A sua presidência da UE não consegue arrancar, Barack Obama parece desdenhar dele e, sobretudo, a economia espanhola está a ser atacada por todos os lados sem que ele manifeste capacidade de reacção. O primeiro-ministro espanhol atravessa uma crise de confiança sem precedente, constata a imprensa madrilena.
"Total falta de confiança", é título do ABC. Na manhã seguinte ao afundamento de 6% na Bolsa de valores de Madrid, o diário conservador aponta a "crise de credibilidade" da Espanha, que coloca o José Luis Rodriguez Zapatero numa posição complicada. Isso é ainda mais evidente nas últimas sondagens, que dão ao Partido Popular (PP), conservador, uma vantagem de quatro pontos sobre o PS do primeiro-ministro. O ABC critica o dirigente socialista e a sua "cadeia de erros" na cimeira de Davos e em Bruxelas. O “frívolo e distante” Zapatero é acusado de "ter-se refugiado num mundo irreal". Ao mesmo tempo que exige "decisões urgentes", o ABC lamenta que a sua "passividade e ineficácia estejam a condenar a Espanha a anos negros".
Já o El Mundoadoça um bocado a situação, ao relatar a visita de Zapatero a Washington no dia 4 de Fevereiro, a convite de Obama, para o encontro curiosamente denominado "National Prayer Breakfast" [fórum anual que reúne em Washington dirigentes políticos, sociais e empresariais]. Zapatero conseguiu “fazer um discurso baseado em valores éticos universais, e conquistou a simpatia do auditório". O diário parece aliviado por Zapatero acabar a "tentar parecer-se com Aznar [seu antecessor conservador] em matéria de esforço para mostrar a sua proximidade em relação ao Presidente dos Estados Unidos".
Este agnóstico declarado pode passar por bom cristão nos EUA, mas o El País relembra os leitores que a crescente derrocada da economia espanhola está a manchar a imagem de Zapatero em casa. Num editorial tudo menos suave, intitulado "Alarme, quase pânico", o jornal de centro-esquerda considera que a razão para as dúvidas dos investidores em relação à economia espanhola se deve a terem associado "a falência da Grécia com a fraqueza das finanças em Espanha" e à eventualidade de o desastre ter sequência, se o presidente do Governo “não convencer os accionistas de que as finanças públicas podem estabilizar-se num espaço de tempo razoável”. O jornal considera que, se o primeiro-ministro pensou que a sua viagem de lazer aos Estados Unidos iria ter repercussões positivas a nível nacional, “as más notícias que surgiram na mesma altura devem tê-lo deixado frustrado”.
Na verdade, o público espanhol está em maré de se preocupar com o que se passa internamente, no país. De acordo com uma sondagem publicada pelo diário madrileno, 77% da opinião pública declara-se céptica sobre os benefícios da presidência espanhola da UE. Um ponto positivo – se assim pode ser descrito – é-lhe atribuído pelo confuso equilíbrio de forças na UE, onde 32% das pessoas consideram que é Zapatero quem lidera a UE este semestre, contra 21% que acham que é Van Rompuy quem segura as rédeas.Ainda no âmbito da UE, sentiu-se uma consternação generalizada, na sequência de observações feitas pelo comissário espanhol para os Assuntos Económicos, Joaquín Almunia, que “comparou a Espanha à Grécia”. O analista Fernando Vallespín declara-se cansado de ver a Espanha metida no mesmo saco da situação grega. E com a integração da Espanha no acrónimo PIGS – de Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha –, termo pouco lisonjeiro para as economias mais fracas da UE. Considera-o “um deslize freudiano”, ilustrativo de uma visão ética protestante do trabalho, típica do norte da Europa. Uma visão, acusa, propagada por órgãos como o “Financial Times e quejandos”.
Com idêntico espírito de desafio, o Público espanhol volta as atenções para “uma revolta crescente”, referindo-se à convocatória de uma onda de protestos por parte do maior sindicato de Espanha. Na verdade, a desaprovação chove de todos os lados, com muita insatisfação mesmo nas fileiras do PSOE, em relação à súbita decisão de Zapatero de aumentar a idade da reforma de 65 para 67 anos. Forçado a um embaraçoso recuo na sua declarada intenção de passar o cálculo das pensões de reforma para uma base de 25 anos, em vez de 15, é acusado agora de piscar o olho à direita, com o colunista Justino Sinova a criticar demolidoramente "os improvisos, os altos e baixos e o caos de Zapatero e do seu Governo". Com as críticas a caírem de todos os lados, cabe ao editorialista Ignacio Escolar apresenta um ponto de vista mais abrangente, descrevendo a Espanha como “o novo epicentro da crise global", a mais recente vítima de um jogo global em que “gatos especuladores” brincam com ratos.