Uma moeda comum sem união política ou fiscal deixou a Europa à beira da desintegração, escreve Timothy Garton Ash no diário britânico The Guardian. A atual crise da zona euro intensificou o fosso entre um norte ainda próspero e um sul endividado. Além disso, também colocou os interesses democráticos nacionais e os dirigentes da UE em rota de colisão.
Garton Ash não acredita que essa decomposição esteja iminente. Mas parece ser inevitável. Numa alusão ao economista britânico Adam Smith, escreve que
tendo em conta os extraordinários acontecimentos dos últimos 70 anos e as memórias e esperanças envolvidas no projeto europeu, ainda há muito a arruinar no nosso continente.
A dor será mais profunda no sul, mas este desequilíbrio estrutural acabará por atingir os motores da economia do norte da Europa. O motivo, declara Garton Ash, reside na falta de uma união política que poderia identificar as diferenças estruturais entre os estados-membros. O federalismo norte-americano, por exemplo, contempla o facto de que a economia do Alabama nunca será como a da Califórnia. Em contrapartida, a UE está a tentar transformar o continente inteiro num “Exportweltmeister”, um campeão mundial de exportações ao estilo alemão. Tal perceção não é compatível com a necessidade de um mercado interno de exportação. “Se mais ninguém se comportar como a Alemanha”, escreve Garton Ash, “a Alemanha terá de começar a comportar-se menos como a Alemanha. Mas esta não está preparada para isso”.
Além disso, o sul da Europa foi atingido por ondas contínuas de cortes e liberalização, sem a desejada transformação económica.
Os gregos, italianos e franceses não são os alemães. As suas economias precisam certamente de reformas estruturais, como as que permitiram impulsionar as suas exportações espanholas, mas as suas sociedades e empresas simplesmente não respondem da mesma forma.
O resultado consiste numa Europa em que os interesses democráticos nacionais estão a tornar-se irreconciliáveis com a missão principal da UE. A integração económica causou sofrimento a muitos estados-membros e reforçou a hegemonia alemã. Há agora pouca motivação para uma união política mais próxima, ainda que Garton Ash acredite que esta é a única forma de acabar com o atual mal-estar da zona euro.
O problema é que os problemas estruturais da zona euro requerem uma solidariedade democrática europeia transnacional entre os cidadãos a nível europeu que não existe atualmente e que não tem perspetivas de existir brevemente. […] A tensão entre as democracias nacionais e a integração europeia é portanto crescente.
O que poderá então ser feito? Garton Ash não é otimista no que diz respeito às possibilidades de sobrevivência da União. Mas não é demasiado tarde para mudar o rumo da Europa.
Poderão os cidadãos europeus nascidos por volta de e em 1989 gerar um novo imaginário político que os nossos atuais políticos não conseguem criar?