"A Europa está salva, os cidadãos vão pagar mais": o Rzeczpospolita resume assim a atmosfera que se respira em Bruxelas, nos dias seguintes ao veredicto da Comissão Europeia sobre os planos de rigor orçamental adoptados por uma dúzia de Estados-membros, e que deverão permitir uma poupança de cerca de 300 mil milhões de euros. Estes planos deverão ser discutidos no Conselho Europeu de 17 de Junho. "A perspectiva de falência da Grécia chocou a Europa e levou países financeiramente sólidos a efectuar cortes", nota o diário polaco. Noutros lugares da Europa, os planos de austeridade apresentados até agora afectam sobretudo o sector público, considera ainda o Rczespospolita. O que, alerta o jornal, vai "provocar um aumento das tensões sociais e vagas de protesto".
O Rzeczpospolita prevê ainda que o próximo país a ser fustigado seja o Reino Unido, cujo plano de austeridade deve ser anunciado a 22 de Junho. Um plano que, segundo o Financial Times, prevê cortes orçamentais "20% superiores aos propostos pelo antigo Governo trabalhista". Entre os países que vão ter de fazer esforços, a Espanha ocupa a dianteira: "Bruxelas pede uma correcção suplementar de 8 mil milhões de euros até 2011", anuncia a primeira página de El País. Estas medidas somar-se-ão aos 11 mil milhões de euros de economia já previstos. Além dos cortes orçamentais, Bruxelas exige a reforma imediata do sistema de pensões de reforma e das leis do mercado de trabalho, a apresentar a 16 de Junho. Apesar de tudo, "ainda não é suficiente", considera o jornal madrileno num editorial, regozijando-se por a Comissão "não se ter esquecido de desmentir que esteja em preparação um plano de salvação da Espanha”. Foi um rumor posto a circular na segunda-feira "por meios de comunicação social alemães mal informados e que se espalhou como um rastilho".
"A questão está em saber se a Espanha quer permanecer no euro", comentaEl Mundo. Para este jornal, "mesmo com atraso, Zapatero tomou a decisão certa: alinhou pelas políticas dos grandes países e está a aplicar as medidas que podem fazer-nos sair desta crise e evitar-nos aborrecimentos mais sérios, como teria sido o caso se tivesse solicitado um plano de salvação". No vizinho Portugal, “as novas medidas de austeridade anunciadas por Lisboa não são suficientes para atingir o objectivo definido para o défice orçamental em 2011”, observa o Público. De acordo com a Comissão Europeia, o país deverá fazer esforços suplementares e poupar mais 2500 milhões de euros.
Apesar das restrições já realizadas – um plano de cerca de 100 mil milhões de euros de economias durante três anos, em que se integra a muito controversa passagem da idade da reforma de 60 para 62 anos – a Comissão "considera que a política orçamental francesa 'não atingiu' até agora o esforço fixado pelos ministros das Finanças da União Europeia, após concertação com Paris", divulga Le Monde. "Os outros 11 países examinados no relatório estão nas mesmas condições", adianta Le Figaro, que escreve ainda que, num contexto de grande desalento quanto às perspectivas de retoma económica, “Bruxelas preferiu não fazer ondas", porque a crise exige "uma estratégia coordenada, em matéria de gestão de crescimento e saneamento orçamental. O que faz lembrar a quadratura do círculo".
As medidas de austeridade adoptadas pelo Governo italiano, em contrapartida, agradaram a Bruxelas, [congratula-se La Stampa](http://www.corteconti.it/export/sites/portalecdc/_documenti/rassegna_stampa/pdf/2010061615960122.pdf ), apesar de provocarem a ira das regiões italianas, que deverão suportar o essencial das restrições orçamentais. Além disso, acrescenta o diário de Turim, a Itália ameaça utilizar o seu veto no Conselho Europeu de 17 de Junho, se o seu conceito de dívida não for tido em conta: Roma adiciona a dívida privada e a dívida pública, ao contrário de Berlim, "para quem a dívida é apenas pública", observa o jornal.
Satisfação também do lado checo: o Hospodářské Novinyfrisa que a Comissão qualificou de "satisfatório" o pacote de medidas adoptadas pelo Governo interino de Jan Fischer. O Rczespospolita observa ainda que, quando mais de metade dos Estados-Membros apresentou planos de austeridade, a Polónia é o maior que não o fez. Mas não tem como escapar, acrescenta: o aumento da idade da reforma e a reforma da segurança social dos agricultores estão na ordem do dia.
"Regras mais estritas para os orçamentos nacionais não constituem ainda uma estratégia", sublinha Die Zeit. O semanário de Hamburgo sugere que Berlim abandone o seu princípio fulcral em matéria económica: limitar as dívidas. As suas e as dos outros. Assim, salienta este jornal, uma UE como a Alemanha desejava "ataria ao pelourinho os Estados com demasiadas dívidas. Ora, numa dívida, são precisos dois: devedor e credor", prossegue, apontando o facto de a Alemanha contribuir, com as suas exportações, para as aflições de gregos e espanhóis.
Daí a sua proposta: a UE deveria sancionar não apenas os reis da dívida, mas também os Estados com grandes excedentes comerciais. É uma das razões pelas quais o Tagesspiegel sugere ao Governo de Angela Merkel que "trate finalmente do consumo interno", se quiser "assegurar a estabilidade do euro". Mas o consumo não será retomado de repente, porque os alemães estão a apertar o cinto, com medo da “desclassificação social", considera Der Spiegel, que cita um estudo segundo o qual as classes médias se estão a desmoronar: em 2000, 66% dos alemães faziam parte delas, contra os actuais 60%.
Opinião
Uma política de pequenos países
Até agora, “a tirania dos pequenos países deu jeito à União Europeia”. Em macroeconomia, porém, é contraproducente, avisa Wolfgang Munchau no Financial Times. O cronista considera que os pequenos países se podem portar como se as suas acções não tivessem efeito no resto do mundo ou a Zona Euro fosse a principal economia do planeta. Numerosos políticos e economistas alarmam-se com a “obsessão” alemã pela austeridade, nota Munchau, para quem a França, ao considerar que essa tendência leva à recessão, parece ser o único país “com uma mentalidade de grande país”. Para o jornalista, a mentalidade de pequeno país leva Bruxelas e Frankfurt, sede do Banco Central Europeu, a negar a importância do crescimento, considerado um problema meramente estrutural. A estratégia actual de Bruxelas, assegura Munchau, coloca dois problemas: é mais orientada para a competitividade do que para o crescimento, e falta-lhe coordenação macroeconómica entre os Estados-membros da UE. O que põe em risco a luta contra a dívida.