Ainda não saímos do túnel

Os europeus têm de se resignar: os problemas fundamentais da zona euro não estão resolvidos, prevê Nouriel Roubini.

Publicado em 20 Setembro 2010 às 11:54

Em maio passado, o plano de salvamento permitiu evitar o "afundamento" imediato da Grécia e a explosão da zona euro. Mas, hoje, os diferenciais das taxas de juro encontram-se novamente no seu nível máximo. A aceleração temporária do crescimento da zona euro, no segundo trimestre, relançou os mercados financeiros mas, agora, é claro que a melhoria era passageira. Em todos os países "periféricos" da zona euro, o PIB regista uma contração (Espanha, Irlanda e Grécia) ou uma subida muito modesta (Itália e Portugal).

O próprio sucesso atual da Alemanha está repleto de obstáculos e o estímulo orçamental transformou-se em austeridade, o que poderá travar o crescimento. Além disso, as reduções das existências terminaram, tal como outras medidas de apoio à procura (como os planos de abate). O abrandamento do crescimento global – e o risco real da sua queda nos Estados Unidos e no Japão – limitará o crescimento das exportações, mesmo na Alemanha.

No que se refere aos outros países "periféricos" da zona euro, os problemas fundamentais mantêm-se: défices orçamentais e endividamentos elevados; enormes défices das contas correntes e dívidas do setor privado; perda de competitividade... É por isso que a Grécia é insolvente e a re-estruturação da sua dívida pública inevitável. É por isso que a Espanha e a Irlanda têm problemas sérios e que – apesar de ter uma situação orçamental relativamente mais sã – a própria Itália não deve poupar-se a esforços.

Zona euro em maus lençóis

Uma vez que a austeridade orçamental implica mais pressões recessivas e deflacionistas a curto prazo, a Alemanha deveria compensá-las com mais relançamento monetário e com o relançamento da procura interna, através do adiamento das suas medidas de austeridade. Contudo, nem o BCE nem o Governo alemão querem ouvir falar em tal e esperam que os bons resultados do PIB sejam confirmados.

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O resto da zona euro não está em muito melhor situação. Em França, os desempenhos económicos são no mínimo anémicos. O desemprego ultrapassa os 9%, o défice orçamental situa-se nos 8% do PIB (superior ao de Itália) e o endividamento público está em alta acentuada. Nicolas Sarkozy chegou ao poder apregoando reformas estruturais. Agora, está enfraquecido, incluindo no seu próprio partido, e perdeu as eleições regionais em proveito da esquerda (o único caso de uma derrapagem para a esquerda na Europa). Nas próximas eleições presidenciais de 2012, Nicolas Sarkozy irá enfrentar um desafio real face ao candidato do Partido Socialista – sem dúvida Dominique Strauss-Kahn – e o mais provável é que venha a adiar as suas medidas de austeridade orçamental, lançando apenas algumas reformas menores.

O primeiro-ministro belga, Yves Leterme, parece incapaz de manter a unidade do seu próprio país. E até Angela Merkel viu a sua posição enfraquecida dentro da coligação. Outros dirigentes enfrentam uma oposição política dura: em Itália, Silvio Berlusconi, que se pode esperar venha a abandonar rapidamente o poder, Zapatero em Espanha e Georges Papandréou na Grécia. E a tendência para o nacionalismo e para o nativismo na Europa traduz-se por uma reação muito violenta contra a imigração, pelo aumento da fobia contra o Islão e pela subida da extrema-direita.

Portanto, a zona euro – que precisa de austeridade orçamental, de reformas estruturais e de políticas macroeconómicas e financeiras adequadas – está enfraquecida. É por isso que, em minha opinião, a zona euro irá, na melhor das hipóteses, atravessar os próximos anos de uma maneira difícil. Na pior das hipóteses, irá desmoronar-se.

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