostos a partilhar a viagem e o veículo tornou-se de repente possível, com grande simplicidade. Seja através de centrais de partilha de automóveis ou de sites de Internet, a experiência é hoje muito simples de realizar. Anna teve oportunidade de atravessar parte da Europa na companhia de dois alemães, um checo e uma marroquina. No início, esta jovem estudante americana, a passar um ano em Paris no âmbito de um intercâmbio universitário, estava um pouco céptica. Quando os amigos de além-Reno lhe contaram o seu projecto de ir de Berlim aos Balcãs, recorrendo aos bons ofícios de um site de partilha de viaturas, levantou os olhos para o céu.

Hoje, familiarizada com esta prática, vê de outro modo esta forma de deslocação. “No início, achei a ideia um bocado absurda, mas acabei por aceitar fazer uma experiência que ainda nunca tinha feito. Ignoro se no meu país existe algo do género. A princípio, estava muito reticente em ter de partilhar tudo com outras pessoas, a começar pelo motorista.” Mas todos acabaram por aproveitar essa pequena “eurodisseia” colectiva. Anna ficou a saber algumas palavras de alemão e de checo, e a sua vizinha contou histórias do seu Marrocos natal. “Foi realmente o máximo”, diz, entusiasmada. “Nunca pensei que uma viagem de automóvel pudesse ser tão interessante.”

Anna regressou aos Estados Unidos. Mas tem a firme intenção de regressar à Europa. “Aqui, tudo parece tão acessível. As cidades e os lugares parecem tão próximos uns dos outros e pode-se realmente viajar com pouco dinheiro. Confesso que tenho um bocadinho inveja de vocês, europeus…”

Lilian Maria Pithan

Tags

É uma organização jornalística, uma empresa, uma associação ou uma fundação? Consulte os nossos serviços editoriais e de tradução por medida.

Apoie o jornalismo europeu independente.

A democracia europeia precisa de meios de comunicação social independentes. O Voxeurop precisa de si. Junte-se à nossa comunidade!

Sobre o mesmo tópico