A guerra desvendada

Publicado em 26 Julho 2010 às 12:15

"Revelação massiva de documentos secretos expõe a verdade sobre a ocupação", afirma The Guardian. Naquela que é considerada a maior fuga de informação da história militar dos EUA, cerca de 90 mil dossiês sobre a guerra no Afeganistão foram postos à disposição deste diário de Londres, do New York Times e do semanário alemão Der Spiegel, através do site Wikileaks. Segundo The Guardian, os dossiês "apresentam um retrato devastador do fracasso da guerra no Afeganistão".

Os documentos incluem pormenores sobre a ascensão dos talibãs nos últimos seis anos, apesar do recrudescimento dos esforços da coligação para neutralizar a liderança do movimento com uma unidade "negra" secreta de forças especiais, para "matar ou capturar" sem julgamento. Também é revelado que os EUA ocultaram provas de que os talibãs adquiriram mísseis terra-ar letais e de que a coligação está a recorrer cada vez mais à utilização de drones Reaper para perseguir e matar alvos talibãs por controlo remoto, a partir de uma base no Nevada. Existem ainda provas esmagadoras de que o vizinho Paquistão e o Irão estão incentivar a insurreição.

Em oposição clara à imagem pública limpa de uma coligação que procura conquistar "os corações e as mentes" dos afegãos, estão as provas de pelo menos 195 mortes de civis, que foram ocultadas. Entre os incidentes "azuis e brancos", no calão militar, incluem-se "o dia em que, em 2008, soldados franceses bombardearam um autocarro cheio de crianças, ferindo oito delas. Uma patrulha dos EUA também alvejou um autocarro com tiros de metralhadora, ferindo ou matando 15 dos passageiros e, em 2007, aparentemente num ato de retaliação, soldados polacos atacaram uma aldeia com morteiros, matando os participantes numa festa de casamento, entre os quais uma mulher grávida".

Na Alemanha, Der Spiegel centra-se na guerra da Bundeswehr [força de defesa federal]. E salienta: "No início da operação, alguns soldados da Bundeswehr chamavam ironicamente ‘Bad Kunduz’ à pequena cidade de Kunduz, sendo que a palavra alemã ‘Bad' é utilizada em relação às estâncias termais. Mas os dias amenos em Kunduz, onde está estacionado um grande número de soldados alemães, há muito que são coisa do passado". Em 19 de maio de 2007, três soldados alemães foram mortos por um bombista suicida, quando se encontravam num mercado local. O semanário salienta que "oito civis afegãos morreram também no primeiro ataque mortal, deliberadamente dirigido contra os alemães que se encontram na região".

Newsletter em português

"Seja sob que ângulo for", diz a manchete do Guardian, "não estamos perante um Afeganistão que os EUA ou o Reino Unido estejam prestes a entregar, embrulhado como um presente com fitas cor-de-rosa, a um governo nacional soberano, em Cabul. Pelo contrário. Ao fim de nove anos de guerra, o caos ameaça devastar tudo. Uma guerra supostamente travada para conquistar os corações e as mentes dos afegãos não pode ser ganha assim”.

Tags

É uma organização jornalística, uma empresa, uma associação ou uma fundação? Consulte os nossos serviços editoriais e de tradução por medida.

Apoie o jornalismo europeu independente.

A democracia europeia precisa de meios de comunicação social independentes. O Voxeurop precisa de si. Junte-se à nossa comunidade!

Sobre o mesmo tópico