Se as montanhas por vezes são dadas a parir um rato, as mulheres apenas dão vida a querubins. Dedos minúsculos, pele de pêssego e três cabelos no cocuruto: quando os jovens pais o seguram nos braços, esse “petit bout de chou”(rebentinho de couve) torna-se o maior dos tesouros. Os italianos, crédulos, recolhem os filhos pela fresca, numa horta, cobertos de orvalho: “I bambini nascono sotto i cavoli” (as crianças nascem debaixo das couves). Um grande bem-haja à Mãe Natureza! Esta engraçada associação florícola viajou para os jardins de França, onde se diz que as raparigas nascem “dans les roses” (dentro das rosas).
Passando à fauna, o mito da cegonha deu a volta aos campos linguísticos europeus. Na Alemanha, a ave vampiriza a futura mamã para a fecundar (“Vom Storch gebissen”, mordida pela cegonha). Mas em geral, é uma distribuidora de criancinhas mais ou menos atenta e eficiente, que tem a sua sede para Portugal… em Paris.
Numa versão mais terra a terra, os espanhóis, não se deixam embalar: “tener un bombo”, ter um barrigão, evoca um ventre do tamanho de um grande bombo, saído directamente de uma fanfarra. E porque mexe, cresce e faz barulho como um brioche no forno (que é o ventre da mamã), vêm os ingleses com esta doçura: “to have a bun in the oven” (ter um pão doce no forno); os alentados alemães não aceitam ficar por umas migalhas e apostam num naco de carne: “einen Braten in der Röhre haben” (ter um assado no forno).
Noutra expressão francesa, guarda-se o segredo, às vezes o drama, mas sempre a surpresa, porque “avoir un polichinelle dans le tiroir” (ter um polichinelo na gaveta) indicia que há algo que não era para ter acontecido na altura e alguém ficou “en cloque” (em bolha) mais cedo do que se esperava. Os portugueses partem logo para a festa e põem a grávida a “andar de balão”.
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Mas a viagem pelo universo – um pouco disforme – da maternidade vale a pena. Porque, uma vez trazida a criança à Terra, faz-se luz: “dare alla luce”, declaram os italianos; dar à luz, confirmam os portugueses.
A tagarelice poliglota cessa então e, perante o silêncio atónito dos recentes pais, cresce um chilreado que sobe do berço.
É a confirmação de uma mamã que se viu “de esperanças”!
Jane Mery