Eleições europeias 2014
O holandês Geert Wilders (PVV) e a francesa Marine Le Pen (FN).

“A extrema-direita quer federar-se”

A seis meses da votação, os movimentos populistas multiplicam os encontros para se apresentarem unidos nas eleições e conseguirem formar um grupo no Parlamento. No dia 13 de novembro, a chefe da Frente Nacional francesa, Marine Le Pen, decidiu, neste âmbito, visitar o seu homólogo holandês Geert Wilders. Uma perspetiva considerada preocupante, nomeadamente pela imprensa holandesa.

Publicado em 14 Novembro 2013 às 16:40
O holandês Geert Wilders (PVV) e a francesa Marine Le Pen (FN).

“As pessoas como Le Pen são horríveis”: era assim que o chefe do Partido da Liberdade (PVV, direita populista) Geert Wilders falava, em 2007, da Frente Nacional, recorda o NRC Handelsblad. Mas, se depois das eleições europeias de 2009, Wilders continuou a recusar que os membros do seu partido se sentassem ao lado dos da FN no Parlamento, para não ser associado à extrema-direita, hoje, parece ter posto mais água na fervura. No dia 13 de novembro, o chefe do PVV recebeu Marine Le Pen em Haia com o objetivo de criar uma aliança para as eleições europeias do próximo ano, uma visita que foi recebida com ceticismo no seio do seu partido devido às diferenças ideológicas. Apesar de ambos serem eurocéticos e de se oporem à imigração, os pontos de vista pró-Israel e pró-homossexuais do PVV não são partilhados pelo partido da FN. O jornal realça que no seio do PVV,

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por enquanto, as críticas não se fazem ouvir publicamente devido ao que aconteceu ao seu colega [Louis] Bontes [que foi recentemente expulso por ter criticado publicamente os líderes do partido]. Mas se Wilders decidir avançar com a sua cooperação com Le Pen e com o dirigente do FPÖ [austríaco, Heinz-Christian] Strache, existem fortes probabilidades de que alguns membros do PVV acabem por abandonar o movimento.

De Volkskrant deplora, por sua vez, o facto de os partidos tradicionais na Holanda não conseguirem dar uma “resposta incisiva” às vozes eurocéticas do PVV:

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Os defensores da UE e do euro registam um atraso considerável. Chegou a hora de superar o desafio, tal como o fez Wilders, com candidatos e discursos convincentes. […] Mas, em vez disso, os partidos [tradicionais] preferem propor ilustres desconhecidos como cabeças de lista e apostar numa fraca participação [nas eleições europeias] que limitaria os danos. Os eleitores são, portanto, menosprezados, e este sentimento de desprezo só fará com que tenham ainda mais vontade de se afastar do projeto europeu.

No Trouw, um arabista alerta, por sua vez, contra as consequências desastrosas que poderia causar uma aliança entre o partido da FN e o PVV. Esta colaboração seria muito vantajosa para os partidos envolvidos,

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mas muito problemática para os países europeus. A FN e o PVV tencionam difundir uma ideologia extremamente deplorável: a xenofobia. E a nossa violenta história ensinou-nos que, depois de este veneno se infiltrar nas veias dos europeus, será muito difícil eliminá-lo.

Em França, Le Monde considera que o objetivo de Marine Le Pen e Geert Wilders é simples: “a extrema-direita europeia quer federar-se para formar um grupo no Parlamento Europeu após as eleições de maio de 2014”. Mas, adianta o diário,

não será tarefa fácil, e o objetivo dos dois dirigentes eurofóbicos ainda não foi atingido. Uma vez que, para constituir um grupo, precisarão no mínimo de 25 eleitos de pelo menos sete países da União Europeia. Por enquanto, ainda lhes faltam dois países. Contam atualmente com o apoio dos partidos da Aliança Europeia para a Liberdade, a que pertence Marine Le Pen […], o FPÖ austríaco […], os belgas do Vlaams Belang e os Democratas suecos. Será organizada uma reunião técnica, sem os chefes, na quinta-feira, dia 14 de novembro, em Viena.

O acordo entre a FN e o PVV também suscita algumas preocupações na Europa central. Para o jornal eslovaco SME, não se pode confiar em Marine Le Pen e Geert Wilders, porque

falam de liberdade e de democracia, afirmam ter valores liberais, e já faltou mais para defenderem os direitos das mulheres ou dos homossexuais, mas só o fazem para certas pessoas: as suas. São hostis com os europeus de leste e os muçulmanos, mas sobretudo com os imigrantes, e detestam o facto de terem perdido soberania a favor de Bruxelas. […] Os partidos de extrema-direita também estão a ganhar terreno na Escandinávia. […] E continuarão a crescer até deixarmos de ignorar a presença do populismo.

Mas, na Escandinávia, precisamente, as coisas poderão não ser tão simples. Na verdade, o Dansk Folkeparti recusou a oferta de Le Pen e de Geert Wilders de se juntar à aliança eurocética formada no dia 13 de novembro, explica em Copenhaga o diário Politiken. Para o partido populista dinamarquês, a FN tem “raízes profundas no antissemitismo”. O vice-presidente do partido, Søren Espersen, até se mostrou chocado pelo facto de os populistas suecos ponderarem esta oferta. Em suma, o Politiken considera que

é possível que Marine Le Pen e a Frente Nacional seduzam os franceses, mas não os populistas dinamarqueses.

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