A saída da crise é por aqui

Ao aceitarem, na cimeira extraordinária de 23 de maio, discutir questões como investimentos comuns e as euro-obrigações, os Vinte e Sete conseguiram finalmente ultrapassar a oposição entre países "virtuosos" e países "gastadores" e deram um passo no sentido da integração económica.

Publicado em 24 Maio 2012 às 12:28

Na União Europeia, há uma grande diferença entre uma cimeira e uma cimeira informal. A cimeira deve tomar decisões, enquanto uma cimeira informal, como a da noite passada, tem apenas como objetivo avaliar as relações de forças entre as teses em presença e delinear os compromissos que são a própria essência da União.

Foi, pois, isso que aconteceu ontem e, nessas cerca de seis horas de discussão, François Hollande, avançou os seus peões contra a chanceler alemã, que repetiu que "as euro-obrigações [eurobonds] não constituem um contributo para o crescimento". Apoiada por vários países, incluindo a Suécia, a Finlândia e a Holanda, Merkel reiterou a sua oposição à ideia defendida pela França de mutualização dos empréstimos dos Estados-membros, para que todos possam beneficiar, com a garantia comum, de taxas iguais e muito menores do que as que são hoje impostas aos mais fracos.

Uma vez que não era decididamente unânime, esta ideia não podia ser mantida e, como previsto, não foi – mas... Mas as coisas mudaram muito. Para além de terem surgido convergências fortes sobre a necessidade de investimentos conjuntos, foi confirmado – facto novo –, que as euro-obrigações tinham agora a maioria dos países da UE a favor, incluindo a Grã-Bretanha, que habitualmente bloqueava tudo o que pudesse levar a uma maior integração das políticas europeias.

Um verdadeiro debate pragmático

O debate deixou de seguir as linhas de divisão habituais entre governos liberais e sociais-democratas e partidários de uma Europa das Nações e defensores do federalismo. É um verdadeiro debate, perfeitamente pragmático, sobre os melhores meios de relançar o crescimento, recuperando ao mesmo tempo os saldos orçamentais – "um debate equilibrado", comentou Merkel –, e que levou à criação de um roteiro.

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Herman van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, foi encarregado de apresentar, na cimeira de 28 de junho, um relatório sobre os passos para o "aprofundamento da união monetária" e, em particular, sobre "as eurobonds numa perspetiva de longo prazo, uma supervisão mais integrada dos bancos e um esquema comum de garantia dos depósitos bancários".

Em vez de se incompatibilizarem uns com os outros, os dirigentes europeus estão decididos a avançar para uma maior integração económica e a incluir a questão das euro-obrigações neste processo. O muito discreto e hábil Van Rompuy tem cinco semanas para passar tudo isso a música e ultrapassar as objeções dos que não aceitam que os países mais frágeis não recebam nem mais um cêntimo para investir no seu crescimento, financiando-se a taxas insustentáveis, e aqueles que temem, como Merkel, que esses países relaxem os esforços de desendividamento mal possam obter empréstimos em melhores condições.

Entre estas duas posições, o único compromisso possível foi estabelecer regras comuns mais amplas e avançar para uma maior integração. Foi isso que os dirigentes europeus decidiram tentar e, se forem bem-sucedidos, a União terá feito grandes progressos – já encostada à parede, como de costume.

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